Coletes à prova de bala contrastam com tranquilidade em 2º turno no Equador

Por JÚLIA BARBON

QUITO, EQUADOR (FOLHAPRESS) - A imagem de candidatos vestindo coletes à prova de balas e cercados por militares contrasta com o clima de tranquilidade que se vê neste domingo (15) no Equador. O país sul-americano vai às urnas para eleger entre o empresário de centro-direita Daniel Noboa e a advogada da esquerda correísta Luisa González.

Num pleito marcado pelo assassinato do candidato Fernando Villavicencio a dez dias do primeiro turno, em agosto, ambos decidiram votar com um forte esquema de segurança, como já vinham fazendo nos atos de campanha. Também se repetiu a presença de militares e policiais em todas as escolas, com revistas de mochilas na entrada.

Até o início da tarde, porém, não houve nenhum episódio de violência significativo, segundo as autoridades equatorianas. "O país está em absoluta tranquilidade", afirmou o ministro do Interior, Juan Zapata. Ele ressaltou que foram recebidas seis chamadas falsas de atentados, todas descartadas.

"Achei que está até mais tranquilo que o primeiro turno", dizia a confeiteira Elizabeth Guzmán, 41, num colégio no centro de Quito ao lado das duas filhas e da neta, pelas quais ela afirma ter votado em Noboa. "Principalmente pelos jovens, porque precisam de educação, formação, oportunidades. Ele representa uma mudança", justificou.

Sua opinião é oposta à do engenheiro informático Elvis Oña, 59, que diz ver em González essa mesma mudança. "Senão teremos um Lasso Júnior", diz ele, em referência ao atual presidente Guillermo Lasso, ex-banqueiro de direita que hoje angaria uma das piores avaliações entre os líderes latino-americanos.

Sem ter conseguido acordos na Assembleia Legislativa e ameaçado por um processo de impeachment, Lasso decretou em maio a chamada "morte cruzada", mecanismo previsto na Constituição equatoriana, convocando eleições antecipadas. O próximo presidente, portanto, só vai governar por cerca de um ano e meio.

Noboa, 35, foi a grande surpresa do primeiro turno e é apontado como favorito. Filho de um bilionário que já tentou chegar à Presidência cinco vezes e formado na Universidade de Harvard, trabalhou no conglomerado do pai e em 2021 foi eleito deputado. A Folha revelou que ele é dono de empresas em paraísos fiscais, o que sua campanha não quis comentar.

Já González, 45, também ex-deputada, tem um longo currículo dentro de gestões da força política do ex-presidente Rafael Correa, que governou o país de 2007 a 2017 e hoje está asilado na Bélgica após ser condenado por corrupção e se dizer perseguido. Apesar de ser mulher e de esquerda, ela não atrai o voto feminista e, sempre citando Deus, é contra a descriminalização do aborto.

"Luisa é a candidata mais preparada, tem suas posições muito firmes e eu acredito no seu projeto", afirma a comerciante Fátima Piedra, 60, esposa de Elvis, explicando por que decidiu continuar votando no correísmo neste ano. "Sentimos saudade do tempo em que se construía estradas, escolas, universidades", acrescenta.

O correísmo versus anticorreísmo é um dos fatores que deve definir essa eleição -como ocorre tradicionalmente no país- já que González é bastante próxima e fiel a seu padrinho político. "É sempre um candidato correísta contra outro de direita, por isso sou a favor de se decidir em primeiro turno", opina a atendente de telemarketing Guadalupe Paredes, 24.

A jovem, porém, diz não estar de um lado nem de outro. Votou em Noboa no primeiro turno, mas decidiu mudar a González neste domingo ao saber que ele tinha acusações de maus tratos psicológicos por parte da ex-mulher, caso que está na Justiça e que ele nega.

A votação se encerra às 17h no horário local (19h no horário de Brasília), e os resultados começarão a ser divulgados às 18h30 (20h30 no Brasil) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).