Meloni, que encontra com Lula em Roma, coleciona críticas públicas ao petista
ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, é autora de uma série de críticas antigas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem recebe nesta quarta-feira (21) no Palácio Chigi, em Roma, sede do governo italiano. O encontro foi confirmado de última hora, oficialmente por problemas de agenda.
Fundadora do partido Irmãos da Itália, de ultradireita, Meloni assumiu o cargo de primeira-ministra em outubro de 2022, depois de anos como uma das políticas mais ferozes da oposição.
Nesse período, fez diversas críticas públicas ao petista, especialmente devido ao caso do terrorista Cesare Battisti, condenado por quatro homicídios ocorridos no fim dos anos 1970 na Itália. Battisti passou quase 40 anos como fugitivo da Justiça italiana, sendo 14 anos no Brasil.
Ele foi beneficiado por uma decisão de Lula, que no último dia de seu segundo mandato, em 2010, concedeu refúgio político ao italiano. A decisão criou atritos com a Itália, que pedia a extradição, e até hoje arranha a popularidade do brasileiro entre parte dos italianos.
"Lula, pare de fazer campanha eleitoral em cima dos mortos italianos", escreveu Meloni no Twitter em junho de 2011. Na época, o então ex-presidente atuava para eleger José Graziano da Silva à direção geral da FAO (órgão da ONU para agricultura e alimentação), com sede em Roma, e chegou a cancelar uma viagem à Itália por temer manifestações de hostilidade devido à decisão sobre Battisti.
Anos depois, o petista, na Itália, foi recebido pelo então primeiro-ministro Matteo Renzi, à época líder do Partido Democrático (PD), o que foi contestado por Meloni. "Mais um capítulo da série 'Renzi, o antiitaliano'. Hoje o premiê recebeu para almoçar o ex-presidente Lula, conhecido dos italianos por ter negado a extradição do criminoso Cesare Battisti. Diante daqueles que pedem justiça há décadas."
Na mesma ocasião, Lula foi homenageado pelo então prefeito de Roma, Ignazio Marino (PD), pelo combate à fome. "Lula, o mesmo personagem que, como presidente do Brasil, negou à Itália a extradição desse covarde assassino Battisti. Marino, só por isso você deveria se demitir."
Em 2020, quando o petista esteve na cidade para se encontrar com o papa Francisco, meses após deixar a prisão em Curitiba, uma nova leva de críticas, dessa vez a Nicola Zingaretti, então governador da região Lazio, também do PD: "Zingaretti encontra o ex-presidente do Brasil que foi recentemente libertado da prisão por uma condenação por corrupção e lavagem de dinheiro. O mesmo que disse não à extradição do assassino e terrorista Cesare Battisti, ofendendo nossa nação e as famílias das vítimas. Mas o Partido Democrático e o governo não se envergonham dessa afronta à Itália?"
A italiana, ainda na oposição, também celebrou a vitória de Bolsonaro em outubro de 2018. "A direita vence também no Brasil. A esquerda derrotada em todo o planeta e pela história. Finalmente, os povos estão recuperando sua liberdade e soberania".
Em dezembro, nova menção ao caso Battisti. "Com Bolsonaro no Brasil, se abre finalmente uma brecha na rede internacional de radicais chiques que por décadas protegeu o terrorista vermelho Battisti. Esperamos que sua extradição seja confirmada logo, as cadeias daqui o esperam de braços abertos."
Naquele momento, a prisão de Battisti tinha sido determinada pelo Supremo Tribunal Federal, e o governo Michel Temer preparou a extradição. Mas Battisti passou a ser considerado novamente fugitivo. Em janeiro de 2019, durante o governo Bolsonaro, o terrorista foi preso na Bolívia e voltou para a Itália, onde cumpre pena de prisão perpétua.
Em uma entrevista a um canal de TV italiano, Lula, em abril de 2021, pediu desculpas à população italiana por não ter extraditado Battisti. "Peço desculpas ao povo italiano, pensei que ele não era culpado, mas depois de sua confissão, só posso me desculpar". "Enganei-me ", disse Lula, que já havia demonstrado arrependimento em relação ao caso.
Ao se tornar primeira-ministra, em outubro de 2022, Meloni passou a adotar um estilo de comunicação institucional. Ela cumprimentou o petista por sua vitória: "Parabéns a Lula pela eleição. Itália e Brasil vão continuar a trabalhar juntos em nome da amizade histórica entre nossos povos e para enfrentar desafios comuns que nos esperam". O governo, no entanto, não enviou representante oficial à posse .
Em janeiro, Meloni lamentou o ataque de apoiadores de Bolsonaro aos palácios de Brasília. "O que está acontecendo no Brasil não pode nos deixar indiferentes. As imagens da irrupção nos gabinetes institucionais são inaceitáveis e incompatíveis com qualquer forma de dissidência democrática. O retorno à normalidade é urgente e nos solidarizamos com as instituições brasileiras", escreveu no Twitter.