Presidente do Parlamento Europeu promete reformas após escândalo de corrupção com o Qatar

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse aos líderes da União Europeia, nesta quinta-feira (15), que vai liderar reformas de fiscalização para evitar mais escândalos de corrupção no órgão. Na semana passada, a Justiça belga anunciou a prisão de quatro pessoas suspeitas de receber propinas do Qatar em troca de garantir influência do país do Golfo no bloco.

Aos 27 chefes de governo da UE, Metsola disse que o esquema revelado mostra que "pessoas ligadas a governos autocráticos" estariam tentando subverter a democracia do continente. A declaração foi feita em uma cúpula do bloco em Bruxelas.

Apesar da promessa de reformas, a presidente disse que sempre haverá pessoas "para quem um saco de dinheiro sempre vale o risco". "É fundamental que essas pessoas entendam que serão apanhadas. Que haverá consequências. Que nossos serviços funcionam e que eles enfrentarão toda a extensão da lei", acrescentou.

Horas depois, Metsola disse em uma entrevista coletiva que o Parlamento vai investigar quem pode entrar em suas instalações, além de organizações não governamentais listadas em seu registro. Ainda segundo ela, a Casa já desmantelou o No Peace Without Justice, ONG italiana cujo secretário-geral, Niccolo Figa-Talamanca, é um dos acusados de corrupção e lavagem de dinheiro no caso.

A organização, por sua vez, disse que Figa-Talamanca abandonou o cargo para proteger a organização, mas que confia que a investigação mostrará que ele agiu corretamente.

Na terça (13), o Parlamento destituiu a eurodeputada grega Eva Kaili do cargo de vice-presidente por 625 votos a 1 -além de 2 abstenções. Ela foi presa na semana passada, acusada de receber propinas do Qatar.

Um dos focos da investigação é uma empresa imobiliária recém-criada junto a um italiano pela eurodeputada no bairro de Kolonaki, uma área luxuosa em Atenas -seu companheiro também é investigado.

No fim de semana, o Parlamento Europeu já havia suspendido Kaili de suas funções na Casa, e seu partido, o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), disse que a expulsaria de suas fileiras.

Kaili nega as acusações. Seu advogado, Michalis Dimitrakopoulos, disse na terça que a eurodeputada se sentia traída pelos colegas, "que fazem parecer que ela tinha uma agenda pessoal com o Qatar com base em suposições de que ela aceitou propinas".

Uma das atribuições de Kaili como vice-presidente era representar a presidente do Parlamento. Em novembro, ao visitar o país-sede da Copa, ela parabenizou o ministro do Trabalho por reformas e disse que o Qatar é um líder no setor. As legislações trabalhistas do país, porém, são alvo de críticas e denúncias de violações por parte de organizações de direitos humanos.

O escândalo, em alguma medida, pode afetar a relação entre o bloco e o Qatar --que, com a Guerra da Ucrânia, tornou-se opção para o fornecimento de gás; no mês passado, Doha fechou um acordo com a Alemanha por ao menos 15 anos.

Durante a cúpula desta quinta, aliás, o presidente da França, Emmanuel Macron, foi questionado sobre sua visita ao país do Oriente Médio no dia anterior para assistir ao jogo da seleção francesa pelas semifinais da Copa do Mundo. "Assumo completamente", declarou. "Há quatro anos estive com a seleção na Rússia e, agora, estou com eles no Qatar".

Ele, porém, reconheceu a gravidade das suspeitas e elogiou o que chamou de transparência das investigações. "Temos que conhecer os fatos, entender quem está envolvido e depois tomar as medidas apropriadas", disse.