Não podemos interferir, diz Mauro Vieira ao ser questionado sobre perseguição na Venezuela
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi questionado nesta quinta-feira (14) sobre a perseguição política promovida pelo ditador Nicolás Maduro contra a oposição na Venezuela, mas disse que o governo do Brasil não pode "interferir internamente em nenhum país".
O chanceler deu a declaração ao responder a pergunta do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que o questionou sobre a decisão do regime chavista de inabilitar a líder da oposição, María Corina Machado. Moro afirmou que o presidente Lula tem feito "pouco caso" da inabilitação de Corina e questionou Vieira se o governo em algum momento manifestou discordar da medida a Maduro.
"O ministério tomou conhecimento, informamos ao presidente [sobre medidas contra opositores]. A questão toda é que não podemos nem devemos interferir internamente em nenhum país, como nunca fizemos. Não dizemos ou ensinamos a ninguém o que ele deve fazer", disse Vieira, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores no Senado, acrescentando que o governo espera que "possa haver um entendimento" que leve a eleições justas no país vizinho.
Lula tem sido criticado por preservar Maduro mesmo diante do recrudescimento da perseguição à oposição no país. No começo de março, durante visita oficial ao país do premiê da Espanha, Pedro Sánchez, Lula colocou em dúvida o comportamento dos adversários políticos de Maduro e fez um paralelo com Jair Bolsonaro (PL).
"Pode dizer assim na Folha de S.Paulo: Lula está muito feliz que finalmente está marcada a data das eleições na Venezuela. Espero que as pessoas que estão disputando eleições não tenham o hábito de ex-presidente deste país, de negar processo eleitoral, as urnas e a respeitabilidade à Suprema Corte", afirmou Lula na ocasião.
O regime chavista anunciou recentemente as eleições para 28 de julho, data em que nasceu Hugo Chávez, líder do país até sua morte em 2013.
Durante a audiência no Senado, Mauro Vieira também falou longamente sobre a posição do Brasil em relação à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Ele destacou que o Brasil condenou os ataques realizados pelo grupo terrorista em outubro do ano passado, mas criticou duramente a resposta israelense.
Até o momento, mais de 30 mil pessoas morreram na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
"É preciso condenar e repudiar a atrocidade do ataque terrorista sofrido por Israel no dia 7 de outubro. Sim, Israel tem o direito de defender sua população, mas isso tem de ser feito dentro de regras do direito internacional. A cada dia que passa, no entanto, resta claro que a reação de Israel ao ataque sofrido tem sido extremamente desproporcional e não tem como alvo somente aqueles responsáveis pelo ataque, mas todo o povo palestino", disse Vieira.
O chanceler também fez um rápido comentário sobre a recente declaração em que Lula comparou a ação militar israelense à decisão de Adolf Hitler de "matar os judeus" --numa referência ao Holocausto nazista. A fala do petista desencadeou uma crise diplomática com Israel e também gerou críticas no front doméstico, entre a comunidade judaica e no Congresso Nacional.
Vieira disse que declarações de Lula ocorreram num contexto de "profunda indignação". "Palavras que expressam a sinceridade de quem busca preservar e valorizar o valor supremo, que é a vida humana", disse.