Biden e Xi buscam acalmar tensões da Guerra Fria 2.0 em 1º encontro presencial

Por THIAGO AMÂNCIO

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o dirigente chinês, Xi Jinping, se reuniram presencialmente pela primeira vez desde a eleição do democrata nesta segunda-feira (14), em Bali, na Indonésia -antes, eles só se haviam se falado por videoconferência.

O encontro durou cerca de três horas. No encontro, reforçaram o compromisso de manter aberta uma linha de comunicação direta entre eles, em um esforço para diminuir as tensões crescentes entre as duas nações nos últimos anos, e discutiram desafios globais como a crise climática e a Guerra da Ucrânia, que opõe as duas nações.

Antes da reunião a portas fechadas, os dois líderes posaram para a imprensa com um caloroso aperto de mão. Biden afirmou que as duas principais potências globais têm a responsabilidade de mostrar ao mundo que são capazes de lidar com as próprias diferenças, impedindo que a competição entre elas se transforme em um conflito. Ele acrescentou que espera colaborar com a nação asiática para solucionar questões globais urgentes, como as mudanças climáticas e a insegurança alimentar.

Xi, por sua vez, concordou que a relação entre os dois países não estava à altura das expectativas e que seu curso precisava ser corrigido por meio de um trabalho em conjunto entre os dois governantes. "O mundo espera que a China e os EUA lidem da maneira certa com essa relação", disse.

A reunião, que pôs frente a frente os responsáveis pelas duas principais potências globais, antagonistas do que alguns chamam de uma espécie de nova Guerra Fria, serviu como uma prévia da cúpula do G20 que começa nesta terça (15) no Sudeste Asiático.

O interesse pelo evento foi potencializado pela elevação, nos últimos meses, das tensões diplomáticas entre Pequim e Washington, que perpassam diferentes temas.

Nota da Casa Branca, porém, marcou território ao fazer questão de claro que "Biden explicou que os EUA continuarão a competir vigorosamente com a China". Por outro lado, o texto diz que o presidente "reiterou que essa competição não deve resultar em conflito" e que os dois países "devem administrar a competição com responsabilidade e manter linhas de comunicação abertas."

Segundo a Casa Branca, Biden afirmou que os dois países devem trabalhar juntos para enfrentar desafios mundiais como crise climática, estabilidade macroeconômica global, alívio da dívida e segurança sanitária e alimentar. Os dois líderes teriam concordado em aprofundar esforços nessas e outras áreas, diz a Casa Branca.

O governo americano afirma que Biden "levantou preocupações sobre as práticas da China em Xinjiang, Tibete e Hong Kong e direitos humanos de forma mais ampla". Este é um dos pontos mais delicados nas relações entre os dois países. EUA e entidades internacionais acusam o regime chinês de violar direitos humanos da minoria étnica muçulmana uigur na região de Xinjiang, no oeste do país, em campos de reeducação e até de trabalho forçado -o que o governo chinês nega.

O Tibete é outro ponto polêmico, mas cujo debate internacional está adormecido ao menos desde 2008. A região conquistou autonomia do império chinês no começo do século passado, mas foi reanexada por Pequim em 1951 após a revolução comunista, que dissolveu ao longo das últimas décadas qualquer dissidência. Hoje até tem um "governo do exílio" baseado na Índia, sem qualquer representatividade.

Por fim, Hong Kong figura como o exemplo mais recente do braço forte de Pequim. Devolvida pelo Reino Unido há 25 anos, o regime comunista não respeitou o acordo que daria autonomia à região por cinco décadas e sufocou dissidentes políticos.

Biden também teria exposto preocupação com a estabilidade em Taiwan, território que na prática tem autonomia na prática desde que nacionalistas fugiram para lá durante a revolução comunista, com governo e moedas próprios, mas que Pequim considera uma província rebelde e promete reanexar. "Ele levantou objeções dos EUA às ações coercitivas e cada vez mais agressivas da China em relação a Taiwan, que prejudicam a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e na região mais ampla e comprometem a prosperidade global", diz o comunicado da Casa Branca.

Segundo o governo americano, Biden também teria questionado "as práticas econômicas não comerciais da China, que prejudicam trabalhadores e famílias americanas e trabalhadores e famílias em todo o mundo", em referência a subsídios oferecidos pelo regime chinês e barreiras alfandegárias a produtos do exterior. Biden ainda teria citado cidadãos americanos detidos no país.

A boa notícia é que os dois líderes "reiteraram seu acordo de que uma guerra nuclear nunca deve ser travada" e ambos concordaram que armas do tipo não podem ser usadas na Guerra da Ucrânia. Xi tem se mostrado um aliado de primeira hora do russo Vladimir Putin, enquanto Biden lidera os esforços de apoio a Kiev -ainda que venha fazendo acenos ao Kremlin, pedindo nos bastidores para que Volodimir Zelenski aceite a ideia de uma negociação.