Economia
:::06/02/2004
H? cerca de 12 anos, elaborando relat?rios que servem de base no fechamento
de neg?cios para grandes clientes em S?o Paulo, Rio de Janeiro e no
exterior, o economista Andr? Zuchi, a convite da revista Pauta Econ?mica,
faz uma an?lise sobre o tema. Ele acredita que o empr?stimo tem o seu lado
bom porque permite que as pessoas adquiram coisas que n?o podem comprar ?
vista. O lado ruim s?o as taxas de juros consideradas por ele exorbitantes
que fazem com que algumas pessoas paguem duas vezes o que pegou emprestado.
Uma sa?da seria "dar algo como garantia porque assim os juros caem
assustadoramente". O cr?dito ? uma forma de aquisi??o de bens imposs?veis de serem comprados
com o que se ganha. Vale a pena obter cr?dito para esse fim? Andr? Zuchi: Sim. O cr?dito ? uma forma de antecipar o consumo,
principalmente de bens de alto valor, como autom?veis, casa,
eletroeletr?nicos etc? No Brasil, com a m? distruibui??o de renda e, nos
?ltimos anos, com queda da renda real, o consumidor vem utilizando
fortemente o cr?dito como forma de se obter quaisquer bens e servi?os, mesmo
pagando um alto pre?o, representado pelas elevadas taxas de juros. Com os
n?veis de taxas atuais n?o vale a pena se financiar para adquirir bens e
servi?os. Mas temos que observar que para a grande maioria da popula??o ? a
?nica forma de se adquirir bens e servi?os. ? uma quest?o estrutural de nova
economia, s?o anos e anos de distor?es e aventuras econ?micas. Qual seria a outra sa?da para o brasileiro?
Andr? Zuchi: Poupar para adquirir o bem posteriomente e de
prefer?ncia ? vista. Nas economias ditas desenvolvidas os consumidores
utilizam o cr?dito em sua maioria para adquirir bens de grande valor, como
casas, carros, barcos etc? N?o ? o nosso caso, infelizmente. Para os demais
bens a regra por l? ? poupar, aplicar o dinheiro, e posteriormente comprar o
bem, coisas de d?cadas de estabilidade econ?mica e pol?tica. Hoje dizem que o controle das contas ? primordial e at? o Governo est?
gastando menos do que ganha, visto que o super?vit esta cada vez maior. Isso
? verdade? Por qu??
Andr? Zuchi: Sim. Devemos controlar os gastos, as despesas, como uma
forma de mantermos o or?amento equilibrado. Aumentar renda numa realidade
como a atual, com elevado n?vel desemprego ? muito dif?cil. Se o Governo
seguir a racionalidade econ?mica de gastar sempre menos do que arrrecada, ao
longo de d?cadas, talvez consiga equilibrar seu or?amento, pagar menos juros
da d?vida e reduzir sua participa??o no PIB, estabelecendo a credibilidade
necess?ria e duradoura para um crescimento virtuoso. Essa pol?tica superavit?ria ? salutar para o pa?s ficar fora da crise que
se encontrava? Mas isso pode ser desvantajoso do ponto de vista da
desmesurada carga tribut?ria que incide nas empresas?
Andr? Zuchi: Sim, ? extremamente importante o governo sinalizar, por
meio de super?vits, que est? disposto a cumprir seus compromissos com a
sociedade, isto ? pagar sua enorme d?vida . A credibilidade ? a chave desta
quest?o, temos que acreditar que o governo tem credibilidade, ou seja ? um
devedor que honra'ra seus compromissos com a sociedade. N?o devemos nos
esquecer que em ?ltima inst?ncia, enquanto sociedade, somos o grande credor
do governo. Estamos colocando nossa poupan?a a disposi??o do governo. Por?m
o governo sempre busca o lado mais f?cil, ou seja aumentar tributos como
forma de equilibar seu or?amento. Deveriam buscar reduzir gastos, aumentando
a efici?ncia e efic?cia no uso dos recursos. O grande problema n?o ?
quantidade e sim a qualidade do gasto p?blico. O desperd?cio ? gigantesco,
incalcul?vel. O aumento da carga tribut?ria leva a uma redu??o do consumo,
por parte dos consumidores e dos investimentos, por parte dos empres?rios,
dificultando o ciclo de crescimento virtuoso, como gostam de dizer os
economistas. E quanto aos investimentos p?blicos? Em segundo plano? Isso pode ser uma
das causas do constante aumento dos ?ndices de desemprego?
