Viagem de Lula aos EUA deve ficar para depois da posse, diz Celso Amorim

Por NATHALIA GARCIA E RENATO MACHADO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A viagem do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos Estados Unidos para um encontro com o presidente Joe Biden deve ficar para depois da posse, agendada para 1º de janeiro de 2023, informou nesta segunda-feira (5) o ex-chanceler Celso Amorim.

Principal conselheiro de Lula para a política externa, o ex-ministro participou do encontro de Lula com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan.

"O presidente comentou a situação interna, negociações diversas que ainda estão ocorrendo e disse que talvez não desse [para ir aos EUA antes de assumir]. Não disse não, mas que talvez não desse. Valorizou muito o fato de o convite ter sido feito dessa maneira, mas que talvez não desse para estar lá antes da posse", afirmou Amorim. "Ele acha que dá para ir logo no início do ano [2023] também, já numa visita oficial como presidente."

Sullivan viajou ao Brasil para fazer o convite a Lula e discutir "desafios comuns" aos dois países, incluindo crise climática, segurança alimentar, democracia e imigração.

Segundo relato de Amorim, a conversa de Lula com o representante de Biden foi "muito ampla, incluindo temas regionais, globais e mundiais".

A pacificação do Haiti foi um dos temas contemplados. Segundo o ex-chanceler, tanto Lula quanto Sullivan demonstraram preocupação com a situação do país, mas o conselheiro americano não fez nenhum pedido especial ao futuro governo brasileiro.

"O próprio presidente [eleito] Lula lembrou o empenho que o Brasil teve no passado na questão do Haiti, enfrentando às vezes até oposição interna. E a preocupação que ele tem porque a situação atual aparentemente é muito pior que há 14, 15 anos", comentou. Os militares brasileiros participaram da missão da ONU no Haiti de 2004 a 2017.

A crise na Venezuela foi outro assunto em pauta. Para os americanos, é fundamental que haja uma eleição que seja considerada justa no país venezuelano. Lula, por sua vez, falou da importância de se reconhecer realidades, lembrou experiências do passado e pregou o diálogo.

A reunião contou também com a presença do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), integrante do grupo técnico de economia da transição e cotado para assumir o Ministério da Fazenda, e o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Do lado americano, também estiveram no encontro o diretor-sênior para o hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional Juan González, que cuida de assuntos ligados à América Latina, Ricardo Zúniga, secretário-adjunto de hemisfério Ocidental no Departamento de Estado e ex-cônsul em São Paulo, e o encarregado de negócios da Embaixada americana no Brasil, Douglas Koneff.

O encontro com o emissário de Biden com Lula já havia sido anunciado pelo presidente eleito na sexta-feira (2), durante entrevista a jornalistas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), onde está instalado o gabinete de transição. Na ocasião, Lula afirmou que acertaria os detalhes de sua ida aos EUA, mas que a eventual viagem só aconteceria após a sua diplomação, no dia 12.

Lula disse que queria discutir com Biden assuntos que iam do papel geopolítico do Brasil, democracia nos dois países, à guerra da Ucrânia.

"Eu acho que nós temos muita coisa para conversar, porque os EUA padecem de uma necessidade democrática tanto quanto o Brasil. O estrago que o [Donald] Trump fez na democracia americana é o mesmo que o Bolsonaro fez no Brasil", afirmou Lula na ocasião.

O presidente eleito recebeu a comitiva americana nesta segunda no hotel onde está hospedado em Brasília, durante as atividades do gabinete de transição. O encontro durou quase duas horas. Mais cedo, uma equipe do esquadrão antibomba da Polícia Federal fez uma varredura no local. Trata-se de um procedimento de rotina.

Antes de conversar com Lula, Sullivan já tinha encontrado o senador petista Jaques Wagner. Na tarde desta segunda, o representante de Biden se reunirá ainda com o almirante Flávio Rocha, secretário especial de Assuntos Estratégicos do governo Jair Bolsonaro (PL).