China atualiza mortes ligadas a tufão para 62; cifra é quase dobro da anterior

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As tempestades que castigaram o norte da China nos últimos dias, as piores em mais de um século, provocaram ao menos 62 mortes, segundo balanço divulgado pelo regime chinês nesta quarta-feira (9). O número de óbitos é quase duas vezes a estimativa anunciada na semana passada.

As chuvas foram causadas pela passagem do tufão Doksuri, responsável pelo rastro de destruição que interrompeu o abastecimento de alimentos e produtos no país. Pequim e a província vizinha de Hebei foram as mais atingidas, e há registros de bairros inteiros alagados em ambas localidades.

"Quero expressar as minhas profundas condolências", disse o vice-prefeito de Pequim, Xia Linmao, durante entrevista na qual divulgou o novo levantamento. Na ocasião, ele também pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.

As autoridades dizem que o número de óbitos ainda pode aumentar. Somente em Pequim, 33 pessoas morreram, e outras 18 pessoas continuam desaparecidas. As demais mortes ocorreram em Hebei e em cidades menores no nordeste da China, região considerada importante para a produção de cereais.

O tufão enfraqueceu à medida que avançou para o interior e foi rebaixado a uma depressão tropical nos últimos dias de julho, pouco depois de chegar ao país. Ele continua, porém, provocando chuvas, agora nas regiões próximas às fronteira com a Rússia e com a Coreia do Norte.

Na província de Heilongjiang, também no norte, a mídia estatal informou que o volume de água de dezenas de rios voltou a ultrapassar os "níveis de alerta". "Ainda sinto medo quando me lembro das enchentes", disse Zheng Xiaokang, um policial do vilarejo de Jiangxi, à agência de notícias Xinhua.

"Diante da chuva persistente e da subida da água do rio, as consequências teriam sido devastadoras se não tivéssemos conseguido retirar os moradores a tempo", acrescentou.

Chuvas e temperaturas incomuns também têm atingido outras partes da China. Segundo as autoridades, ao todo 147 pessoas morreram ou desapareceram no mês de julho devido a catástrofes naturais, não necessariamente relacionadas ao Doksuri. Nesta quarta, por exemplo, uma inundação repentina do rio Longxi provocou a morte de ao menos sete pessoas na província montanhosa de Sichuan, que havia sido relativamente preservada dos estragos provocados pelo tufão.

A tragédia ocorreu perto de uma represa em um conhecido ponto turístico de Ya'an, quando várias pessoas que tiravam fotos foram arrastadas pela água. Imagens transmitidas pela emissora estatal CCTV mostram o grupo gritando em meio à correnteza e lutando para manter a cabeça fora d'água. As vítimas morreram afogadas. "A segurança pública local, o Corpo de Bombeiros e outros departamentos continuam realizando esforços de busca e resgate", disse o veículo televisivo.

Em Pequim e arredores, milhares de pessoas continuam retirando lama e atuando na limpeza de suas casas e ruas após o tufão Doksuri provocar as tempestades mais intensas do país em 140 anos, segundo autoridades. Ao mesmo tempo, o governo local se prepara para a chegada de outro fenômeno natural com potencial destrutivo nos próximos dias.

O tufão Khanun deve atingir a Coreia do Sul nesta quinta-feira (10) e, de acordo com meteorologistas, provocará impactos também no território chinês à medida que atravessar a península coreana. Nesta quarta, fortes chuvas provocaram o cancelamento de aproximadamente 80 voos e de viagens de trens em várias cidades sul-coreanas.

O Khanun já causou estragos no Japão. Na manhã desta quarta, ele foi avistado no mar, numa área ao sul de Kyushu, a principal ilha do sudoeste japonês. O tufão está mantendo a força e se movendo a uma velocidade média de 10 km/h, considerada lenta, o que segundo especialistas significa que os ventos e as chuvas podem "estacionar" em um determinado local e durar mais tempo.

A Agência Meteorológica do Japão emitiu novos alertas de chuvas fortes para regiões do sul e do oeste do país, levando montadoras de veículos a suspender parte de suas atividades, assim como outras empresas. O premiê japonês, Fumio Kishida, cancelou uma participação que faria nesta quarta em uma cerimônia em memória às vítimas da bomba atômica lançada sobre Nagasaki.

A Coreia do Sul também está sob alerta. Na segunda, as autoridades anunciaram a retirada de 36 mil pessoas do Jamboree, um dos maiores eventos de escoteiros do mundo.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.

A Ásia foi o continente mais afetado, contabilizando mais de 3.400 desastres nesse período, responsáveis por quase 1 milhão de mortes. Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), diz que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi gerada por ação humana.