Andr? Zuchi: Este ? o n? da quest?o, no meu entender. O governo
perdeu sua capacidade de investimento ao longo dos anos. Hoje o or?amento,
em quase sua totalidade, ? para pagar as despesas correntes, gastos com
pessoal e previd?ncia, por exemplo. As elevadas taxas de juros, associadas
ao baixo poder de investimento do governo dificultam a retomada do
crescimento em bases s?lidas e duradouras. Com isso, fica quase imposs?vel a
redu??o de forma r?pida dos n?ves de desemprego a curto prazo. No caso da pessoa f?sica, como se organizar para viver dentro do
or?amento dom?stico?
Andr? Zuchi: ? uma pergunta dif?cil de ser respondida. Sempre, quase
como uma religi?o, manter os gastos sobre controle, nunca gastar mais do que
se ganha. O que norteia os gastos s?o as receitas. Gantar sempre no limite
do que se ganha e, se poss?vel, um pouco menos, guardando parte dos recursos
para as eventualidades. Vale a pena lan?ar m?o do cheque especial para cobrir buracos no
or?amento?
Andr? Zuchi: Se for necess?rio obter recursos para cobrir gastos
eventuais, que fugiram da previs?o, buscar a menor taxa de juros poss?vel.
E, segundo pesquisas de mercado, a taxa do cheque especial est? entre as
maiores. E o cart?o de cr?dito, ? um buraco sem fim?
Andr? Zuchi: Jamais usar o cart?o de cr?dito para financiar as
compras ou usar o cr?dito rotativo. As taxas do cart?o est?o entre as mais
altas praticadas no mercado. Quando realizar compras com o cart?o, planejar
de forma a quitar tudo no vencimento. O cart?o funciona como uma antecipa??o
do cr?dito, portanto dever? ser quitado no m?s seguinte. Dada a facilidade e
o crescente uso pelos estabelecimentos em geral, torna-se uma arma contra os
que n?o t?m o h?bito de planejar os gastos e adequ?-los ao or?amento. Como os altos juros mantidos pelo Governo afetam a vida do brasileiro?
Voc? prev? uma queda da selic a curto prazo?
Andr? Zuchi: A n?o ser por algum acidente de percurso, como uma
inesperada alta da infla??o, a tend?ncia da taxa de juros b?sica da
economia - a chamada taxa SELIC, ? de baixa, mas em ritmo menor. Dado a
elevada d?vida p?blica e a necessidade do Governo em remunerar seus t?tulos
de forma atraente, a manuten??o da taxa de juros em n?veis elevados
dificulta a retomada do crescimento, pois tornam o retorno do investimento
realizado menor que uma simples aplica??o em t?tulos p?blicos. Sem
investimentos, o crescimento virtuoso, de longo prazo, n?o acontece e,
portanto, o n?vel de desemprego continua alto, afetando muito a vida de
todos os brasileiros. Para melhorar de forma definitiva e substancial, ?
fundamental um crescimento vigoroso, consistente e duradouro. Como o senhor avalia os programas de microcr?dito?
Andr? Zuchi: Infelizmente, eu acho que ainda n?o decolou. Mas, ?
importante porque muitas pessoas que precisam do cr?dito n?o t?m acesso a
rede formal, que s?o os grandes bancos porque n?o t?m conta corrente ou como
dar garantia. Elas ficam ? margem do sistema de cr?dito como um todo. A?
este incentivo que o Governo est? come?ando a dar, onde as pessoas pegam
pequenas quantias a um custo muito menor, ? fundamental. Estimular o cr?dito
quer dizer estimular o consumo. Aumentando o consumo, as pessoas v?o
produzir mais e poder empregar mais.
Desir?e Couri e Andr?ia Nascimento
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