'General inverno' destrói defesas russas na Crimeia e afeta operações militares

Por IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O tempo inclemente, marcado pela chegada de nevascas e tempestades fortes na bacia do mar Negro, segue afetando as operações militares na Guerra da Ucrânia.

Imagens de satélite da empresa Planet Labs mostram que as defesas russas na entrada da baía de Sebastopol, base da Frota do Mar Negro na Crimeia anexada, foram destruídas pelos dias de fortes ventos e chuva na região.

Elas são compostas por barcaças, cabos e redes que visam impedir a entrada de drones aquáticos e subaquáticos na região portuária. As imagens mostram o arranjo desfeito, provavelmente pelos ventos de até 144 km/h que atingiram Sebastopol no domingo (26) e na segunda (27).

Segundo o Instituto para Estudos da Guerra (EUA), navios russos foram ordenados a voltar para o porto. Em compensação, a Ucrânia disse ter detectado sinais de que dois submarinos, que não são tão afetados pelo clima, foram deslocados armados com mísseis de cruzeiros para o mar Negro.

Até aqui, 14 pessoas morreram na Ucrânia e na Rússia devido às tempestades e nevascas. Ainda há dezenas de milhares sem luz na Crimeia. A previsão é que toda a região esteja sujeita até a tornados nesta semana.

Essa chegada antecipada em um mês do "general inverno", como é conhecido o impacto do tempo congelante na história das guerras daquela área, tem afetado também operações terrestres, em especial no sul ucraniano, onde a neve não deu trégua.

No leste, contudo, a Rússia retomou nesta quarta (29) os ataques mais intensos à cidade de Avdiivka, junto à capital homônima da província de Donetsk, que está sob controle de separatistas pró-Moscou desde 2014.

Avdiivka é o centro dos interesses russos nessa reta final das ações por terra em 2023, por sua posição estratégica que facilita em tese a conquista dos 40% que faltam de Donetsk para as forças de Vladimir Putin. Num esforço secundário, os russos tomaram hoje uma vila próxima de Bakhmut, outro bastião de Donetsk que haviam conquistado em maio, reforçando sua posição.

Enquanto isso, a Ucrânia se prepara para a campanha de bombardeios com mísseis contra sua rede energética, como ocorreu no inverno passado. Em reunião da Otan em Bruxelas, o secretário-geral da aliança militar ocidental, Jens Stoltenberg, disse nesta quarta que a Rússia "amealhou uma grande quantidade de mísseis" para a tarefa.

Ele ouviu cobranças também. O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, afirmou a seus colegas presentes que Kiev só recebeu um terço das 1 milhão de peças de artilharia que haviam sido prometidas em março pela UE (União Europeia).

"Precisamos de um esforço coordenado", disse. A Alemanha já havia dito que a meta, a ser cumprida até março do ano que vem, não seria atingida, e a Otan afirma que já viu "o fundo do barril" de munição disponível para a resistência ucraniana.

Apesar do foco em defesa aérea e mísseis de precisão, a artilharia faz o grosso do serviço dos dois lados desta guerra. Um dia depois de um ataque do tipo ter matado quatro pessoas no sul ucraniano, Kiev disse ter matado com o mesmo tipo de munição cinco oficiais russos do outro lado do rio Dnieper, na região ocupada de Kherson.

No foco das cobranças também estão os Estados Unidos, principais fiadores militares da Ucrânia. A combinação do fracasso da contraofensiva ucraniana deste ano, o foco na guerra Israel-Hamas, a mudança no clima político europeu e a pressão interna no Congresso para cortar apoio a Kiev têm colocado Washington na berlinda.

Sinal disso foi a necessidade de o secretário de Estado, Antony Blinken, dizer em Bruxelas que "não vê nenhum senso de fadiga" entre os seus aliados da Otan sobre a Ucrânia, quando a verdade é exatamente o contrário.