China lidera ranking de repressão contra dissidentes no exterior, diz ONG
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O número de países que recorre a atos de violência, sequestros e deportações de cidadãos no exterior para reprimir dissidentes e vozes críticas a governos continua crescendo, afirma um relatório do centro de pesquisas Freedom House publicado nesta quinta-feira (6).
A organização sem fins lucrativos sediada em Washington com foco nos direitos políticos e nas liberdades civis, aponta no documento que 20 governos cometeram no ano passado 79 atos de "repressão transnacional" -quando Estados procuram silenciar vozes políticas dissidentes por meios como assassinatos, agressões, detenções e deportações ilegais.
Entre todos os incidentes registrados pela Freedom House, 30% são de responsabilidade da China, visando a grupos e indivíduos ativistas com diferentes táticas, como contratar investigadores particulares para obter informações restritas de exilados e até acusar seus alvos de terem cometido infrações.
Desde 2014, foram identificados 854 casos perpetrados por 38 Estados em 91 países, em episódios que descartam, por exemplo, táticas não físicas como assédio digital e coerção de familiares. Jornalistas também fazem parte desse grupo: os profissionais foram alvo de 97 incidentes, ou 11% de total de casos.
Segundo o relatório, intitulado "Still Not Safe: Transnational Repression in 2022" (na tradução, "Ainda sem Segurança: Repressão Transnacional em 2022"), esse panorama representa uma ameaça global à democracia e aos direitos humanos.
De acordo com os dados da Freedom House, China, Turquia, Rússia, Egito e Tadjiquistão continuam sendo responsáveis pelo maior conjunto de casos de repressão, respondendo juntos por 63% de todos os atos desde janeiro de 2014.
O documento menciona tentativas de pressão de Pequim sobre outros países para extraditar à força uigures, minoria majoritariamente muçulmana concentrada principalmente na região de Xinjiang. Segundo entidades de defesa dos direitos humanos, uigures são presos arbitrariamente e submetidos a práticas de trabalho forçado e doutrinação política em centros de detenção no território chinês.
A Turquia é a segunda maior responsável por casos do tipo. De acordo com o relatório, Ancara persegue e, por vezes, sequestra exilados desde a tentativa de golpe de Estado de 2016 contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, quando um grupo militar tentou tomar o poder, mas teve sua ação reprimida.
Segundo a Freedom House, o país também tentou usar o pedido de adesão da Suécia à Otan, aliança militar ocidental liderada pelos EUA, como moeda de troca para a entrega de "terroristas", como o governo de Erdogan se refere aos seus opositores exilados no exterior.
"Apesar do aumento da conscientização sobre o problema, cada vez mais governos autoritários tentam exercer controle sobre comunidades de exilados", diz Michael Abramowitz, presidente da Freedom House, órgão que é independente mas amplamente financiado pelo governo americano.
A organização recomenda que a comunidade internacional adote medidas contra esse tipo de repressão, o que inclui sanções e restrições de cooperação em questões de segurança.
Reino Unido e Estados Unidos são exemplos de avanço na discussão do problema. No entanto, os dois governos têm políticas restritivas de imigração que podem colocar em perigo as pessoas que buscam proteção. Além disso, a amplificação de governos autoritários também têm facilitado a ocorrência desse tipo de repressão, diz a publicação.