França esbraveja com Itália por recusar imigrantes e estremece laços diplomáticos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A recusa da Itália em receber um navio de imigrantes provocou uma rusga diplomática entre o país e a França. Isso porque a embarcação, que levava a bordo mais de 200 pessoas resgatadas por uma ONG, acabou rumando para o porto militar de Toulon depois de ficar dias à deriva na costa italiana, impedido de atracar.
A atitude de Roma -que acaba de eleger uma primeira-ministra fortemente anti-imigração, a ultradireitista Giorgia Meloni-, foi qualificada de "egoísta" e "incompreensível" por Paris. "Não há dúvidas de que ele [o barco] estava na zona de busca e resgate italiana. A França lamenta profundamente que a Itália tenha optado por não se comportar como um Estado europeu responsável", disse o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, acrescentando que o incidente trará "consequências sérias para a relação bilateral entre as duas nações".
Uma delas já foi antecipada -o governo de Emmanuel Macron voltou atrás e retirou sua oferta de acolher 3.000 imigrantes recém-chegados à Itália. Ele também promoverá um reforço dos controles de fronteira entre os dois países europeus.
A questão da imigração dentro das fronteiras da União Europeia, bloco baseado no livre trânsito livre de pessoas, entre outros, tem sido uma fonte de tensão entre as nações que compõem o bloco por anos. Mas a crítica dura e aberta da França à Itália desta quinta é incomum.
Paris insiste que, segundo as leis do direito marítimo internacional, Roma deveria ter permitido que o barco atracasse em um de seus portos. As autoridades italianas, por sua vez, demandam que outros membros da UE dividam com o país, uma das maiores portas de entrada para os refugiados que vêm do norte da África por via marítima do continente, a responsabilidade de acolhê-los.
O barco recusado pela Itália, o Ocean Viking, carregava 234 pessoas, 57 delas crianças. A França, que a princípio tinha permitido apenas o desembarque de três imigrantes que necessitavam de atendimento médico urgente e de um acompanhante, cedeu e abrigará cerca de um terço deles. A Alemanha recebe o outro terço, e o restante dos imigrantes será dividido entre outros países europeus.
Segundo a ONG SOS Mediterrâneo, que opera o navio, um dos passageiros apresentava uma situação instável e não reagia ao tratamento médico desde 27 de outubro, enquanto os outros estavam feridos desde que saíram da Líbia e corriam o risco de ter problemas de saúde a longo prazo e por causa da espera para receber tratamento.
O navio integrava um comboio de embarcações levando imigrantes que havia solicitado atracar na Itália esta semana -no total, eles transportavam cerca de mil passageiros. Dois dos navios desembarcaram na terça na cidade de Catânia, na Sicília, e um terceiro, menor, ganhou permissão para atracar no porto de Reggio Calábria, também no sul. Só o Ocean Viking foi recusado.