China prepara nas Duas Sessões reviravolta em economia e tecnologia
TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - Com as atenções voltadas para a meta de crescimento de 2023 e a nova equipe econômica, começa neste domingo (5) em Pequim o Congresso Nacional do Povo, reunião legislativa anual que deve durar dez dias.
As decisões mais significativas serão anunciadas ao final. O evento também costuma ser chamado de Duas Sessões, porque, paralelamente ao congresso, também se reúne, desta vez neste sábado (4), a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Veículos chineses e ocidentais procuraram adiantar o percentual da meta de crescimento e os integrantes do gabinete, ouvindo fontes de governo e mercado.
A meta serve para balisar investimentos no país, inclusive estrangeiros. Caixin e Bloomberg arriscam um percentual acima de 5%, com a primeira citando como referência a meta média de crescimento das províncias chinesas, de 5,6%. A Reuters fala em até 6%. O South China Morning Post, ao menos 6%.
A expectativa é mais positiva do que no final do ano passado, quando assessores do governo teriam chegado a recomendar 4,5% de meta. A razão maior para a mudança foi o fim das restrições da política de Covid zero, no início de dezembro.
Nesta semana, reforçando a tendência, foi confirmada a recuperação rápida da indústria chinesa em fevereiro, tanto por parte do Escritório Nacional de Estatística quanto pelo índice privado Caixin/S&P. Com isso, deve diminuir a necessidade de estímulo governamental pós-pandemia, aliviando as contas públicas.
Quanto ao gabinete, a expectativa para o congresso é de concentração ainda maior do poder sobre a área econômica no secretário-geral do Partido Comunista, Xi Jinping. Ele terá nas Duas Sessões a formalização de seu terceiro mandato à frente do país. O premiê, como se espera desde o congresso do PC em outubro, deverá ser Li Qiang, ex-secretário-geral da sigla em Xangai, um dos centros industriais e financeiros da China. Lá, viabilizou a gigafábrica da Tesla, de Elon Musk, e foi próximo de Jack Ma, do Alibaba.
É visto como liberal na economia e muito ligado a Xi, com quem trabalhou quando ambos cumpriam outras funções. A reação inicial negativa a seu nome, no mercado financeiro, reverteu-se com a avaliação de que levará ao governo central as ações de Xangai em favor da iniciativa privada.
A ligação com Xi agora é tratada como sinal de capacidade maior de influência, diferentemente do primeiro-ministro atual, Li Keqiang, de outra ala do PC. Houve revisão também de seu papel no lockdown de Xangai, de dois meses, que ajudou a derrubar o crescimento do país para 3% no ano passado.
A visão predominante agora, ao menos aquela que ecoa nos veículos financeiros ocidentais, é que ele estava cumprindo ordens de Xi e que posteriormente, a partir da experiência em Xangai, convenceu-o a acelerar o fim da Covid Zero. No último dia 16, Xi declarou "vitória" sobre o vírus.
Outros dois nomes centrais esperados para o gabinete, com impacto sobre a administração financeira, são He Lifeng como vice-primeiro-ministro, visto como menos tecnocrata do que o atual, e Zhu Hexin para o Banco Central, um executivo de banco. A troca de guarda na equipe econômica é seguida de perto, porque em discurso no início desta semana Xi voltou a falar em reforma do setor financeiro e adiantou maior controle sobre o setor de ciência e tecnologia, sob pressão crescente do governo americano.
Significativamente, alguns dos nomes dos gigantes chineses de internet ficaram de fora das listas de participantes do congresso e da conferência consultiva, inclusive os CEOs de Tencent, Baidu e NetEase. No lugar, entraram outros, ligados a semicondutores e inteligência artificial.