Forças da China e da Índia voltam a se enfrentar no Himalaia

Por IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Forças da China e da Índia voltaram a se enfrentar em uma das regiões disputadas pelas duas potências nucleares no Himalaia, cadeia de montanhas que concentra os maiores picos do planeta.

Segundo os relatos disponíveis, que estão pipocando na imprensa indiana ainda sem confirmação oficial de ambos os governos, houve feridos entre as forças rivais na região de Tawang, no leste do estado indiano de Arunachal Pradesh.

O embate ocorreu em um dos passos de montanha entre a área e a China, que reivindica todo o estado como parte do Tibete do Sul. Confirmadas as baixas, é o mais grave incidente entre os países desde que soldados se enfrentaram na fronteira na região indiana de Ladakh, em 2020.

Naquela ocasião, houve dezenas de mortos, números que variam de 24 a mais de 60, a depender da fonte. Oficialmente, foram 20 indianos e 4 chineses. Ao todo, há quase 3.500 km de fronteiras entre os dois gigantes asiáticos, lares de 2,8 bilhões dos 8 bilhões de humanos.

Diversos pontos dessas áreas são disputados em um conflito relativamente congelado desde 1962, quando Pequim derrotou Nova Déli numa guerra limitada. Até o incidente de 2020, a última morte de militares havia ocorrido em 1975.

A escaramuça ocorreu, segundo a mídia indiana, na sexta (9). O jornal Times of India fala em 6 indianos feridos e talvez o dobro de chineses, mas não é possível aferir. Blogueiros chineses apontam para um "confronto sério", por sua vez.

Desde o episódio de 2020, houve diversas tentativas de acomodação. Tanto chineses quanto indianos têm bombas atômicas, que Nova Déli desenvolveu inicialmente para ameaçar seu rival existencial, o Paquistão, retirado da outra costela da antiga Índia Britânica em 1947.

Islamabad também fez sua bomba, e ambos os países mantêm um equilíbrio no setor, com choques eventuais. Mas o Paquistão afastou-se dos Estados Unidos ao longo dos ano, tornando-se um protetorado político e militar da China, o que preocupa a Índia.

Já Pequim vê com apreensão a aproximação grande entre indianos e americanos, simbolizada na aliança do grupo anti-China Quad, que tem a participação também de Austrália e Japão e visa conter a assertividade chinesa. Nos dois últimos anos, a Índia acelerou a compra de caças franceses Rafale e remanejou seis divisões de Exército da fronteira paquistanesa para o Ladakh.

Geopoliticamente, a salada fica mais complexa no contexto da Guerra Fria 2.0 em curso com Pequim e Washington em polos rivais.

Tanto China como Índia fazem parte do Brics (com Rússia, Brasil e África do Sul), e Nova Déli mantêm uma boa relação com o Kremlin, rejeitando as sanções decorrentes da Guerra da Ucrânia e buscando bons negócios na área energética.

Ao mesmo tempo, os indianos são compradores contumazes de armas russas, o que pode mudar devido a seu embate com a China e ao temor de retaliação ocidental, num momento de grande proximidade com Washington. Já Pequim, maior aliada de Vladimir Putin, tem trocado sinalizações com o governo de Joe Biden enquanto aumenta a sinergia militar com os russos.

Do ponto de vista convencional, China (2 milhões de soldados) e Índia (1,4 milhão) têm os dois maiores efetivos militares do mundo. Chineses tiveram em 2021 o segundo maior orçamento de defesa do mundo, atrás dos EUA, e indianos ficaram em quarto, quase empatados com os britânicos, em terceiro.