Brasil resistirá a uso de declaração final do G7 para atacar Rússia
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai resistir a avanços para que uma das declarações finais da cúpula do G7, que reúne importantes economias do mundo, seja usada para condenar a Rússia devido à guerra com a Ucrânia. A posição brasileira é que o foco do comunicado seja segurança alimentar.
O Brasil deve assinar o texto que será negociado entre membros do G7 e países e instituições convidados para a reunião, que será realizada entre os dias 19 e 21 deste mês, em Hiroshima, no Japão.
Já o outro documento final da cúpula será elaborado e assinado pelas nações que integram o bloco -Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido-, um texto que deve ser extremamente duro com a Rússia, seguindo a posição já conhecida das potências ocidentais.
Lula embarca na próxima quarta-feira (17) para participar da cúpula, convidado pelo premiê do Japão, Fumio Kishida, com quem terá uma reunião bilateral. O petista também se encontrará com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da Indonésia, Joko Widodo.
Além do Brasil, foram convidados para a reunião Austrália, Comores, Ilhas Cook, Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Vietnã, além de representantes das Nações Unidas, do FMI (Fundo Monetário Internacional), OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), da AIE (Agência Internacional de Energia), OMS (Organização Mundial de Saúde), OMC (Organização Mundial do Comércio) e da União Europeia.
O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores afirmou nesta segunda-feira (15), em entrevista a jornalistas para tratar da viagem de Lula ao Japão, que o governo brasileiro quer que a Guerra da Ucrânia seja mencionada devido às suas consequências na segurança alimentar, ressaltando que deve haver uma diferença notável entre os documentos produzidos apenas pelas nações do G7 e o com a participação dos países convidados.
"Como há efeitos do conflito na Ucrânia sobre o acesso a alimentos, uma referência inicial deverá ser feita ao conflito na Ucrânia. E o governo brasileiro negocia essa linguagem para que seja compatível com a linguagem que tem usado em relação ao tema, inclusive como o Brasil tem defendido na negociação de resoluções em diversas instâncias internacionais, como na ONU", afirmou o diplomata.
"Então, sim, uma referência é inevitável nesse aspecto, porque o conflito na Ucrânia também teve efeito na segurança alimentar. Recorde-se que há outros países que não fazem parte do G7 e têm posições sobre a questão da Ucrânia que não são exatamente coincidentes com a dos países do G7. É um processo de negociação normal que tem por objetivo atender aos interesses e as visões de todas as partes."
Segundo as prioridades do encontro, divulgadas pelo governo japonês, haverá discussão sobre a guerra na Ucrânia, a situação da inflação nas principais economias no mundo e o combate às vulnerabilidades dos países de baixa renda, devido à crise da dívida -causada em grande parte pela elevação dos juros.
Também será discutida a crise climática e a transição energética, além da ajuda internacional para a obtenção de equilíbrio energético. Além dos eventos da cúpula e das reuniões bilaterais já confirmadas, Lula vai participar da visita dos chefes de Estado e de governo que participam da cúpula a um memorial para as vítimas do ataque nuclear a Hiroshima, promovido pelos EUA durante a Segunda Guerra.