Enviada de Biden diz em Brasília que planos de paz devem envolver Ucrânia
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A embaixadora Linda Thomas-Greenfield, representante dos Estados Unidos junto à Organização das Nações, voltou a criticar nesta terça-feira (2) as falas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a Guerra da Ucrânia, durante visita ao Brasil.
A americana ainda ressaltou que todas as iniciativas em busca da paz devem necessariamente incluir a Ucrânia, país que foi atacado e invadido pelos russos, em aparente resposta à proposta de Lula de criação de um "clube da paz" com países que a diplomacia brasileira considera não alinhados a nenhum dos lados do conflito. Por outro lado, louvou a iniciativa de enviar o assessor especial Celso Amorim a Kiev.
A diplomata americana está em uma viagem de quatro dias ao Brasil, onde vai se reunir com autoridades em Brasília e em Salvador.
Na capital federal, foi recebida pela primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, e também pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Ao chanceler, Thomas-Greenfield externou o sentimento negativo de seu país em relação às declarações de Lula.
"Nós discutimos essa questão [as falas de Lula]. Eu expressei, como o governo havia feito antes, nosso desapontamento com as declarações que foram feitas. No entanto, vou dizer que o Brasil de forma consistente votou em favor de resoluções condenando a Rússia no Conselho de Segurança, recentemente, como no dia 23 de fevereiro deste ano. Eles votaram por uma resolução de paz na Ucrânia", afirmou.
Ao comentar a posição de Lula sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, a embaixadora disse ainda que todos os países são bem-vindos a atuar em favor das negociações de paz. No entanto, ressaltou que essas iniciativas não devem deixar a Ucrânia de fora.
"Nós encorajamos países para se engajarem em questões relacionadas com encontrar uma saída para a guerra. Mas é muito importante que, ao fazerem, eles se engajem com a Ucrânia. Não podemos seguir adiante em uma situação que deixe a Ucrânia fora da equação", afirmou.
A americana também destacou a iniciativa brasileira de enviar o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, em uma viagem à Ucrânia. O ex-chanceler esteve em Moscou no início de abril, e lá foi recebido pelo presidente Vladimir Putin. Sua ida a Kiev seria, portanto, um aceno importante para simbolizar o princípio de neutralidade que a diplomacia brasileira alega defender --inclusive desde Jair Bolsonaro (PL).
As falas de Lula sobre a guerra geraram a reação de potências ocidentais. O presidente brasileiro já afirmou que Rússia e Ucrânia eram ambos responsáveis pelo conflito. Também disse que os Estados Unidos e a União Europeia contribuem para prolongar a guerra. Lula afirmou ainda que a Rússia não pode ficar com o terreno da Ucrânia ocupado durante a invasão, mas que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, "não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer".
Dada a repercussão negativa, no entanto, Lula vem adotando mais cautela em suas falas sobre o conflito nas últimas semanas, especialmente depois de ter recebido o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov.
Nesta terça, a embaixadora americana foi questionada sobre a recente proximidade entre Brasil e China, mas evitou comentar a questão e preferiu tratar da relação entre Brasília e Washington. "Nossa posição foi de que não dizemos a nações soberanas quem escolher para fechar parcerias. Estávamos aqui para discutir nossa parceria, temos uma parceria muito forte com o país e com o povo brasileiro. Temos investimentos muito fortes aqui nesse país, mais de 700 mil empregos foram criados por investimentos americanos no Brasil e igualmente empregos foram criados nos Estados Unidos", afirmou.
Linda Thomas-Greenfield também afirmou ter discutido com Mauro Vieira a situação do Haiti. O país caribenho, que recebeu por quase 15 anos uma missão da ONU que foi comandada militarmente pelo Brasil, voltou a sofrer com uma espiral de crises, violência e instabilidade. A americana afirmou que a situação do Haiti é uma prioridade para os dois países e que o Brasil é um "parceiro-chave" nessa questão.
"Como vocês sabem, no Conselho de Segurança nós estamos tratando dessa questão há algum tempo. O governo haitiano pediu ajuda externa, e nós continuamos a nos envolver com o Brasil e com outros países sobre como podemos ser mais efetivos ao apoiar essas preocupações de segurança do Haiti."
A diplomata, que integra a linha sucessória de Joe Biden, também evitou comentar as pretensões brasileiras a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. No entanto, ressaltou que o presidente americano já se mostrou a favor de uma reforma do colegiado, para incluir novos membros permanentes e eleitos, além de países de outras partes do mundo, como a América Latina.
"E ele [Biden] muito explicitamente disse que nós apoiamos a inclusão de países da América Latina, Caribe e também da África", afirmou a diplomata, acrescentando que esse será um "processo democrático".