Caças da Otan interceptam aviões militares russos no mar Báltico
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Caças da Alemanha e do Reino Unido interceptaram nesta quarta (26) três aviões militares russos sobre o mar Báltico. Os aparelhos de Moscou voavam, segundo a Força Aérea alemã, com o transponder, instrumento que permite a identificação das aeronaves, desligado.
Segundo a conta do Twitter da Luftwaffe, a Aeronáutica germânica, eram dois caças Sukhoi Su-27 a escoltar um antigo avião espião Iliúchin Il-20, um dos esteios desse tipo de operação das forças de Vladimir Putin.
O incidente ocorreu sobre águas internacionais, e seguiu o protocolo: os russos foram acompanhados pelos ocidentais à distância, até irem embora. Tais encontros são uma perigosa rotina em áreas de atrito entre potências no mundo todo: Báltico, mar Negro, estreito de Taiwan, mar do Sul da China, Ártico e Alasca são cenários de interceptações quase diárias.
A situação, claro, está agravada devido à Guerra da Ucrânia. Em setembro passado, o risco ficou evidente em um incidente no mar Negro, perto do teatro de operações militares da invasão iniciada por Putin em fevereiro de 2022.
Um outro Su-27 russo quase derrubou um avião espião RC-135 britânico. O episódio foi confirmado sem detalhes à época por Londres, mas o vazamento de papéis de inteligência nos EUA trouxe a versão de que o caça de Moscou chegou a atirar contra a aeronave de Londres, mas o míssil falhou.
Um caso clássico ocorreu em 2001, aquando um caça chinês abalroou um avião espião americano no mar do Sul da China. O avião de Pequim caiu, enquanto o de Washington teve de fazer um pouso forçado em território adversário, o que rendeu uma oportunidade para ser devidamente escrutinado pelo Exército de Libertação Popular.
No mês passado, um drone americano MQ-9 Reaper caiu no mar Negro após ser atingido na hélice por um outro Su-27, um episódio que foi esfriado pelos dois adversários devido ao risco de uma escalada imprevisível entre as maiores potências nucleares do mundo.
Na terça (25), a Rússia havia promovido um ameaçador voo de patrulha com dois bombardeiros estratégicos supersônicos Tupolev Tu-160, capazes de empregar armas nucleares. Eles foram escortados por interceptadores Mikoian-Gurevitch MiG-31K da Frota do Norte, baseada em Murmansk, no Ártico russo.
O voo transcorreu, com reabastecimento aéreo noturno, por 14 horas. Não houve incidentes.
No caso desta quarta, os caças da Otan, Eurofighters Typhoon em número não divulgado, participavam da chamada Patrulha Aérea do Báltico. Como os três Estados da região, as ex-repúblicas soviéticas Lituânia, Letônia e Estônia, são membros da aliança militar ocidental mas não têm caças, a vigilância de seu espaço aéreo é feita por parceiros.
O esquema funciona desde 2004 e foi intensificado em 2014, quando Putin anexou a Crimeia. Agora, é uma das linhas de frente do Ocidente ante o Kremlin. O desenho da segurança na área mudou brutalmente com a guerra, com a Finlândia sendo admitida na Otan e a Suécia, esperando na fila para o mesmo.
Os quatro países nórdicos, por sinal, também anunciaram a unificação de suas Forças Aéreas, ganhando assim uma musculatura operacional com quase 250 caças operando sob ordens iguais.
O Báltico segue um campo agitado. No começo do ano, bombardeiros nucleares americanos B-52 foram interceptados pelos russos na região durante um treino de ataque a São Petersburgo, segunda maior cidade russa que margeia o mar.
Após o início da guerra, a Rússia chegou a invadir o espaço aéreo da Suécia, em um episódio não confirmado de treino para um ataque nuclear tático -de potência limitada, contra alvos focados, como bases militares.
Em solo, o jogo de espera na Ucrânia continua, com relatos de que as forças russas seguem atacando com intensidade apenas na região de Bakhmut, em Donetsk, província do leste do país que foi declarada anexada por Putin em setembro passado.
Nas outras seções da frente, a expectativa é de uma contraofensiva de Kiev, que seria iminente segundo informes de inteligência de lado a lado. O líder do grupo mercenário Wagner, Ievguêni Prigojin, disse nesta quarta que a ação é "inevitável" e que deverá concentrar-se no flanco sul da área ocupada, em Kherson.
O objetivo ucraniano, na estimativa de analistas, pode ser retomar uma área próxima à Crimeia, que fica ainda mais ao sul de Kherson, cortando a ponte terrestre estabelecida no ano passado pelos russos entre seu território e a península, que tem sofrido ataques de drones e por mar.