O valor de um centavo (parte 2)
O valor de um centavo (parte 2)
Quando escrevi a parte 1 deste tema, eu era mais radical com relação ao valor econômico de um centavo e o exigia em todas as minhas compras. Hoje em dia, estou mais relax com essa situação. Sei que a moeda de um centavo está escassa e procuro utilizar a lei da compensação. Por exemplo, se uma compra totalizou R$ 9,98, eu não faço questão do troco de dois centavos, pago R$ 10. Mas se a compra foi de R$ 9,97, caso a empresa não possua o troco exato, a mesma deve me devolver R$ 0,05. Acredito que essa é uma boa forma para ambas as partes, vendedores e consumidores. Entretanto, há estabelecimentos comerciais que não fazem assim e sempre arredondam as contas para um valor maior, ou seja, em geral ficam com o troco dos clientes. Nesses casos, volto ao radicalismo discutido no início do parágrafo e exigo o troco correto sempre.
Foi assim que aconteceu há poucos dias, quando fui almoçar em um restaurante a quilo no Centro de Juiz de Fora (depois conto qual foi o restaurante, em off). Ao somar a minha conta, a funcionária disse que o valor total foi R$ 29,90. Paguei no cartão de crédito. Como de praxe, pedi uma calculadora emprestada à funcionária e refiz a conta e o valor correto era R$ 29,88. Caso eu tivesse pago em dinheiro, não faria questão dos dois centavos de troco. Mas, uma vez que paguei no cartão de crédito, por que a funcionária arredondou a conta para um valor maior? Acredito que é o mau hábito de sempre ficar com o troco dos clientes. Nesse caso, pedi o troco e a mesma, num tom bem indelicado, questionou-me: "- Mas são apenas dois centavos!". Eu disse para a mesma que o meu objetivo principal não era o financeiro, mas que estava indignado com a atitude dela em me notificar um valor maior, sabendo que eu ia pagar no cartão de crédito.
A maneira como ela me devolveu os dois centavos de troco (por incrível que pareça, ela tinha dois centavos no caixa!) demonstrou que a intenção era causar meu constrangimento diante dos demais clientes que aguardavam na fila. Esse é um processo de inversão de valores, que eu destaquei no artigo escrito há sete anos. Eu que estou certo, passo a ser encarado como errado, muquirana, pão-duro, entre outros adjetivos. E ela que está errada em ficar com o meu troco, passa a ser a certa, pois acredita que dois centavos não valem coisa alguma. Valem sim! Além do valor financeiro, tem o valor moral. O valor da honestidade. O valor de respeito ao cliente. Ao final, procurei o gerente do estabelecimento e notifiquei a situação e pedi que o mesmo orientasse melhor os seus funcionários, pois ele correria sérios riscos de perder clientes por atitudes dessa natureza.
Enfim, como destaquei no passado, quem aceita ser enganado em um centavo por muito tempo, pode, inconscientemente, aceitar que alguns políticos roubem um milhão de reais e que isso é normal. Vale ressaltar, novamente, que o valor de um centavo vai além da sua cifra financeira.
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Fernando Antônio Agra Santos é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá, Universo e da Fundação Educacional Machado Sobrinho, todas a instituições em Juiz de Fora - MG. O autor ministra palestras, para empresas, na área de Educação Financeira.