"Mindfulness" (II) é Meditação Tradicional ou Estado Psicológico?

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"Mindfulness" (II) ? Medita??o Tradicional ou Estado Psicol?gico?

"Mindfulness" (II) – Meditação Tradicional ou Estado Psicológico?

 André Salles 22/10/2016

Mindfulness vem do adjetivo inglês “mindful” que significa “estar consciente, alerta de algo”. Percebam como esta simples definição já não nos leva ao contexto religioso, embora a origem do Mindfulness venha da tentativa de traduzir a palavra Sati (“estar consciente”) do Pali (língua dos primeiros manuscritos sobre Buda). Mindfulness está associado a um “estado psicológico” e vinculado a processos mentais. Isto é importante saber. Tenhamos isto sempre em mente quando alguém tocar neste assunto. Se tivermos isto bem claro seremos capazes, por exemplo, de não confundir, jamais, Mindfulness com a Meditação Religiosa Tradicional.

Os elementos do Mindfulness, tais como abertura, não julgamento da experiência presente, estar no aqui e agora, o parar, o treinamento, a atenção plena, escaneamento corporal, etc. estão presentes na natureza humana integral como possibilidades de aplicação no campo prático e científico, distintos do contexto religioso, com finalidades de aumento da qualidade de vida do homem (bem-estar). Isto é grande! Fenomenologicamente falando, nada deve ultrapassar esta possibilidade e, atualmente, no mundo conturbado e globalizado, devemos olhar para esta aplicação com seriedade e serenidade e não como algo que resolverá todos os nossos problemas (nossa "salvação").

Segundo Jon Kabat-Zinn, um dos precursores do Mindfulness, “viver com atenção plena é abraçar toda a riqueza de sua própria vida, encontrando nela um espaço para crescer em força e sabedoria”. A expressão “atenção plena” aqui utilizada e toda sua descrição já nos dá o traço fundamental para entendermos Mindfulness como algo que é distinto do contexto religioso. Isto abre um leque para aplicações diversas em outras áreas acadêmicas. Além da Psicologia, outras disciplinas também podem utilizar do Mindfulness como aplicação para melhoria da qualidade de vida. Por exemplo, um Professor pode fazer uso das aplicações do Mindfulness e assim modular (exercer uma influência positiva) na assimilação de determinado conteúdo por seus alunos.

Quando afirmamos a necessidade da parte prática no Mindfulness e sua distinção do campo religioso, não significa que estudos ou aplicações em nível dos conceitos, como este que estamos tentando realizar através dos artigos, sejam ruins, pois é um caminho de expressão e não há como sacar isto da parte integral do ser humano. Nosso ponto de partida para entender o Mindfulness, então, não deve estar somente nos conceitos ou linguagem que realizamos para transmiti-lo. Em Mindfulness a parte prática é essencial, não pode ficar de lado.

Uma compreensão do Mindfulness no nível psicológico, não religioso, por exemplo, precisa de metodologia específica, precisa de aparatos próprios da dimensão psicológica. A observação fenomenológica da vivência ou da experiência de acompanhar o giz sem conjecturas (julgamentos) ou desejos, por exemplo, poderíamos tê-la como uma das metodologias do campo PSI para captar os elementos que envolvem a “atenção” dos seres humanos. Por isto encontramos definições de Mindfulness como vinculadas a um “estado psicológico” (estado mental). Vejam como tudo isto se distancia do campo religioso. Dada esta diferença e nossos pressupostos psicológicos, em nossos próximos artigos tentaremos esclarecer como entendemos as três dimensões básicas da natureza humana. Caso o leitor não queira acompanhar-me neste ponto-a-ponto, deixamos aqui indicado um livro que pode complementar iniciais estudos sobre a natureza prática do Mindfulness: Caderno de Exercícios de Atenção Plena, Ilios Kotsou, Editora Vozes, Petrópolis.  

André Salles é Bacharel em Psicologia pelo CES/PUC-MINAS; Pós-Graduado Latu-Sensu em Psicoterapia Fenomenológico-Existencial pela PUC-MINAS; Mestrado em área de Concentração Filosófica pela UFJF; Educador em disciplinas de Psicologia e Filosofia na Faculdade Sudeste de Minas – FACSUM - 2004/2008; Filiado à Associação Brasileira de Psicólogos Antroposóficos; Em Formação Antroposófica e Educação Waldorf – Foundation Courses and Waldorf Certificate Program - Sophia Institute – US; Gestão Por Competências pela FGV.
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