Macron considera multar famílias de manifestantes adolescentes

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 - As 72 detenções durante protestos na noite desta segunda-feira (3) na França parecem indicar que o pico das manifestações contra a polícia do país já passou -no dia anterior, foram 157, o que não chega perto dos 1.311 presos do sábado (1º).

Uma semana depois da eclosão dos atos, pelo menos um manifestante morreu, enquanto outro, de 25 anos, está em coma. O saldo da destruição é de 269 instalações policiais atacadas, 1.105 edifícios danificados, 5.892 viaturas incendiadas e 12.202 vias públicas queimadas, segundo o Ministério do Interior.

A pasta de Economia contabilizou mais de mil estabelecimentos comerciais e agências bancárias danificadas, enquanto o Ministério da Educação registrou 60 escolas afetadas -dez das quais parcial ou totalmente destruídas. "Estamos falando de dezenas de milhões de euros" em prejuízos, afirmou o chefe da pasta de Educação, Pap Ndiaye.

De acordo com o Ministério da Justiça, 3.915 pessoas foram presas, e 1.244 delas são menores de idade. A idade dos manifestantes já havia preocupado autoridades e levado o presidente francês, Emmanuel Macron, a pedir que os pais mantivessem seus filhos em casa na última sexta-feira (30).

Agora, porém, ele foi mais longe. A policiais reunidos em Paris na noite de segunda, o político manifestou a intenção de "sancionar financeiramente" as famílias dos manifestantes menores de idade, estabelecendo "uma espécie de tarifa mínima desde a primeira confusão" provocada pelo filho. O discurso do líder foi classificado de "cínico" pela oposição.

Na emissora France 2, o prefeito de Trappes Ali Rabeh afirmou que parte dessas famílias é monoparental. "São mães que trabalham em horários escalonados no Carrefour e que não estão presentes quando o filho sai da escola e fica na rua. Elas estão trabalhando sozinhas para tentar encher a geladeira", afirmou, segundo a RadioFrance.

O próprio ministro da Educação parece discordar da ideia. Para ele, responsabilizar os pais não significa castigá-los, mas ajudá-los a cuidar dos seus filhos. "Devemos ter em conta as dificuldades específicas de certas famílias. Quando uma mãe trabalha à noite, é ainda mais complicado para os filhos", afirmou.

Durante a tarde, Macron anunciou em uma reunião com 241 prefeitos uma lei de emergência para reconstruir mais rapidamente os edifícios e a infraestrutura de cidades afetadas, de acordo com a agência de notícias AFP.

Para o prefeito de Grigny, Philippe Rio, o encontro foi um "momento de terapia coletiva", segundo o jornal francês Le Monde. A situação é "extremamente dolorosa", de acordo o político do Partido Comunista, que lamenta o "vínculo rompido desde a crise dos coletes amarelos e o movimento contra a reforma da Previdência", duas últimas grandes ondas de manifestação na França.

O tumulto dos últimos dias levou parte da população e da classe política a culpar os imigrantes pela depredação. Na cidade de Persan, onde manifestantes quebraram as janelas da prefeitura e danificaram sua fachada com um incêndio, dezenas de moradores se reuniram nesta segunda para discutir os protestos, assim como em outros municípios.

"Devemos cortar tudo, bolsas para as famílias, tudo relacionado a subsídios sociais. Se eles não estão felizes, que voltem para seu países", afirmou um aposentado à agência de notícias Reuters, que se identificou como Alain. "Senhor, deixe-me dizer uma coisa. Eles podem ter origens estrangeiras, antepassados estrangeiros, mas essas crianças são francesas", respondeu Fatma, com a cabeça coberta por um lenço islâmico.

Em sessão de perguntas à primeira-ministra Élisabeth Borne no Parlamento, a conhecida política de ultradireita Marine Le Pen afirmou que o governo entregou o país ao saque. "Vocês estão prestes a direcionar bilhões de dólares para mais um plano urbano", criticou. A prioridade, diz ela, deveria ser "parar a imigração anárquica".

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, pediu ao partido da deputada, o Reagrupamento Nacional, para não confundir o debate, já que menos de 10% dos presos eram estrangeiros. "A questão são os jovens infratores, não os imigrantes", afirmou. "Não queremos ódio à polícia nem ódio aos estrangeiros."

Em meados de abril, Macron deu a si mesmo 100 dias para trazer a reconciliação e a unidade para um país dividido e a um ano de sediar as Olimpíadas. Na época, a França enfrentava greves e protestos às vezes violentos contra o aumento da idade de aposentadoria.

O plano de pacificar a nação, porém, foi interrompido na terça passada (27) quando, durante uma blitz, um policial atirou em Nahel, um jovem de 17 anos com pais argelinos e marroquinos. Ele morreu horas depois do incidente. Uma vaquinha lançada pelo ex-candidato de extrema direita à Presidência Eric Zemmour para Florian M., 38, autor do disparo, arrecadou mais de 1 milhão de euros até segunda. O agente foi indiciado por homicídio doloso e está preso preventivamente.