Sobreviventes de atentado em show de Ariana Grande processam teórico da conspiração

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em 2017, Martin Hibbert e sua filha, Eve, sobreviveram a um atentado ao serem atingidos por uma explosão durante um show da cantora pop Ariana Grande em Manchester, no Reino Unido. O ataque deixou 23 mortos, incluindo o agressor, Salman Ramadan Abedi, e dezenas de feridos --entre eles, o pai e a filha, que desde então se locomovem com uma cadeira de rodas.

Agora, eles vão à Justiça contra o conspiracionista Richard D. Hall, que coloca suas sequelas em dúvida e tenta provar que o ataque foi forjado, na primeira ação do tipo no país.

A acusação por difamação e assédio acontece após a emissora britânica BBC investigar o caso. O conspiracionista descreve em um site e em um livro como persegue sobreviventes de atentados para saber se estão mentindo sobre seus ferimentos, além de ter admitido à BBC que espionou Eve. Procurado pela emissora, ele não se manifestou.

A reportagem levou à remoção do canal no YouTube do conspiracionista, mas ele ainda vende em seu site livros e DVDs nos quais afirma que atentados como o de Manchester foram fraudados. A família quer impedir Hall de fazer esse tipo de alegação e receber uma indenização, além de estabelecer um precedente no Reino Unido contra esse tipo de ação.

"Martin pode ser visto como um pioneiro a ser seguido por outros, se assim desejarem", afirmou à BBC o seu advogado, Neil Hudgell. Ao jornal britânico The Guardian, ele disse que vários de seus clientes foram incomodados por Hall em suas casas. "Martin e outros estão determinados a impedir que esse indivíduo continue com seu comportamento repugnante."

Segundo a BBC, o prefeito de Manchester, Andy Burnham, teve um encontro com Hibbert para discutir a ideia de uma lei que protegeria sobreviventes de atentados contra esse tipo de assédio. "É sempre difícil mudar a lei, e isso não acontece da noite para o dia", disse Burnham à emissora.

Na época do show, Eve tinha 14 anos e estava a cinco metros da dupla explosão. Na época, aquele foi o pior ataque a bomba no Reino Unido desde os atentados no transporte público de Londres, em 2005, que deixaram 52 mortos e mais de 700 feridos. O Estado Islâmico reivindicou a ação.

Em novembro, o teórico da conspiração americano Alex Jones foi condenado a pagar mais US$ 473 milhões (R$ 2,5 bi) às famílias das oito vítimas do massacre de Sandy Hook. Em outubro, a Justiça já havia determinado a indenização de US$ 965 milhões -o total agora chega a quase US$ 1,5 bi (R$ 8 bi).

Ligado à ascensão da ultradireita nos últimos anos, Jones, 48, conquistou uma audiência de milhões de pessoas como apresentador de rádio, propagando desinformação e teorias conspiratórias pelo site Infowars e pelas redes sociais. Ele também era convidado regular de podcasts e programas no YouTube.

Ele é conhecido por alegar falsamente que o assassinato de 20 alunos e 6 educadores na escola de ensino fundamental em Connecticut foi encenado pelo governo e pelos familiares das vítimas. No massacre, ocorrido pouco antes do Natal de 2012, Adam Lanza, 20, matou ainda a própria mãe antes de se suicidar.