Papa Francisco desembarca na Mongólia de olho na Rússia e na China

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O papa Francisco, 86, desembarcou nesta sexta-feira (1º) na Mongólia, país na Ásia com maioria budista e uma pequena comunidade católica, mas considerado estratégico no xadrez geopolítico global devido a sua localização entre as superpotências Rússia e China. O pontífice pediu "unidade e paz".

Francisco deve permanecer em território mongol até segunda (4). Segundo o Vaticano, a viagem tem o objetivo de expressar apoio à comunidade católica local. Trata-se da segunda visita do pontífice à Ásia Central em menos de um ano ?em setembro, ele foi ao Cazaquistão, onde também pediu paz.

O papa é crítico da Guerra da Ucrânia, em curso no Leste Europeu desde fevereiro de 2022. A China é a principal aliada da Rússia e nunca condenou publicamente a ofensiva comandada por Vladimir Putin contra o vizinho. Já a Mongólia faz fronteira e mantém relações comerciais com os dois países.

Durante o voo de nove horas à nação asiática, Francisco enviou mensagens com "orações e bons desejos" ao líder chinês, Xi Jinping. O ato, de acordo com o Vaticano, segue a tradição de agradecer os países sobrevoados pelo avião papal. "Assegurando as minhas orações pelo bem-estar da nação, invoco sobre você todas as bênçãos divinas de unidade e paz", escreveu o pontífice ao dirigente.

Wang Wenbi, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, agradeceu a mensagem e disse que Pequim deseja reforçar a confiança mútua com o Vaticano, além de promover "um processo de melhoria" das relações bilaterais.

A China e o Vaticano não mantêm relações diplomáticas. A relação entre os dois Estados se deteriorou em abril deste ano, após o regime chinês romper um acordo e nomear o bispo de Xangai sem o aval de Francisco. A ação desrespeitou um pacto que, firmado em 2018 e renovado em 2022, determinou que todas as indicações de bispos e padres no país asiático têm de ser reconhecidas pelo papa.

O avião com Francisco pousou pouco antes das 10h no horário local (23h de Brasília, nesta quinta-feira) na capital da Mongólia, Ulan Bator. O papa foi recepcionado por Batmunkh Battsetseg, ministra das Relações Exteriores, e escoltado por integrantes da guarda de honra mongol. Em seguida, o líder religioso seguiu para a residência do bispo italiano Giorgio Marengo, 49, o cardeal mais jovem do mundo.

Na chegada, Francisco foi aclamado por centenas de fiéis que gritavam "longa vida ao papa". A freira Aleth Evangelista disse à agência de AFP que ela se considerava "abençoada por receber o pontífice" em um país que tem pouco mais de 1.400 católicos entre uma população de mais de 3,3 milhões de pessoas.

O papa deve descansar nesta sexta, e o primeiro compromisso oficial do pontífice na Mongólia está marcado para este sábado (2), quando ele deve participar de uma cerimônia de boas-vindas e encontrar líderes governamentais e diplomatas. Depois, Francisco deve encontrar representantes da comunidade católica local, que tem apenas 25 padres, sendo que apenas dois nascidos no país, e 33 freiras.

A visita, a 43ª viagem de Francisco em dez anos à frente da Igreja Católica, é ainda crucial para as relações do Vaticano com Pequim e Moscou, capitais para as quais o papa não foi convidado desde o início da Guerra da Ucrânia. A Mongólia depende da Rússia para a importação de energia e da China para a exportação de minerais. Em relação ao conflito no Leste Europeu, o país mantém uma linha neutra.

O papa afirma buscar um consenso entre outros países que levem a negociações pela paz na Europa, apesar do presidente Volodimir Zelenski ter jogado água fria na iniciativa. Em maio, após ter sido recebido no Vaticano, o presidente disse a um canal de TV que dispensava a mediação de Francisco. "Com todo o respeito à Sua Santidade, não precisamos de mediadores, precisamos de uma paz justa", disse.

Quando esteve em Kiev, nos primeiros dias de junho, o cardeal italiano Matteo Zuppi ouviu de Zelenski que o único plano de paz possível era o seu, composto por dez pontos, entre eles a restauração da integridade territorial da Ucrânia. O cessar-fogo, como sugere a linha de Francisco, estaria descartado.