Juros altos X Inflação de alimentos - C?mbio apreciado X Inflação de Serviços

Por

Fernando Agra 9/3/2011

Juros Altos X Inflação de Alimentos

Câmbio Apreciado X Inflação de Serviços

Ultimamente a inflação tem tirado o sono da equipe econômica do governo, bem como tem preocupado os consumidores que, quando vão às compras nos supermercados se deparam com alimentos cada vez mais caros como também quando precisam da prestação de serviços, têm pago cada vez mais. Será que os juros altos e o câmbio apreciado conseguirão conter essas altas de preços?

Ao longo das minhas aulas de introdução à economia e de macroeconomia tenho discutido com meus alunos os instrumentos utilizados pelo governo para conter a alta dos preços. Um deles é a âncora cambial, que corresponde ao controle da inflação através da taxa de câmbio apreciada, ou seja, a valorização da nossa moeda torna os preços dos produtos importados mais baratos. E tais, quando entram no País contribuem para aumentar a competição com os produtos brasileiros e com isso, auxiliam no controle de preços. A questão é a seguinte: será que este instrumento auxilia a combater a inflação quando esta é puxada pelo aumento do preço dos serviços, como reajustes dos aluguéis, dos estacionamentos, de pinturas de veículos, de diaristas, de pedreiros, de cabeleireiros, de marceneiros entre outros prestadores de serviços? A mobilidade de mão de obra ainda não permite a importação de serviços com a mesma facilidade que se importam bens e com isso, o câmbio apreciado não auxilia muito a combater esse tipo de inflação.

O outro instrumento adotado pelo governo é a âncora monetária, que corresponde à prática de juros altos para combater a inflação. Fato corroborado pelos últimos aumentos da SELIC (que hoje se encontra a 11,75% ao ano). É fato que juros altos contribuem para desaquecer a demanda de consumo, mas será que esse instrumento auxilia a controlar os preços quando a inflação é puxada pelo aumento dos preços dos alimentos (carne de boi, açúcar, óleo de soja, feijão, entre outros itens de primeira necessidade)? Será que a demanda por alimentos diminui com juros mais altos? Uma vez que estes produtos são mais inelásticos-preço da demanda (são essenciais e possuem pouca ou nenhuma possibilidade de substituição por outros alimentos) fica muito difícil juros altos diminuírem a procura por alimentos.

Aí, o que podemos fazer numa situação como essa? No caso da prestação de serviços, caso não haja urgência, poderemos adiar a demanda pelo profissional, procurar um imóvel mais barato e pesquisar preços com outros profissionais. Com relação aos alimentos, o combate ao desperdício passa a ser fundamental. Se em épocas de preços mais baixos, o desperdício deve ser evitado, numa situação como a atual, o mesmo passa a ser extremamente importante.

E o governo, o que pode fazer? No curto prazo, o mesmo não tem muitas alternativas. A alta dos juros e o câmbio apreciado auxiliam a controlar preços de alguns bens. Como a inflação é uma média aritmética da variação de preços de bens e serviços, esse valor médio poderá apresentar redução nos próximos meses, mesmo com o preço dos serviços e dos alimentos em alta. Com relação ao longo prazo, os investimentos em infraestrutura e a qualificação da mão de obra poderão propiciar ao País ofertar bens e serviços para atender a uma demanda crescente sem grandes preocupações com a volta da inflação. E tem mais, uma redução na carga tributária ajudaria e muito a diminuir os custos de produção e com isso, os preços finais dos bens e serviços.



Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá, Universo e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas a instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira.