George Santos, deputado eleito nos EUA, confessou ter cometido estelionato no Brasil
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O republicano George Santos, 34, filho de pais brasileiros eleito deputado nos Estados Unidos em novembro, confessou ter cometido estelionato em Niterói (RJ) em 2008. A confissão ocorreu em depoimento à Polícia Civil, dois anos depois de ele ter virado réu pelo crime.
Santos foi acusado pelo vendedor de uma loja de roupas de se passar por "Délio" e pagar R$ 2.144 com dois cheques sem fundo de R$ 1.072, nos valores da época. A informação foi publicada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha no processo junto ao Tribunal de Justiça fluminense.
Délio era um homem de 82 anos para quem a mãe de Santos, então aos 19 anos, trabalhava como enfermeira. Ela disse que estava com o talão porque o paciente lhe pediu que o devolvesse ao banco, uma vez que a conta estava fechada havia muito tempo.
Mais de dois anos depois do caso, em novembro de 2010, o acusado admitiu na 77ª delegacia (Icaraí) ter furtado os cheques da bolsa da mãe. O agora deputado, então, teria assinado os cheques e se passado pelo idoso, que àquela altura já havia morrido. Mesmo assim, como depois ele nunca foi localizado, o processo acabou sendo suspenso.
George Anthony Devolder Santos virou alvo de uma série de questionamentos desde a última segunda-feira (19), quando o jornal americano The New York Times publicou uma reportagem acusando o deputado eleito por Nova York de ter mentido em diversos pontos de seu currículo.
Desde então, o político ainda não explicou as divergências sobre seu passado e suas finanças. A Folha tentou entrar em contato com ele pelas redes sociais, mas não teve resposta. Nesta quinta (22), ele rompeu o silêncio e prometeu que vai abordar as dúvidas em relação a seu currículo na semana que vem.
"Tenho minha história para contar e ela vai ser contada na semana que vem. Quero garantir a todos que vou abordar suas dúvidas e que continuo comprometido em entregar os resultados que prometi em minha campanha", escreveu em uma publicação no Twitter.
No dia em que a reportagem foi divulgada, ele apenas publicou uma nota atribuída ao seu advogado, Joseph Murray, que acusava o jornal: "Não surpreende que o congressista eleito George Santos tenha inimigos no New York Times que tentam sujar seu nome com essas declarações difamatórias".
Na quarta (21), o futuro líder da minoria na Câmara, o democrata Hakeem Jeffries, ironizou que Santos estaria no "programa de proteção a testemunhas", depois de o deputado evitar a imprensa durante a semana. "Ninguém consegue encontrá-lo", disse Jeffries. "Eles está se escondendo para não responder a questões legítimas que seus eleitores estão levantando sobre sua formação, sua suposta filantropia, sobre, aparentemente, todos os aspectos da vida dele."
Na quarta, The Forward, uma publicação judaica, noticiou que Santos também pode ter mentido para eleitores sobre seus ancestrais judaicos e ao dizer que sua avó materna teria fugido de perseguição durante a Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, o processo que corre contra ele teve início porque o vendedor da loja de roupas desconfiou de Santos. Ele contou à polícia que, assim que o cliente saiu da loja, resolveu ligar para os três números de telefone escritos no verso dos cheques, bem como ir ao endereço registrado, mas não conseguiu contato.
Dias depois, um homem que se identificou como Thiago foi ao estabelecimento para trocar um tênis que havia recebido de presente. O vendedor percebeu que aquele era o calçado que havia vendido para o suposto "Délio" e decidiu segui-lo.
Descobriu então que Thiago trabalhava em uma loja próxima e, fazendo uma pesquisa no Orkut, rede social bastante popular à época, reconheceu o comprador em um perfil com outro nome, "Anthony Devolder". Imprimiu fotos do suspeito e fez o boletim de ocorrência na delegacia, que abriu o inquérito.
Em novo depoimento dado um ano depois do caso, em agosto de 2009, o vendedor afirmou que Santos chegou a procurá-lo pelo Orkut diversas vezes prometendo ressarcir o prejuízo em parcelas, mas que nunca pagou nem tampouco voltou a dar as caras.
Segundo o New York Times, o período no Brasil corresponde, em parte, à época em que Santos disse que estava estudando economia e finanças no Baruch College, que não encontrou registros de sua formatura em 2010.
Em junho do ano seguinte, o delegado Mário Luiz da Silva, então titular da 77ª DP, concluiu o inquérito, indiciando George Santos por estelionato e pedindo sua prisão preventiva, depois negada pela Justiça.
Dez dias depois, o Ministério Público o denunciou pelo crime e, em setembro daquele ano, a 2ª Vara Criminal de Niterói deu início ao processo. Santos, no entanto, nunca foi encontrado e, em dezembro de 2013, acolhendo pedido do MP, a mesma vara determinou a suspensão do processo, que pode ser retomado quando ele for encontrado ou constituir um advogado para representá-lo.