EUA estão menos patriotas, menos religiosos e mais intolerantes, segundo pesquisa

Por Folhapress

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Os valores que definiam a população dos Estados Unidos no final do século passado não necessariamente correspondem aos valores que a definem agora.

É o que revela nova pesquisa do Wall Street Journal, cujos resultados foram divulgados nesta segunda, 27. O questionário foi realizado em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa de Opinião (NORC) da Universidade de Chicago, uma das maiores organizações independentes de pesquisa social dos EUA.

Segundo o estudo, temas como patriotismo, fé e a vontade de ter filhos -opiniões que já moldaram diversas gerações no país- têm hoje menos importância para os americanos do que tinham em 1998, quando o Wall Street Journal realizou a pesquisa pela primeira vez.

À época, 70% dos participantes consideravam que o patriotismo era muito importante para eles, e 62% diziam o mesmo sobre a religião. Na pesquisa deste ano, tais cifras caíram para 38% e 39%, respectivamente.

Os índices também decresceram quando são considerados tópicos como a vontade de ter filhos (de 59% para 30%) e o envolvimento com a comunidade -de 47% na pesquisa de 1998, 62% na de 2019, e 27% agora.

A única porcentagem que apresentou um ligeiro aumento está relacionada ao dinheiro, considerado muito importante para 31% dos respondentes de 1998 e para 43% dos participantes da última edição.

Para o pesquisador Bill McInturff, que trabalhou em edições anteriores dessa mesma pesquisa, realizada no passado junto ao canal NBC News, essas diferenças "dramáticas" delineiam uma América em mudança. Em entrevista ao Wall Street Journal, ele supõe que "talvez o preço de nossa divisão política, a Covid-19 e a mais baixa confiança econômica em décadas estão tendo um efeito surpreendente em nossos valores fundamentais."

O jornal destaca alguns eventos desse quarto de século que podem estar relacionados a tais mudanças, citando os ataques terroristas de 11 de Setembro, a crise financeira de 2008 e a ascensão do ex-presidente Donald Trump ao poder.

Apenas em quatro anos, por exemplo, houve um decréscimo significativo no tópico tolerância. Em 2019, o respeito pelo outro era muito importante para 80% dos americanos. Agora, essa porcentagem caiu para 58%.

As cifras ainda apresentam variações quando são considerados aspectos como idade e posicionamento político. Cerca de 59% dos idosos com 65 anos ou mais consideram o patriotismo importante, por exemplo, ante 23% dos adultos de até 30 anos. A religião é importante para 31% dos mais jovens e, simultaneamente, para 55% dos mais velhos.

Essa diferença também aparece quando o assunto é o uso de pronomes neutros -usados por pessoas que não se sentem identificadas nem com o gênero masculino, nem com o feminino. Cerca de 30% dos entrevistados com menos de 35 anos veem a prática favoravelmente, em comparação com 9% dos idosos. Contudo, no total, metade dos participantes disseram não gostar da ideia.

Demais opiniões relacionadas às pautas de costumes oscilam entre participantes democratas, republicanos ou independentes. 75% dos republicanos afirmaram que a sociedade foi longe demais ao aceitar pessoas trangêneros, enquanto 56% dos democratas esperam por mais aceitação.

Pouco mais da metade dos republicanos ainda consideram que a sociedade foi longe o suficiente -ou longe demais- com medidas que buscam promover a diversidade étnica e racial. Apenas 7% dos democratas acreditam nisso. 61% deles disseram que os esforços para a promoção da diversidade ainda não foram longe o suficiente, ante 14% dos republicanos.

A pesquisa ouviu 1.019 pessoas entre os dias 1º e 13 de março e apresenta uma margem de erro de mais ou menos 4,1 pontos percentuais. Enquanto as pesquisas prévias foram realizadas por telefone, a maioria das entrevistas dessa última edição foram feitas de forma online, o que também pode explicar parte da discrepância.

No entanto, a vice-presidente de assuntos públicos e pesquisa de mídia do NORC, Jennifer Benz, acredita que as opiniões coletadas podem também ter sido influenciadas pela perspectiva econômica pessimista que persiste na população americana. "As pessoas estão meio que para baixo com tudo sobre o país", disse ao Wall Street Journal.