Europa recebe maior número de pedidos de asilo desde crise migratória de 2015
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O número de pedidos de asilo na Europa em agosto atingiu o recorde em sete anos, informou a União Europeia nesta quarta-feira (9). Cerca de 84.500 pessoas apresentaram formulários ao bloco para morar de forma definitiva no continente, um aumento de 16% em relação ao mês anterior.
Afegãos e sírios ainda são as maiores porcentagens de nacionalidades que buscam refúgio na Europa, cerca de 30%. Desde agosto do ano passado, o Afeganistão é governado pelo Talibã, grupo fundamentalista islâmico responsável por perseguir e matar opositores, além de suprimir direitos das mulheres. Já a Síria sofre com a guerra civil em curso no país desde 2011.
Também foram registrados aumentos de solicitações de pessoas vindo da Índia, Bangladesh, Marrocos e Turquia. Segundo a Agência de Asilo da União Europeia, órgão responsável por protocolar os pedidos, 4.600 turcos se inscreveram para o asilo no continente europeu, o maior número desde 2014. Já os requerimentos de paquistaneses, tunisinos e georgianos, nacionalidades que geralmente também estão entre as principais na lista, mantiveram-se constantes.
O número de candidaturas registradas em agosto corresponde a cerca de metade do número observado entre setembro e novembro de 2015, quando a Europa viveu o ápice da crise migratória, desencadeada pela chegada de milhares de refugiados de países da África e do Oriente Médio.
Assim como na época, aponta a EU, as nações dos Bálcãs são atualmente as principais portas de entrada para os refugiados no continente. A presença de sírios nessa rota, por exemplo, dobrou entre abril e agosto deste ano.
Paralelamente, a Europa continua recebendo pelo leste europeu milhões de ucranianos que fogem da invasão russa no país. Nesse caso, porém, a maiorias dos requerimentos são feitos por meio de um sistema que garante a estadia temporária dos refugiados no continente -apenas em agosto, foram 255 mil inscrições do tipo, sendo quase todas de ucranianos.
Segundo a ONU, quase 8 milhões de pessoas entraram na Europa fugindo da Guerra da Ucrânia desde 24 de fevereiro. Desses, cerca de 4,7 milhões conseguiram proteção temporária por parte da União Europeia.
Os números, de certa forma, dialogam com análises sobre a aceitação de refugiados ao redor do mundo. Ainda em julho, uma pesquisa que ouviu mais de 20 mil pessoas em 28 países apontou que refugiados ucranianos são muito mais aceitos pelas nações de acolhida do que afegãos, sírios e os que fogem de desastres humanitários em outros lugares do mundo.
De acordo com o levantamento, realizado pelo instituto de pesquisa Ipsos, 54% dos entrevistados afirmaram apoiar que seu país receba refugiados ucranianos, e apenas 15% se disseram contrários. Quando o tópico era afegão e sírios, por outro lado, a aceitação foi de apenas 30% e 32%, respectivamente.
A divulgação dos números nesta quarta acontece quando ao menos 200 imigrantes estão presos em um navio no mar Mediterrâneo, há duas semanas, esperando a autorização do governo italiano para desembarcar na Sicília -o que já foi descartado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
O navio, de propriedade de uma ONG de resgate de refugiados, segue agora para a costa da França, onde espera receber autorização para atracar em algum porto do país. Não é certo, porém, que isso ocorrerá. Nesta quarta, o porta-voz do governo francês disse que "as regras europeias são muito claras" e que o navio precisa ser recebido pela Itália, já que se encontra em águas territoriais italianas.