Milei acusa Lula de financiar adversário em eleições da Argentina sem apresentar provas
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sem apresentar provas, o ultradireitista Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina, acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de financiar a campanha de seu adversário, o peronista Sergio Massa.
As declarações foram dadas à emissora de televisão La Nación + nesta segunda-feira (6), a 14 dias do segundo turno das eleições. No dia 19 de novembro, os argentinos voltam às urnas para decidir entre Massa, o candidato governista, e Milei, da oposição --eles ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente, na votação do último dia 22.
Quando acusou o petista de interferir nas eleições da Argentina, Milei respondia a uma pergunta sobre um eventual aumento no preço das passagens de transporte público caso vencesse o pleito. Nos últimos dias, as telas dos trens da província de Buenos Aires amanheceram com uma tabela que comparava a "tarifa de Massa" de 56 pesos (R$ 0,30, na cotação paralela) às "tarifas de Milei e Patricia Bullrich" de 1.100 pesos (R$ 6,10).
"Quando te falam de subsídio, essa é a diferença no seu preço", dizia o anúncio. Segundo o Ministério de Transportes, as peças faziam parte de uma ação publicitária de sindicatos ferroviários. Em entrevista à mesma emissora no último domingo (5), porém, Massa reafirmou a análise de que a passagem de trem vai aumentar.
"Acho importante que a campanha seja esclarecedora: a passagem de trem sem subsídio custará 1.100 pesos. É um fato da realidade. Liberando o preço, um litro de gasolina vai custar 800 pesos", disse o candidato.
"Isso é falso, é absolutamente falso", afirmou nesta segunda Milei, que tem chamado as estratégias de Massa de "campanha do medo". "Apoiadores de Bolsonaro e alguns jornalistas do Brasil denunciaram que Lula está interferindo nesta campanha, financiando parte dela, e dentro desse pacote há um conjunto de consultores brasileiros que são os melhores especialistas em campanha negativa", disse ele.
Não é possível saber a que exatamente o ultradireitista se refere. O empréstimo de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões) que o Banco de Desenvolvimento da América Latina, o CAF (Corporação Andina de Fomento), fez à Argentina em julho, porém, pode ter motivado a fala.
Especulou-se que a aprovação do crédito teria representado uma interferência de Lula na campanha argentina --hipótese desmentida depois de demonstrado que a medida dependeu de outros países da região além do Brasil.
Além disso, um grupo de publicitários ligados ao PT tem usado sua experiência com a vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2022 para reforçar a equipe de campanha de Massa. No entanto, há estrategistas de várias outras partes do mundo, como a Espanha --onde os conservadores perderam a chance de eleger um premiê em setembro.
O reforço chegou depois das eleições primárias, em 13 de agosto, quando Milei superou as duas principais forças políticas do país, contrariando as previsões das pesquisas. No primeiro turno, porém, sua popularidade não lhe garantiu a liderança: Massa teve 36,8% dos votos; Milei, 30%.
Desde então, o ultradireitista, que ganhou projeção com comentários radicais na televisão argentina, tenta moderar seu discurso. Sobre como um eventual corte nos subsídios afetaria o preço das passagens do transporte público, por exemplo, o candidato afirmou nesta segunda que não vai empreender medidas que prejudiquem a população. "A recalibração da tarifa vai acontecer à medida que a renda melhore", disse ele.
Há perspectivas, porém, que não mudaram: o ataque ao que chama de "casta", como ele denomina pejorativamente a classe política do país, e o fechamento do Banco Central da Argentina --parte da estratégia de dolarização da economia do país vizinho.
"Ele [Massa] é o rei da casta, porque ela é formada por políticos ladrões", afirmou Milei na entrevista desta segunda. "O fechamento do Banco Central não se negocia. Ou seja, roubar é errado, portanto o Banco Central será fechado. Vamos tentar fazer isso o mais rápido possível", disse o candidato sobre o órgão financeiro.