Israel diz ter retomado controle de comunidades atacadas por Hamas e anuncia 'cerco total' a Gaza

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Israel anunciou nesta segunda-feira (9) um cerco total à Faixa de Gaza e disse ter retomado o controle de comunidades no sul do país que haviam sido invadidas pelo movimento palestino do Hamas no último sábado (7), durante o maior ataque da região em 50 anos.

"Agora estamos realizando buscas em todas as comunidades e limpando a área", disse o contra-almirante Daniel Hagari em um comunicado na televisão. Confrontos isolados, porém, continuam, e ainda pode haver homens armados nos locais, disse o porta-voz militar.

Anteriormente, outro porta-voz, o tenente-coronel Richard Hecht, reconheceu que Israel estava levando mais tempo do que o esperado para voltar a uma postura defensiva e que ainda havia "sete ou oito" lugares onde aconteciam combates.

Israel realizou mais de 500 ataques aéreos e de artilharia durante a noite, em uma mostra do violento conflito que deve se estender pelos próximos dias. Desde sábado, mais de 1.300 pessoas morreram ?800 em solo israelita e mais de 560 na Faixa de Gaza. Há ainda cerca de 100 pessoas capturadas por combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, entre militares e civis.

Após o ataque, Israel convocou um número recorde de 300 mil reservistas, disse um porta-voz militar nesta segunda. O número sugere preparativos para uma possível invasão, embora tais planos não tenham sido oficialmente confirmados. "Nunca recrutamos tantos reservistas em tal escala", disse Hagari. "Vamos para a ofensiva."

Nesta segunda (9), o ministro da Defesa, Yoav Gallant, ordenou suprimir qualquer serviço à Faixa de Gaza. "Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado", disse Gallant em vídeo. "Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo", continuou o ministro do premiê Binyamin Netanyahu, cujo governo é o mais à direita da história do país.

O ministro da Energia, Israel Katz, disse já ter instruído o corte de água ao território palestino ?Israel responde por cerca de 10% da demanda anual de Gaza. Segundo Katz, o fornecimento de energia e de combustível já havia sido suspenso logo após os ataques de sábado (7).

O pano de fundo das hostilidades é a degradação da relação entre Israel e Palestina nos últimos meses. A Cisjordânia voltou a entrar numa espiral de violência no início do ano, com incursões israelenses promovidas por parte da coalizão de ultradireita que sustenta o governo de Binyamin Netanyahu e agressões por parte de militantes palestinos. Antes de a guerra estourar, pelo menos 243 palestinos e 32 israelenses morreram desde o início do ano em eventos relacionados ao conflito, de acordo com uma contagem da agência de notícias AFP.

O ataque foi condenado por diversos países ocidentais, e a União Europeia convocou uma reunião de emergência de ministros dos Negócios Estrangeiros para terça-feira (10). Os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, começaram a enviar ajuda militar no domingo (8) e a direcionar porta-aviões para o Mediterrâneo.

Já a China condenou qualquer ação que prejudique civis e pediu um cessar-fogo, posicionamento parecido com o da Rússia e o da Liga Árabe, que rejeita a violência "de ambos os lados". O Irã, que mantém relações estreitas com o Hamas e foi um dos primeiros países a aplaudir a ofensiva do grupo islâmico, rejeitou acusações de que teve papel na operação.

Vários cidadãos de outros países, alguns também com nacionalidade israelita, morreram na ofensiva. Entre eles, 12 tailandeses, dez nepaleses e quatro americanos. Há também pelo menos três brasileiros desaparecidos e um hospitalizado, segundo o governo de Israel.

Até agora, mais de 123 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas no território palestino, informou nesta segunda-feira (9) a agência de coordenação de ajuda humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês). Israel, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, anexou Jerusalém Oriental e impôs um bloqueio a Gaza desde que o grupo extremista palestino Hamas tomou o poder do enclave, em 2007.

No sábado, cerca de mil combatentes do Hamas lançaram aproximadamente 5.000 foguetes e entraram por terra, mar e ar em Israel. Netanyahu declarou guerra horas depois e disse que a facção pagará "um preço sem precedentes".