Colômbia acerta cessar-fogo com guerrilha ELN e outros grupos armados

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Colômbia acertou um cessar-fogo de seis meses com os cinco principais grupos armados do país, anunciou o presidente Gustavo Petro na noite de sábado (31), madrugada de domingo no Brasil.

"Temos um acordo com o ELN [Exército de Libertação Nacional], a Segunda Marquetalia, o Estado Maior Central, as AGC [Autodefesas Unidas da Colômbia, na sigla em espanhol], e as Autodefesas de Serra Nevada a partir de 1º de janeiro até o dia 30 de junho, prorrogável de acordo com os avanços nas negociações", afirmou o líder colombiano em uma postagem no Twitter na véspera do Ano-Novo.

Petro, o primeiro presidente de esquerda do país e ex-guerrilheiro, prometeu acabar com o conflito civil na nação andina, que já dura quase seis décadas e deixou pelo menos 450 mil mortos entre 1985 e 2018.

Assim, a trégua bilateral era o principal objetivo traçado pelo governo como parte de sua política de "paz total", por meio da qual pretende acabar com o conflito armado que persiste mesmo com a dissolução, em 2017, da poderosa guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

"Trata-se de um ato ousado", escreveu o presidente, também na rede social. "O cessar-fogo obriga os grupos armados e o Estado a respeitá-lo. Haverá um mecanismo de verificação nacional e internacional."

O ELN, última insurgência reconhecida no país, negocia com o governo desde novembro. No início de dezembro, a guerrilha declarou um cessar-fogo unilateral de nove dias durante o período de Natal e completou um primeiro ciclo de diálogos de paz entre as duas partes na capital venezuelana, Caracas.

Já os grupos Segunda Marquetalia e Estado Maior Central -que se afastaram do pacto de paz firmado pelas Farc- mantinham "diálogos exploratórios" separadamente com representantes de Petro.

As AGC, por sua vez, lideradas no passado pelo capo Otoniel, extraditado aos Estados Unidos, são o maior grupo de narcotraficantes da Colômbia. Assim como as Autodefesas de Serra Nevada, são formadas por remanescentes dos paramilitares de extrema direita que se desmobilizaram no início dos anos 2000.

Todos esses grupos somam mais de 10 mil homens armados, envolvidos em disputas pelo controle do narcotráfico e de outros negócios ilícitos no maior produtor mundial de cocaína, de acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), um centro de pesquisa independente.

O governo oferece um "tratamento benevolente do ponto de vista judicial em troca da entrega de bens, do desmantelamento das organizações e da possibilidade de que deixem de exercer essas atividades ilícitas", disse recentemente o senador Iván Cepeda, aliado de Petro, à agência de notícias AFP.

Apesar dos avanços nos diálogos com os diferentes grupos armados, o governo até agora não conseguiu conter a espiral de violência que envolve o país. O Indepaz registrou quase cem massacres em 2022.