Juros altos X Inflação de alimentos - C?mbio apreciado X Inflação de Serviços
Juros Altos X Inflação de Alimentos
Câmbio Apreciado X Inflação de Serviços
Ao longo das minhas aulas de introdução à economia e de macroeconomia tenho discutido com meus alunos os instrumentos utilizados pelo governo para conter a alta dos preços. Um deles é a âncora cambial, que corresponde ao controle da inflação através da taxa de câmbio apreciada, ou seja, a valorização da nossa moeda torna os preços dos produtos importados mais baratos. E tais, quando entram no País contribuem para aumentar a competição com os produtos brasileiros e com isso, auxiliam no controle de preços. A questão é a seguinte: será que este instrumento auxilia a combater a inflação quando esta é puxada pelo aumento do preço dos serviços, como reajustes dos aluguéis, dos estacionamentos, de pinturas de veículos, de diaristas, de pedreiros, de cabeleireiros, de marceneiros entre outros prestadores de serviços? A mobilidade de mão de obra ainda não permite a importação de serviços com a mesma facilidade que se importam bens e com isso, o câmbio apreciado não auxilia muito a combater esse tipo de inflação.
O outro instrumento adotado pelo governo é a âncora monetária, que corresponde à prática de juros altos para combater a inflação. Fato corroborado pelos últimos aumentos da SELIC (que hoje se encontra a 11,75% ao ano). É fato que juros altos contribuem para desaquecer a demanda de consumo, mas será que esse instrumento auxilia a controlar os preços quando a inflação é puxada pelo aumento dos preços dos alimentos (carne de boi, açúcar, óleo de soja, feijão, entre outros itens de primeira necessidade)? Será que a demanda por alimentos diminui com juros mais altos? Uma vez que estes produtos são mais inelásticos-preço da demanda (são essenciais e possuem pouca ou nenhuma possibilidade de substituição por outros alimentos) fica muito difícil juros altos diminuírem a procura por alimentos.
Aí, o que podemos fazer numa situação como essa? No caso da prestação de serviços, caso não haja urgência, poderemos adiar a demanda pelo profissional, procurar um imóvel mais barato e pesquisar preços com outros profissionais. Com relação aos alimentos, o combate ao desperdício passa a ser fundamental. Se em épocas de preços mais baixos, o desperdício deve ser evitado, numa situação como a atual, o mesmo passa a ser extremamente importante.
E o governo, o que pode fazer? No curto prazo, o mesmo não tem muitas alternativas. A alta dos juros e o câmbio apreciado auxiliam a controlar preços de alguns bens. Como a inflação é uma média aritmética da variação de preços de bens e serviços, esse valor médio poderá apresentar redução nos próximos meses, mesmo com o preço dos serviços e dos alimentos em alta. Com relação ao longo prazo, os investimentos em infraestrutura e a qualificação da mão de obra poderão propiciar ao País ofertar bens e serviços para atender a uma demanda crescente sem grandes preocupações com a volta da inflação. E tem mais, uma redução na carga tributária ajudaria e muito a diminuir os custos de produção e com isso, os preços finais dos bens e serviços.
Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá, Universo e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas a instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira.