Governo Petro e dissidência das Farc anunciam retomada de cessar-fogo na Colômbia
BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - O governo da Colômbia e o principal e mais poderoso grupo dissidente das Farc concordaram em retomar o cessar-fogo bilateral que havia sido suspenso em maio, após o assassinato de quatro jovens de uma comunidade indígena entre os departamentos de Caquetá e Amazonas, no sul do país.
O anúncio da retomada foi feito neste sábado (2) pelas duas partes, que se colocam próximas de iniciar diálogos de paz --uma primeira mesa de negociação deve ocorrer no próximo dia 17, momento em que será aprovado o início da trégua.
O documento com 11 pontos foi assinado pelos emissários do governo de Gustavo Petro e do chefe da guerrilha, conhecida como Estado-maior Central (EMC), Iván Mordisco. O EMC é formado por rebeldes que rejeitaram o acordo de paz assinado em 2016 entre o governo do então presidente Juan Manuel Santos e as Farc.
O texto afirma que as partes "resguardam seu legítimo direito de defesa e mantêm suas medidas de segurança e ações necessárias no marco do respeito ao direito internacional humanitário".
Governo e guerrilha concordaram também que as Nações Unidas, a missão de apoio ao processo de paz da OEA (Organização dos Estados Americanos), a Conferência Episcopal da Colômbia e o Conselho Mundial de Igrejas sejam acompanhantes permanentes do processo de diálogo. O grupo também irá compor, com delegados das duas partes, uma comissão para "resolução de contingências".
O documento aponta que os dois lados estão "convencidos da necessidade de impulsionar e contribuir com um acordo político que, de maneira definitiva, erradique as causas que geram o atual conflito social e armado".
Os delegados do governo e do grupo guerrilheiro estiveram reunidos desde a quinta-feira (31) nas montanhas do departamento de Cauca, no sudoeste do país, no primeiro encontro formal entre o governo e a organização.
O presidente Gustavo Petro tenta uma saída dialogada para décadas de conflito armado na Colômbia, por meio de negociações de paz com todos os grupos à margem da lei, chamada por ele de "paz total".
Em 31 de dezembro, Petro declarou um cessar-fogo bilateral com o EMC e outros quatro grupos armados. Dias depois, porém, lideranças das guerrilhas negaram e afirmaram que a medida era unilateral, embora o contato entre as partes já estivesse ocorrendo há alguns meses.
Além da suspensão em maio relativa ao grupo armado com o qual agora retoma a trégua, o governo viu também os esforços com o ELN (Exército de Libertação Nacional) caírem por terra e ressurgirem em junho, quando novo cessar-fogo foi acertado entre as partes em reunião em Cuba.
O plano da "paz total" foi uma das principais propostas de campanha de Petro, primeiro líder de esquerda eleito no país, em junho de 2022, mas o vaivém de tréguas e diálogos tem se mostrado uma pedra no sapato do presidente.
Petro reativou os contatos com o ELN logo após assumir o cargo, em 7 de agosto --as negociações entre as partes haviam sido suspensas pelo ex-presidente Iván Duque em 2019 após um ataque contra uma escola da polícia que deixou 22 mortos, além do agressor.