Lula se encontra com primeiro-ministro da Autoridade Palestina e ouve que situação em Gaza é genocídio
ADIS ABEBA, ETIÓPIA (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou na manhã deste sábado (17) com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, para discutir a situação na Faixa de Gaza.
O encontro aconteceu às margens da cúpula anual da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia. Lula está em viagem de cinco dias ao continente africano.
Segundo interlocutores do governo, o representante palestino afirmou ao brasileiro que a Autoridade Palestina não possui ligações com o grupo terrorista Hamas e ainda que a situação em Gaza configura genocídio.
"Se isso não é genocídio, não sei o que é", teria afirmado Shtayyeh para Lula.
O encontro durou cerca de uma hora, em uma das salas de conferência na sede da União Africana, onde pouco depois Lula discursou como um dos líderes convidados de fora do continente.
Shtayyeh é primeiro-ministro da Autoridade Palestina, na Cisjordânia. Ele não tem influência sobre as decisões na Faixa de Gaza, que é controlada pelo Hamas. O premiê também não é o principal dirigente da Autoridade Palestina, o que cabe ao presidente Mohammad Abbas -com quem Lula já manteve uma série de conversas.
Durante o encontro, o primeiro-ministro teria agradecido a Lula por suas intervenções em favor de um cessar-fogo na Faixa de Gaza e também pela atuação do Brasil, que subscreveu ação da África do Sul na CIJ (Corte Internacional de Justiça).
Shtayyeh também afirmou que a situação in loco é muito pior do que os números internacionais apontam. Além dos 30 mil mortos palestinos, afirmou que há 9 mil desaparecidos, sob os escombros de casas e prédios destruídos com os ataques israelenses.
Lula também teria condenado diretamente ao primeiro-ministro as ações Hamas.
O primeiro-ministro, por sua vez, também teria agradecido ao brasileiro pelo gesto de ter plantado uma oliveira na embaixada da Autoridade Palestina, em Brasília. Trata-se de um símbolo de longevidade, resiliência e paz, com grande significado para o povo palestino.
O líder brasileiro também iria se encontrar com o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres. No entanto, o português acabou cancelando a sua ida a Adis Abeba e todos os compromissos que teria no âmbito da cúpula da União Africana.
No dia anterior, Lula já havia tido três reuniões bilaterais canceladas, além da participação de um evento que acabou esvaziado pois líderes africanos foram convocados para discutir a escalada de conflito na região leste da República Democrática do Congo.
A situação na Faixa de Gaza foi o principal tema da viagem de cinco dias de Lula, primeiro ao Egito e depois a Adis Abeba. No entanto, o próprio presidente minimizou o seu poder de influenciar a situação para que as partes estabeleçam um cessar-fogo.
Ao lado do ditador egípcio Abdel Fattah al-Sisi, o presidente brasileiro voltou a criticar Israel pela resposta desproporcional após ser atacado pelo grupo terrorista Hamas.
"O Conselho de Segurança não pode fazer nada na guerra entre Israel e [o Hamas na] Faixa de Gaza. A única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas me parece que Israel tem a primazia de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas", afirmou o presidente.
Ao mesmo tempo em que estava no Cairo, a cidade também era palco de negociações para obter um cessar-fogo na Faixa de Gaza, envolvendo representantes do Hamas, de Israel, do Egito, do Qatar e dos Estados Unidos.
A preocupação com os rumos do conflito aumentou nos últimos dias com o anúncio de Israel de que ampliaria as operações militares na cidade de Rafah, no sul de Gaza. Essa é na prática a única saída da guerra, por isso concentra atualmente grande quantidade de civis, entre eles mulheres e crianças, que fogem da zona de conflito.
No mesmo dia em que se encontrou com al-Sisi, o brasileiro voltou a criticar Israel durante discurso na sede da Liga Árabe. O presidente afirmou que uma ofensiva em Rafah provocaria "novas calamidades".
"Operações terrestres na já superlotada região de Rafah prenunciam novas calamidades e contrariam o espírito das medidas cautelares da Corte [Internacional de Justiça]. É urgente parar com a matança. A posição do Brasil é clara: não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino dentro de fronteiras mutuamente acordas e internacionalmente reconhecidas, que inclui a Faixa de Gaza e Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital", afirmou Lula.