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Bandeira dois
Taxistas de Juiz de Fora dobram o movimento e chegam a faturar
R$ 150 por noite, na semana do Rainbow Fest e do Miss Brasil Gay

Chico Brinati
Colabora??o
17/08/05

Clique no ?cone ao lado e veja o depoimento de Aparecido Fagundes da Silva sobre a import?ncia do Miss Gay, em Juiz de Fora

Os taxistas, Uvilson dos Santos Vieira (foto abaixo ? esquerda) e Milton Alves Barbosa (foto abaixo ? direita), est?o ansiosos. O pr?ximo fim de semana deve apresentar os dias de maior faturamento no ano. O motivo? O grande n?mero de turistas GLS que chegam ? cidade devido ao Miss Gay e ? VIII Rainbow Fest.

"O p?blico homossexual gasta muito e n?s estamos esperan?osos. Depois de uma queda no ano passado (ocasionada pela ida do concurso para o Rio de Janeiro), acredito que este ano vamos ter um bom ganho", espera Uvilson. A "semana rosa" j? ? considerada um dos principais eventos no calend?rio dos taxistas.

Para o presidente do Sindicato representante da categoria (SCAVR), Aparecido Fagundes da Silva (foto abaixo), ? o per?odo que mais recursos financeiros traz a Juiz de Fora. Tanto que, segundo ele, mesmo os motoristas que teriam direito ? folga, nesses dias, preferem trabalhar.

"Enquanto o movimento cresce cerca de 40% nos fins de semana convencionais (em rela??o aos outros dias da semana), com o Miss Gay, o aumento ? de aproximadamente 80%", afirma Aparecido. Ele ainda lamenta o concurso ter sido realizado no Rio, em 2004. "No ano passado, o aumento foi s? de 10%", diz.

Segundo dados do Sindicato, o taxista recebe durante a Rainbow Fest, no m?nimo, R$ 150 por noite (das 17h ?s 6h), enquanto o normal ? R$ 100, em m?dia.

Aparecido exerce a fun??o de taxista desde 1979. Segundo ele, em todos esses anos de profiss?o, o maior faturamento que recebeu foi durante um Miss Gay. "Uma vez, um turista trocou, por engano, sua mala ao sair de um aeroporto, no Rio de Janeiro. Ele pagou uma viagem de t?xi para a capital fluminense (cerca de R$ 350, hoje) s? para buscar a mala. Foi o maior valor que recebi por uma corrida em toda minha carreira de taxista", afirma o presidente do Sindicato.

J? o presidente do Movimento Gay de Minas, MGM, Oswaldo Braga (foto ? esquerda), ? mais taxativo. "De quinta a domingo ? um ac?mulo de visitantes na cidade, que n?o sabem andar de ?nibus e n?o conhecem Juiz de Fora. Esse pessoal todo quer gastar seu dinheiro por aqui e para ir aos locais de seu interesse, optam pelo t?xi", diz. Segundo Oswaldo, um turista gay gasta tr?s vezes mais do que um convencional (cerca de R$179/dia, o gay, contra R$63/dia, o convencional, aproximadamente).


Vou de t?xi
O t?xi ? o ve?culo preferido pelos turistas GLS, durante as festividades. "Mesmo as pessoas que vem de carro, preferem deix?-los no hotel e saem com a gente", comenta Aparecido. Ele ainda revela uma forma de acordo que costumam fazer com esses passageiros. "? comum eles fazerem contratos exclusivos com taxistas, que ficam o dia inteiro por conta deles, como um motorista particular", explica.

"Eles devem estar capacitados para, quando um turista entrar no carro e dizer: eu quero ir ? determinada festa, o taxista o leve l?", refere-se Oswaldo, aos taxistas. Para ele, o visitante deve confiar no servi?o prestado pela categoria.

"Temos a plena consci?ncia de que os turistas n?o ser?o enganados, com os motoristas fazendo rotas alternativas s? para ganhar mais, na bandeirada", diz.

Para isso, os taxistas, em especial os que trabalham no turno da noite, est?o se preparando para receber os visitantes. O MGM vai encaminhar um of?cio para o Sindicato com toda a programa??o da VIII Rainbow Fest e os locais onde ir?o acontecer as festividades.

Conduzindo Miss... Gay!
Segundo os taxistas, o turista GLS gosta de passear pelos pontos tur?sticos da cidade. "Certa vez, peguei tr?s passageiros que me pediram para lev?-los a uma cachoeira, faturei bastante com aquela viagem", afirma Milton. Para ele, o evento, al?m de lucrativo, ? tamb?m muito divertido. "Eles s?o muito simples e extrovertidos. Para n?s ? muito bom, a gente aprende muito com eles e acaba entrando no ritmo das brincadeiras... S?o, geralmente, pessoas muito boas de se lidar", completa.

Mas nem sempre esse clima ? ameno. "No ano de 2002, o respons?vel pelo Disque-Den?ncia Homossexual de Bras?lia, Caio Varella, esteve na cidade. Pegou um t?xi do Aeroporto para o Centro e, no caminho, o taxista perguntou se era a primeira vez que ele vinha ? cidade. Quando o Caio respondeu que sim, o motorista disse: 'voc? escolheu uma p?ssima ?poca para vir, pois a cidade est? cheia de gays...' Foi uma confus?o tremenda, com pol?cia e tudo. O que queremos ? que isso n?o volte a ocorrer", conta Oswaldo.

Para ele, o motorista tem que se preparar psicologicamente para transportar passageiros homens vestidos de mulher, drags, casais de gays trocando afetos, dentre outros.

"Antes, n?s n?o est?vamos preparados para atender a demanda da ?poca do Miss Gay, agora, estamos melhorando, fazemos trabalhos, com cursos e palestras com o objetivo de orientar a classe... Hoje, essa situa??o de preconceito acontece pouco, quase n?o existe. Se algum motorista tiver alguma discrimina??o, que trate os passageiros de forma profissional, respeitando os seus direitos e as suas escolhas", diz Aparecido.

Ele ainda faz quest?o de ressaltar a import?ncia do evento para a categoria. "Estamos satisfeitos com a volta do Miss Gay, temos que torcer para que n?o saia mais daqui, pois as pessoas que trabalham em atividades relacionadas ao turismo em Juiz de Fora, como os taxistas, precisam de eventos deste tipo", completa o presidente do Sindicato.

Oswaldo faz coro: "A cidade deveria quebrar seu preconceito e assumir sua identidade de turismo GLS, deixar de insistir em outros tipos de turismo que n?o est?o consolidados por aqui e investir mais em eventos para o p?blico homossexual".