Tribunal da Argentina que condenou Cristina Kirchner a acusa de corrupção estatal
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O tribunal que condenou Cristina Kirchner, atual vice-presidente da Argentina, a seis anos de prisão e que determinou sua inabilitação perpétua para exercer cargos públicos, em decisão proferida há três meses, divulgou nesta quinta-feira (9) os argumentos que fundamentaram o veredicto da Justiça.
Segundo um documento de mais de 1.600 páginas sobre o caso da peronista, Cristina cometeu atos de corrupção estatal. A corte entendeu que as manobras da líder argentina para conceder contratos de obras públicas ao empresário Lázaro Báez tinham como objetivo beneficiar a ela e a Néstor Kirchner.
De acordo com os cálculos divulgados pelo tribunal, o caso de corrupção gerou um prejuízo ao Estado argentino no valor de US$ 407 milhões (cerca de R$ 2 bilhões). "Ainda que sem uma sociedade formal, o lucro que [Cristina] Fernández de Kirchner obtinha graças a Báez é mais do que suficiente para provar a existência da operação corrupta", escreveram os magistrados, segundo relatos do jornal local La Nación.
"Estamos diante de um ato de corrupção estatal que mina a legitimidade das instituições públicas, atenta contra a sociedade, a ordem moral e a Justiça, assim como o desenvolvimento integral dos povos", seguiram os juízes no documento agora disponível ao público.
O veredicto da condenação de Cristina foi divulgado no início de dezembro passado no caso que ficou conhecido como "Causa Vialidad". O Ministério Público Fiscal a acusa de ter liderado uma "extraordinária matriz de corrupção" para desvio de verbas na forma de concessões de obras públicas na província de Santa Cruz à empresa de um amigo da família Kirchner, o empresário Lázaro Báez.
A vice-presidente acusa a Justiça argentina de ser parcial e de aplicar uma tática de lawfare -uso da lei para perseguição política. Ela ainda não comentou o desenrolar do caso nesta quinta-feira. Sua defesa, uma vez que já foram publicados os argumentos dos magistrados, poderá agora recorrer da decisão.
O presidente Alberto Fernández também fez duras críticas à Justiça recentemente, no mesmo dia em que um apagão deixou 40% da população argentina sem energia elétrica.
Para esta sexta-feira (10) é esperado um grande ato em Río Negro, na porção sul do país. Ali, Cristina deve dar a primeira declaração pública após o anúncio. Ela participa de um evento na Universidade de Rio Negro, que vai condecorar a vice de Fernández com um título de doutora honoris causa. Cristina também dará uma conferência sobre a fragmentação política argentina e a crise econômica no país, lastimado pela alta e crônica inflação.