Quem é 'Maga Mike', o obscuro novo presidente da Câmara dos EUA
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O novo presidente da Câmara dos Estados Unidos, eleito nesta quarta (25) após três semanas de impasse, conseguiu o feito graças ao que pode ser também sua maior fragilidade no cargo: ele é um desconhecido.
Mike Johnson, republicano da Louisiana, está há apenas sete anos na Casa -ele foi eleito pela primeira vez em 2016. Até esta quarta, ele nunca tinha se encontrado com o líder do partido no Senado, Mitch McConnell. Sua ascensão obrigou não só os jornalistas, mas também os colegas de bancada, a buscar seu nome no Google.
O principal resultado dessa pesquisa é seu apoio a Donald Trump, o que já lhe rendeu a alcunha de "Maga Mike" entre republicanos, democratas e nas palavras do próprio empresário. Trata-se de uma referência à sigla do principal slogan do ex-presidente: Make America Great Again (faça a América grandiosa novamente).
O papel desempenhado pelo deputado na tentativa de reversão da derrota republicana nas eleições de 2020 é o principal destaque de sua carreira legislativa. Johnson votou contra a confirmação da vitória de Joe Biden e teve um papel de liderança em um processo na Suprema Corte que buscava invalidar o resultado das urnas em quatro estados (Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin).
Não à toa, Trump apoiou o deputado em sua disputa pela presidência da Câmara.
Johnson, no entanto, está ainda mais à direita do que o ex-presidente na pauta de costumes. Nos perfis publicados até agora na imprensa americana, ele é apresentado como um ultraconservador que representa a guinada à direita do partido nos últimos anos.
"Se você não acha que a troca de Kevin McCarthy por Maga Mike Johnson mostra a ascensão desse movimento e onde o poder do Partido Publicano verdadeiramente reside, então você não está prestando atenção", afirmou o deputado Matt Gaetz, que liderou a derrubada inédita de McCarthy, no podcast de Steve Bannon, o ex-estrategista de Trump.
Aos 51 anos, Johnson desempenhou papéis relativamente obscuros em sua trajetória na Câmara até agora. Seu último cargo antes de se tornar presidente foi o de vice-presidente da bancada --um posto que, apesar do nome, envolve basicamente agendar discursos de 1 minuto no plenário e pressionar deputados a escreverem artigos de opinião nos jornais.
Na avaliação de Brendan Buck, que foi conselheiro dos republicanos ex-presidentes da Câmara Paul Ryan e John Boehner, Johnson terá uma "curva de aprendizagem aterrorizante" à sua frente. "Embora possam não expressar isso dessa forma, os republicanos parecem estar determinados a querer um presidente da Câmara fraco, e provavelmente conseguirão o que desejam, pelo menos a curto prazo", escreveu em artigo publicado nesta quarta.
Formado em direito pela Universidade Estadual da Louisiana, Johnson, antes de entrar para a política, especializou-se em advogar pautas conservadoras na Justiça. Por 20 anos, ele trabalhou para a Alliance Defending Freedom (Aliança em Defesa da Liberdade), que se define como um "escritório de advocacia cristão comprometido com a proteção da liberdade religiosa, liberdade de expressão, casamento e família, direitos dos pais, e a santidade da vida".
Nessa atuação, por exemplo, ele defendeu em 2004 e 2014 na Suprema Corte a proibição do casamento homoafetivo na Louisiana. "Sua raça, credo e sexo são o que você é, enquanto homossexualidade e cross dressing são coisas que você faz", escreveu em um artigo publicado em 2005. "Este é um país livre, mas não concedemos proteções especiais para as escolhas bizarras de cada pessoa."
Cross dressing é o ato de vestir roupas associadas ao gênero oposto, e é diferente da transexualidade, que implica uma não identificação com o gênero atribuído no nascimento.
Como deputado, ele apresentou diversos projetos de lei com o objetivo de restringir o acesso ao aborto -um deles definindo que a vida começa no momento da concepção. A posição destoa da de muitos colegas de partido e até de Trump, que defendem o encurtamento do período de gestação em que o procedimento é autorizado, mas não seu banimento total.
Em relação à crise climática, ele está no grupo daqueles que negam as evidências, defendendo que o aquecimento global é resultado do ciclo natural do planeta --e o setor de petróleo é o seu principal financiador.
Para além da agenda de costumes, Johnson também é um conservador em termos fiscais, defendendo amplos cortes de gastos, sem poupar programas sociais ou a ajuda à Ucrânia. Essas posições já levantam dúvidas sobre sua capacidade de fazer a Câmara aprovar as leis orçamentárias necessárias para evitar uma paralisação do governo.
Contraintuitivamente, sua vitória está sendo celebrada não só por republicanos radicais, mas também por democratas. Para o partido de Biden, uma liderança tão conservadora -mais que a média dos americanos-- é a caricatura ideal para transformar toda a legenda adversária em um espantalho para o eleitor.
De acordo com o site Politico, quando o republicano Mike Lawler --representante de um distrito disputado- votou a favor de Johnson, foi possível ouvir um democrata dizendo em seguida: "Tchau, tchau".
"Nós temos que ter consciência que ainda há aqueles [deputados] de distritos oscilantes que precisam ser capazes de navegar essas questões", disse o republicano Mike Garcia, da Califórnia, em alusão às posições conservadoras do novo presidente e seu reflexo sobre o resto da bancada.
"A essa altura, eu poderia te dar toda uma narrativa sobre alguém ser uma boa escolha", disse o senador republicano Todd Young ao Politico, em referência ao caos da bancada de deputados do partido nas duas últimas semanas. "A essa altura, nós precisamos apenas de um corpo vivo, certo? E eu acho que ele se qualifica."
Segundo o site, ao ouvir o diálogo, a senadora democrata Tammy Duckworth comentou sarcasticamente: "Um padrão elevado."