Desconforto no trabalho
Desconforto no trabalho
A terminologia Mindfulness pode deslizar como “o despertar da vontade para estar no presente momento” (Rudolf Steiner). Ou o Mindfulness foi o deslizante? Não importa se nossa mente está aberta para receber. Este despertar para estar no momento presente – pleno de consciência – é o prenúncio de que podemos nos ver livres de desconfortos que entretecem em nossos ambientes de trabalho cujas responsabilidades, por um singelo motivo de um aprendizado anterior, atribuímos a outrem. Aquilo que não entra no momento presente, dependendo da forma, é o que pode nos dar a sensação de desconforto no trabalho. É o que se opõe à centralização do ser integral.
Tentemos caracterizar um possível prolongamento na dimensão ou campo da expressão humana sem traçar pormenores sobre o normal e o patológico, pois tais pormenores se distanciam em muito daquilo que chamamos de “abertura às experiências sem o julgar”. Imaginem que estamos em nosso ambiente de trabalho e, não obstante a grande quantidade de serviços, vamos utilizar alguns minutos para buscar o que venha a ser a palavra Mindfulness, pois tomamos informações deste termo através de um programa de TV que nos tocou pelo aviso de que seria algo capaz de nos ajudar no desenvolvimento de nosso estado de saúde física, saúde mental, ou mesmo em nosso mundo Corporativo.
Pode ocorrer, durante nosso trabalho, um primeiro movimento: optarmos por buscar tais informações no mundo virtual. Assim empreendemos alguns movimentos: ligamos o computador, abrimos o navegador e chegamos ao GOOGLE e ali digitamos letra por letra M-I-N-D-F-U-L-N-E-S-S. Ou realizamos um movimento muito comum, aprendido outrora, digitando assim: “o que é mindfulness?”. Resultado: Associações, Grupos de Estudos e Aplicações do termo se nos apresentam em centenas ou milhares de resultados. Muitas vezes não percebemos este enorme resultado de nossa busca, mas ainda assim prosseguimos, em nosso entretecer, sem muita consciência do que estamos fazendo. Neste exato momento já temos configurado uma “armadilha da mente”, isto é, nossa mente já não se encontra focada no trabalho que estávamos realizando.
No início da página que nos interessou aparece uma palavra que está configurada (psicologicamente) como "parte de meu mundo”, isto é, eu vivenciei isto anteriormente. Vou tentar explicar: por exemplo, algo benéfico que era praticado por meu avô, neste caso, ‘a meditação budista’. Eu vivenciei de alguma forma a meditação budista e tenho isto em meu mundo psicológico relacional (em minha mente). Então, com o poder e a liberdade do click, em minha destra ou esquerda, dou um click no link que apontou para meu mundo relacional de interesse: “Experiência de Espiritualidade verdadeira – meditação budista”, por exemplo. Imediatamente sou direcionado para uma nova página que informa sobre como expressar minha gratidão para obter uma vida plena de sentidos. Minha mente continua “sem controle” em busca, agora, não daquilo que eu estava procurando, mas de outra coisa. Este talvez seja um dos grandes desafios da mente humana na atualidade. A grande variedade de conhecimento pode estar gerando um "BUG" dentro do ser humano, justamente por ele ter perdido sua capacidade intuitiva de outrora.
Novo click dou sobre o tema “gratidão”. Imediatamente já me encontro em uma nova página que informa a existência de somente mais uma vaga para participação em um evento, além de ser o último dia de inscrição, pelo preço de R$ 144,00. Talvez empolgado com a oportunidade desta última vaga – em não perdê-la, antes de realizar a inscrição, motivado por também ter perdido uma inscrição outrora, resolvo clicar rapidamente mais uma vez e ver um vídeo sobre o assunto no Youtube. Para minha surpresa, o vídeo oferece alguns exercícios práticos que também se relacionam com o “meu mundo próprio” (psicológico) me deixando confortável e próximo do assunto, dizendo que realizarei todos os meus ideais na vida após este curso. Mais empolgado ainda – agora já fisgado pelo “meu próprio mundo” - volto ao site e faço a inscrição no curso sobre “gratidão”, sem maiores ponderações ou atenção nos conseguintes sobre o que estou fazendo. Em seguida, o telefone toca e, distraído, deixo estes assuntos guardados na memória e retomo ao meu trabalho. Pronto, realizo o atendimento telefônico relativo ao trabalho e já estou falando sobre as olimpíadas do Rio de Janeiro... Minha mente está descentrada novamente – desconfortável. Pode ocorrer de estarmos atribuindo ao trabalho um desconforto que não é relativo ao contexto, mas sim ao nosso próprio mundo interior. O mundo hoje está repleto de conhecimentos, porém eles podem se constituir em uma distração dentro do próprio ambiente de trabalho. E, nós, podemos estar atribuindo ‘responsabilidades’ ao contexto do trabalho em lugar de atribuir a nós a perda da capacidade de centralização.