Homem que acusou George Santos nega ter torturado criança
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O homem que acusou o deputado americano George Santos de liderar uma quadrilha de fraude bancária e é foragido da Justiça brasileira negou que tenha torturado uma criança de 2 anos.
"Não vou admitir uma coisa que não fiz", afirmou o ex-comissário de bordo Gustavo Ribeiro Trelha sobre os supostos espancamentos.
De acordo com os autos aos quais a reportagem teve acesso, as agressões ao garoto cometidas por ele aconteceram em 2019. A informação foi revelada pela Folha de S.Paulo.
Usando um celular com código de área da Holanda, Trelha procurou a reportagem na tarde de quinta-feira (23), depois da publicação do texto.
Disse que não havia fugido para a França, conforme tinha falado seu pai, Dimorvan de Mello Trelha. Afirmou ainda que continua morando em Vitória, onde trabalha em um consórcio de imóveis e automóveis.
Durante a conversa, Trelha não ofereceu qualquer prova para desmentir o que consta dos autos do processo, que corre em segredo de Justiça no Espírito Santo.
Segundo esses documentos, o menino teve que passar por uma cirurgia de crânio depois de dar entrada na área de emergência de um hospital do estado do Rio de Janeiro, em 2019, com múltiplas fraturas cranianas e hematomas.
A mãe da criança, ex-namorada de Trelha, obteve habeas corpus depois da expedição do mandado de prisão para ambos, em fevereiro de 2022, e deve se apresentar na primeira audiência do julgamento, marcado para 24 de abril, na 2ª Vara Criminal de Vitória.
"Não sou foragido", disse Trelha. A Justiça do Espírito Santo, porém, o considera como tal. Ele afirma que estava na Europa quando um oficial de Justiça bateu à porta da casa do seu pai com um mandado de prisão expedido pela Polinter (Delegacia de Polícia Interestadual). "Não fugi, eu estava de férias em Paris."
Por que não se apresentou posteriormente para a Justiça capixaba? Trelha afirma que obteve um habeas corpus em setembro do ano passado, atribuindo a informação ao seu advogado, Leonardo Jesus de Lima. Por mais de um mês, a reportagem tentou contato, sem sucesso, com Lima.
Na quinta (23), Trelha disse que o advogado retornaria as ligações da reportagem, o que não aconteceu.
O advogado da família da vítima, Felipi Martins, responsável por boa parte da investigação que possibilitou o indiciamento dos réus, comentou as alegações de Trelha. "Não há qualquer revogação do mandado de prisão dele", diz. "Em dezembro passado, o STJ negou o habeas corpus."
"A materialidade das provas e a autoria estão comprovadas nos autos, pelas fotos e por laudos médicos," afirma Martins. "A investigação privada que fizemos foi ratificada pelo Ministério Público e pela polícia judiciária, que introduziu mais provas."
Trelha passou a ser destaque recentemente na mídia dos EUA quando o site Politico o apresentou como delator do deputado nova-iorquino George Santos, filho de brasileiros. Segundo o ex-comissário, o parlamentar tinha atuado como chefe de uma quadrilha que clonava cartões de débito e crédito.
Quem é quem no caso Trelha George Santos
Nova-iorquino filho de brasileiros, foi eleito em novembro de 2022 o primeiro deputado gay republicano eleito no estado. É investigado por disseminar uma série de mentiras durante a campanha. Em 2017, alugou um quarto em seu apartamento para Trelha
Gustavo Ribeiro Trelha
Ex-comissário de bordo, foi preso e deportado dos EUA para o Brasil por crime de fraude bancária, em 2017. Acusou Santos recentemente de ser o cabeça de uma quadrilha de clonagem de cartões. Está foragido da Justiça do Espírito Santo, acusado de ter supostamente espancado uma criança de 2 anos, em 2019.
Felipi Martins
Advogado de Niterói (RJ), contratado pela família do garoto para investigar os maus tratos sofridos por ele depois que o menino deu entrada em um hospital em São Gonçalo (RJ). Forneceu informações à Justiça que levaram ao mandado de prisão de Trelha e da mãe da criança.
Dimorvan de Mello Trelha
pai de Gustavo, é teólogo metodista e professor aposentado. Diz que só foi informado do caso de suposto espancamento quando um oficial de Justiça bateu à sua porta com um mandado de prisão para Gustavo. Acredita que o filho esteja na Europa.