Trumpista e progressista lideram bancada do Brasil no Congresso dos EUA

Por FERNANDA PERRIN

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Depois de um período de inatividade, a nova frente do Brasil no Congresso dos Estados Unidos é lançada nesta terça-feira (6) em um evento em parceria com a embaixada brasileira em Washington.

A bancada havia se desfeito em janeiro do ano passado, após a saída de seus dois líderes, e retomou as atividades apenas em setembro. Agora, a ideia com o relançamento é marcar presença no Congresso americano.

A nova formação da frente, no entanto, não escapou da polarização que marca o Legislativo, e os dois deputados que a lideram têm perfis completamente díspares: a progressista Sydney Kamlager-Dove, deputada democrata pela Califórnia e integrante da bancada negra do Congresso, e o trumpista Lance Gooden, republicano que representa o Texas e que já reproduziu alegações sem provas do ex-presidente sobre fraude eleitoral.

As frentes, ou "caucus", como são chamadas no Congresso americano, são comuns no Legislativo, e funcionam para organizar os interesses em torno de determinado tema. Assim como para o Brasil, há caucus também para Peru e Haiti, entre outros, e é habitual que o comando seja dividido pelos dois partidos.

Do ponto de vista dos países, as frentes são importantes porque funcionam como uma ponte com o Congresso que pode ser mobilizada para avançar interesses nacionais ou se defender de ações avaliadas como negativas.

"O Brazil Caucus é uma iniciativa que fortalece a relação entre o Brasil e os EUA ao engajar ainda mais o Congresso norte-americano na cooperação bilateral em todas as suas vertentes", afirma a embaixadora brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti. Neste ano, os dois países celebram 200 anos de relações diplomáticas.

Um exemplo de tema de interesse brasileiro no Congresso é a promessa feita pelo presidente Joe Biden no ano passado de repassar US$ 500 milhões ao Fundo Amazônia. Até hoje, o dinheiro não saiu do papel porque depende de aprovação do Congresso -imerso há meses em uma batalha partidária por recursos para Israel, Ucrânia e a fronteira com o México.

Questionada sobre as -baixíssimas- perspectivas de o repasse ser liberado neste ano, Kamlager-Dove admite a dificuldade.

"Ok, veja, vamos ser honestos. Nós temos republicanos que não acreditam na mudança climática. Nós vamos ter que trabalhar duro para descobrir uma forma de colocar [o repasse] em outro projeto de lei que possa ser aprovado. Isso aconteceria em um novo Congresso, quando teremos a maioria", afirma a deputada, contando com o sucesso do Partido Democrata para retomar o comando da Câmara nas eleições no final deste ano.

"O caucus nos dá a oportunidade de explorar o que podemos fazer com os membros republicanos, para que eles possam ver por que é tão importante investirmos em nossos parceiros latino-americanos", completa.

O interesse da democrata pelo Brasil vem de uma identificação cultural com a população negra -ela cita Salvador como um lugar que despertou sua atenção. Kamlager-Dove também representa um distrito com uma comunidade brasileira.

A Folha de S.Paulo tentou contato com o deputado Gooden, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Até 2022, comandavam o Brazil Caucus o republicano Darin LaHood, que entrou para o Comitê da Câmara sobre China em 2023, e a democrata Stephanie Murphy, que não concorreu a um novo mandato.

Apesar de ter deixado a frente, da qual foi codiretor desde 2019, LaHood seguiu se envolvendo com temas relativos ao Brasil: em junho, ele liderou um grupo bipartidário de deputados contrário à imposição de tarifas à importação de etanol americano pelo governo Lula.