Biden deve falar de aborto, democracia e porto em Gaza em discurso ao Congresso

Por FERNANDA PERRIN

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente Joe Biden faz na noite desta quinta (7) o último discurso anual ao Congresso de seu mandato sob a pressão de vender uma imagem forte e não cometer deslizes que reforcem a visão dos americanos de que ele está velho demais para comandar o país.

O discurso, conhecido como estado da união, é um dos momentos mais importantes do calendário político dos EUA -potencializado em ano eleitoral. Nele, o presidente presta contas ao Congresso e vende sua visão de futuro.

De acordo com a Casa Branca, Biden vai defender o direito ao aborto, a democracia e o sucesso do seu governo na superação da pandemia e no "ressurgimento da América".

Em resposta aos constantes ataques, principalmente de sua própria base, ao apoio de Washington a Israel, ele deve anunciar a criação de um porto temporário em Gaza para que navios possam atracar e entregar ajuda humanitária aos cerca de 2 milhões de palestinos vivendo sob bombardeio intenso de Tel Aviv no território.

Biden tem sido constantemente interrompido por protestos em seus discursos. A Casa Branca é cética quanto à possibilidade de algum tipo de manifestação entre o público altamente selecionado, composto por congressistas e seus convidados, e, ocasionalmente, juízes da Suprema Corte -mas não anula o risco.

Em contraste, o apoio ao direito ao aborto é uma pauta que une democratas, independentes e até de parte dos republicanos --o próprio Trump mantém uma posição ambígua a respeito. A revogação da garantia constitucional ao procedimento pela Suprema Corte em 2022 transformou a causa em uma bandeira popular para o partido de Biden, para prejuízo dos republicanos.

"Aqueles que se gabam de reverter Roe v. Wade não têm ideia do poder das mulheres na América. Mas eles descobriram quando a liberdade reprodutiva foi posta em votação e venceu em 2022 e 2023, e descobrirão novamente em 2024", dirá o presidente nesta quinta. "Se os americanos elegerem um Congresso que apoie o direito de escolha, prometo a vocês: eu restaurarei Roe v. Wade como a lei do país novamente."

A Casa Branca também convidou Kate Cox para assistiu ao discurso do plenário da Câmara. Do Texas, Cox batalhou contra o estado e, no limite, teve que cruzar a fronteira para interromper uma gravidez que colocava sua vida em risco.

Uma das grandes dúvidas da noite é se Biden citará nominalmente seu oponente na eleição deste ano, Donald Trump -o que quebraria uma tradição de anos. No entanto, a Casa Branca já adiantou que democracia é uma das pautas do discurso.

"Minha vida me ensinou a abraçar a liberdade e a democracia. Um futuro baseado nos valores fundamentais que definiram a América: honestidade, decência, dignidade, igualdade", dirá Biden. "Agora algumas pessoas da minha idade veem uma história diferente: uma história americana de ressentimento, vingança e retaliação. Isso não sou eu."

A menção à idade toca um dos pontos mais delicados para o presidente: 63% dos americanos não têm confiança na capacidade mental de Biden servir efetivamente como presidente. No caso de Trump, são 57%, de acordo com pesquisa AP-Norc divulgada na segunda (4).

A mesma pesquisa aponta que apenas 38% dos americanos aprovam Biden, e 61%, desaprovam. Para 57%, a economia está pior do que antes de Biden assumir o governo. Imigração, conflito entre Israel e palestinos, e a economia são os temas em que o presidente é pior avaliado.

O presidente da Câmara, Mike Johnson, convidou para o discurso policiais que se envolveram em uma briga com imigrantes em Times Square -uma forma de cutucar Biden, ressaltando episódios de violência associados a estrangeiros. Elise Stefanik, uma das cotadas para ser vice na chapa de Trump, convidou um agente de patrulha da fronteira.

Enquanto o discurso não começa, a noite já rendeu ao menos uma surpresa: a presença do deputado cassado George Santos, filho de brasileiros. Questionado por repórteres, ele disse que, como ex-membro da Câmara, ainda tem acesso ao plenário.

O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, também estará na audiência para marcar a entrada do país na Otan, segundo a Associated Press.

Depois do discurso, Biden vai fazer eventos de campanha na Pensilvânia e Geórgia, ambos estados-pêndulo.