Dezenas morrem em onda de frio no Afeganistão, que vê crise humanitária se agravar

Por Folhapress

GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - O frio intenso observado em porções da Ásia tem agravado a crise humanitária que se desenrola no Afeganistão desde o retorno do grupo fundamentalista Talibã ao poder. Somente na última quinzena, ao menos 124 pessoas morreram devido às temperaturas.

A situação tem potencial para agravar também a crise econômica e a fome. Segundo disse um porta-voz do Ministério de Gerenciamento de Desastres do Estado à rede BBC nesta terça (24), 70 mil cabeças de gado foram perdidas em meio à queda brusca nas temperaturas.

O inverno é o mais frio no país da Ásia Central em pelo menos 15 anos, com temperaturas de -34°C. À agência afegã Tolo News autoridades do regime talibã disseram que a pobreza e o desemprego são as principais causas do número de vítimas durante a estação mais fria do ano, e moradores relatam que é mais difícil encontrar trabalho nesse período.

Mas outro fator, esse uma consequência direta de ordens do grupo fundamentalista, piora a situação. Organizações sociais antes baseadas em território afegão e fonte importante no fornecimento de atenção e suprimentos à população têm agora debandado do país.

Newsletter Lá fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo; aberta para não assinantes. *** O movimento se dá após um decreto talibã em dezembro passado proibir que mulheres trabalhem em ONGs no país. O grupo alega que elas estão descumprindo regras de vestimenta islâmica. Antes disso, o regime já havia proibido mulheres de frequentarem universidades.

À BBC Mohammad Abbas Akhund, ministro de Gerenciamento de Desastres, afirmou que muitas áreas estavam completamente isoladas pela neve, e que helicópteros militares foram enviados para resgatar a população, mas não conseguiram poucas em regiões mais montanhosas.

"A maioria dos que perderam suas vidas por causa do frio era formada por pastores e moradores de áreas rurais, eles não tinham acesso a cuidados de saúde", disse ele. Segundo dados das Nações Unidas, ao menos 25 milhões de afegãos dependem de ajuda humanitária para sobreviver -o país tem cerca de 40 milhões de habitantes atualmente.

A ONU tem tentado negociar com autoridades do regime para que concessões sejam cedidas para que mulheres atuem em ONGs. Segundo disse à agência Reuters Martin Griffiths, subsecretário de Assuntos Humanitários, autorizações do tipo já foram dadas para organizações de saúde e educação.

O objetivo das Nações Unidas, no entanto, é mediar uma saída que também permita que mulheres atuem em ONGs que trabalham com temas como nutrição e saneamento, para ajudar na prevenção de doenças graves e de desnutrição entre a população afegã.

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários disse na última semana que as restrições estão dificultando os esforços para entregar ajuda. "Parceiros humanitários estão fornecendo apoio às famílias, como aquecedores, dinheiro para combustível e roupas quentes, mas as distribuições foram severamente afetadas pela proibição de trabalhadoras humanitárias em ONGs."

No início do inverno, profissionais de saúde relataram um aumento expressivo no número de crianças com casos graves de pneumonia e outras doenças respiratórias, em parte devido ao agravamento da pobreza que afetou as possibilidades de aquecimento dentro das casas.