EUA concedem asilo a viúva de Khashoggi, jornalista esquartejado na Turquia
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A viúva do jornalista saudita Jamal Khashoggi, colunista do The Washington Post que foi assassinado em 2018 por um grupo de matadores sauditas, recebeu asilo político nos Estados Unidos, segundo o jornal americano.
Ao Washington Post, Hanan Elatr disse que a decisão "mostra que há uma vítima que ainda está viva". Elatr afirmou ao governo americano que sua vida estaria em perigo se ela voltasse ao Egito, onde nasceu, ou aos Emirados Árabes Unidos, onde ela morou por 26 anos, até a morte de Khashoggi.
O caso Khashoggi chegou a abalar as relações entre EUA e Arábia Saudita. Em investigação, a CIA concluiu que o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman foi o mandante do assassinato de Khashoggi. O presidente americano Joe Biden, que havia chamado a Arábia Saudita de "Estado pária", reconciliou-se com o país no ano passado e concedeu imunidade a MbS, como é conhecido o príncipe.
De acordo com o Post, em seu pedido de asilo, Elatr informou às autoridades dos EUA que o Egito havia detido e maltratado sua família e confiscado seus passaportes por causa de seu relacionamento com Khashoggi.
Em 2018, quatro meses antes de seu assassinato, os Emirados Árabes Unidos a detiveram e instalaram um software espião em seus telefones. O país, aliado da Arábia Saudita, nega as acusações de que plantaram o programa espião Pegasus nos dispositivos de Elatr.
Khashoggi, que havia trabalhado na embaixada saudita em Washington, tornou-se um crítico contumaz da repressão de MbS.
Ele vivia no estado americano da Virgínia. Em 2018, casou-se com Elatr em uma cerimônia islâmica nos EUA. Mas eles continuaram a viver separados ?ele na Virgínia e ela em Dubai, onde trabalhava como comissária de bordo para a Emirates Airlines, segundo relato do jornal.
Elatr contou que Khashoggi decidiu se mudar para a Turquia. Ela não sabia que ele havia começado um relacionamento com outra mulher no país. Em outubro de 2018, quando Khashoggi se preparava para se casar com uma jovem acadêmica turca, Hatice Cengiz, ele foi ao consulado saudita em Istambul para pegar um documento.
Lá, foi estrangulado, teve o corpo desmembrado com uma serra e levado em partes em malas por um grupo de matadores sauditas, concluíram os investigadores.
De acordo com o Post, em julho de 2020, Elatr perdeu seu emprego como comissária de bordo quando a Emirates se recusou a renovar seu contrato. Ela foi para Washington logo depois onde se escondeu no apartamento de seu advogado por um ano e meio. Ela gastou a maior parte de suas economias e por um tempo dormia em um colchão de ar em um apartamento vazio, relatou o jornal.
Depois que Biden concedeu imunidade a MbS, encerrou-se rapidamente um processo civil nos EUA que Cengiz havia movido contra ele pelo assassinato.