Entenda o que é a passagem de Rafah, rota de fuga para civis em Gaza
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Centenas de estrangeiros começaram a deixar a Faixa de Gaza por Rafah, passagem na fronteira com o Egito, nesta quarta-feira (1º), quando o trânsito de pessoas no local foi liberado pela primeira vez desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Os civis foram autorizados a entrar no terminal às 9h45 locais, depois que autoridades do Cairo anunciaram uma abertura excepcional para quase 90 feridos e mais de 540 pessoas de vários países. Ainda não é possível determinar quantas pessoas conseguiram sair do território devastado pela guerra.
Depois que Israel impôs um cerco completo à Faixa de Gaza em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro, a passagem do território com o Egito tornou-se ainda mais importante. O local é o único ponto não controlado por Israel em que civis podem entrar e sair da região palestina por terra.
No último dia 21, caminhões com toneladas de suprimentos entraram em Gaza pela passagem pela primeira vez desde o começo da guerra. Após os ataques, Tel Aviv bloqueou completamente o território onde vivem mais de 2 milhões de pessoas.
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COM O QUE A PASSAGEM SE PARECE?
No lado palestino, duas gigantescas estruturas em arco se cruzam acima de um pequeno edifício revestido de pedra, com portões de metal ornamentados bloqueando o caminho. Nos últimos dias, as pessoas que tentavam sair de Gaza esperaram perto desta área.
Depois de passar por esses portões, os viajantes encontram outro portão palestino, onde suas credenciais são verificadas. Depois, geralmente pegam um ônibus para viajar algumas centenas de metros até a parte egípcia da travessia. Não é permitida a passagem de veículos particulares.
Do lado egípcio há uma ampla estrutura com fachada amarela. As fotografias mostram trabalhadores humanitários estacionando os seus caminhões junto ao portão daquele lado, à espera de uma decisão sobre a abertura da passagem.
POR QUE RAFAH É IMPORTANTE PARA GAZA?
As restrições impostas por Israel e Egito à circulação de pessoas e bens de e para Gaza minaram as condições de vida dos palestinos no território. Tanto Israel como o Egito condicionaram a entrada a partir de Gaza à obtenção de uma autorização de qualquer um dos lados.
Em algumas ocasiões, o Egito manteve o portão fechado em resposta às condições de segurança. Em 2022, a passagem esteve aberta por 245 dias, segundo um relatório das Nações Unidas, que afirma que mais de 133 mil pessoas entraram e 144 mil saíram nesse período.
Bens como diesel, gás de cozinha e materiais de construção normalmente passam pelo portão vizinho Salah a-Din, que começou a operar em 2018. Antes disso, segundo Tania Hary, diretora-executiva da Gisha, uma organização israelense sem fins lucrativos que defende a livre circulação de pess
oas, os bens domésticos para palestinos eram, em sua maioria, contrabandeados por meio de túneis subterrâneos.
COMO A GUERRA AFETOU A PASSAGEM?
Segundo o alto comissário da ONU para os direitos humanos, a passagem foi danificada pelos ataques aéreos de Israel em resposta contra o Hamas, o grupo terrorista islâmico que controla Gaza. Depois de analisar vídeos e imagens de satélite, o The New York Times verificou vários ataques que atingiram áreas próximas do cruzamento.
QUAL É A SITUAÇÃO AGORA?
Centenas de pessoas reuniram-se em frente aos portões do lado de Gaza nos últimos dias, após sugestões de que cidadãos estrangeiros e com dupla nacionalidade poderiam conseguir sair. Muitos cidadãos americanos em Gaza disseram que estavam hospedados em acomodações temporárias perto da fronteira para que pudessem estar prontos para atravessar caso esta fosse aberta.
Durante a manhã desta quarta, os funcionários palestinos da passagem publicaram a lista com os nomes, as nacionalidades e os números de passaportes dos estrangeiros autorizados a seguir para o Egito. Uma fonte palestina afirmou à AFP que 88 feridos, incluindo 40 crianças, mulheres e idosos, serão hospitalizados no país.
O Ministério da Saúde de Gaza transmitiu ao Egito uma lista de 4.000 feridos que precisam de tratamentos que não estão disponíveis no território palestino, informou à agência o porta-voz da pasta, Ashraf al-Qudra. "Esperamos que possam viajar nos próximos dias, porque devem ser submetidos a cirurgias que não podem ser feitas em Gaza. Temos que salvar suas vidas", disse ele.
Segundo o embaixador brasileiro na Cisjordânia, Alessandro Candeas, ainda não há brasileiros na lista divulgada hoje. "Acredito que em breve novas listas serão publicadas, e espero que nossos brasileiros estejam nelas", afirmou.
A Faixa de Gaza tem atualmente estrangeiros de 44 países e de 28 agências, organizações e ONGs, segundo fontes diplomáticas.