Pedro Nava
Juiz de Fora nas mem?rias de um expoente da literatura brasileira
30/06/03
De vida intelectual precoce, j? aos 19 anos, Nava era s?cio do Clube Belo Horizonte onde participava de rodas de conversas de bar. Ainda na capital mineira, participou do Grupo da Estrela, formado por, entre outras personalidades intelectuais, Carlos Drummond de Andrade e Ciro dos Anjos.
Contempor?neo de Manuel Bandeira, Vin?cius de Moraes, Pablo Neruda, Oswald e M?rio de Andrade,em 1924, Nava integrava o grupo mineiro que lan?ou A Revista, publica??o que daria in?cio ao movimento modernista no estado de Minas Gerais.
Depois de colar grau em Medicina, o ent?o Dr. Nava deixa Belo Horizonte, abalado com o suic?dio de sua namorada. Depois de morar em Monte Apraz?vel (SP), em 1933, muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Dez anos mais tarde, casa-se com Antonieta Penido e passa a residir na Rua da Gl?ria, 190, endere?o em que Nava permaneceu at? o suic?dio, em 13 de maio de 1984, aos 81 anos.
Obra de mem?rias, Ba? de Ossos conta a hist?ria dos antepassados de
origem nortista e nordestina do artista e fala tamb?m de seu estabelecimento
em Juiz de Fora e algumas experi?ncias no Rio de Janeiro. A cidade de Juiz de Fora tamb?m est? presente no segundo trabalho publicado
pelo autor. Em Bal?o Cativo, de 1973, Nava narra sua inf?ncia vivida
aqui e em Belo Horizonte. Tr?s anos depois, com Ch?o de Ferro, o
escritor d? prosseguimento ? publica??o de mem?rias. Neste livro est? o Nava
adolescente, estudante do Col?gio Pedro II, no Rio de Janeiro, e o Nava
universit?rio, da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Foi durante o processo de cria??o desse terceiro volume de mem?rias que Nava
redigiu a carta-testamento, enviada aos amigos Afonso Arinos, Jos?
Nabuco, Pl?nio Doyle e Carlos Drummond de Andrade, e a seus m?dicos ?zio
Fund?o e Renato Pacheco. A carta tinha a instru??o Para ser lida por
ocasi?o de minha morte e explicava os desejos do escritor ap?s a
morte. Por suas mem?rias, recebeu v?rios pr?mios, entre eles, da C?mara Brasileira
do Livro, Uni?o Brasileira de Escritores, do Pen Club do Brasil, da Rede
Globo e O Globo e da Associa??o Paulista de Cr?ticos de Arte. Artista diverso Admirador das artes pl?sticas, Nava tamb?m se aventurou a pintar quadros.
Seus trabalhos, por?m, n?o tinham originalidade. Ele costumava imitar o
estilo de seus artistas preferidos e se autodefinia como um "?timo
plagi?rio". A diretora do Centro de Estudos Murilo Mendes, Val?ria Faria,afirma
que o pr?prio Nava se autocriticava por plagiar as obras de artistas
modernistas, como Van Gogh. Entre os brasileiros, tinha prefer?ncia por
Tarsila do Amaral e Portinari. "Uma vez, Portinari visitou a casa do
escritor, que precisou esconder um quadro que havia plagiado do artista",
conta. Em uma passagem de Galo-das-Trevas o escritor se refere a um falso
Portinari pintado por ele: Primeiros passos Segundo Val?ria Faria, Nava desenhava no lado direito da folha e reservava o
lado esquerdo para suas anota?es e indica?es. O processo de cria??o do
artista era meticuloso e inusitado. Para fazer o que o pr?prio artista chamava de bonecos, ele utilizava uma
folha dupla, tipo papel alma?o, e datilografava do lado esquerdo da p?gina.
O lado direito era para os desenhos e para as corre?es que fazia ? m?o.
Esses bonecos serviram de inspira??o para a composi??o de seus seis livros
de mem?rias. O processo de cria??o de Nava, incluindo seus bonecos e desenhos, a
carta-testamento bem como a r?plica do apartamento em que o artista morou no
Rio de Janeiro e objetos que revelam aspectos do universo familiar do
escritor podem ser conferidos nas exposi?es NAVA, a mem?ria do
tempo, organizada pela Funalfa, e Navalha do Tempo do Centro de
Estudos Murilo Mendes. Saiba mais aqui. 2003 ? o ano em que se comemora o centen?rio de Pedro Nava, escritor cuja
import?ncia e destaque s?o reconhecidos pela literatura brasileira, embora o
pr?prio fizesse quest?o de revelar em entrevistas que n?o gostava do que
escrevia:
Atuando no campo da literatura desde 1925, quando do lan?amento d'A
Revista, foi somente aos 69 anos, em 1972, que Pedro Nava publicou seu
primeiro livro. Segundo a escritora Raquel Jardim,foi somente ap?s a
morte da m?e, no mesmo ano em que Nava come?ou a redigir suas mem?rias, que
o artista p?de deixar fluir livremente sua voca??o para as letras.
Na poesia, Nava destacou-se com o poema O defunto, de 1938, publicado
na colet?nea organizada por Manuel Bandeira, Antologia dos Poetas Bissextos
Brasileiros. Este trabalho, segundo Joaquim Nava, sobrinho do artista,
chamou aten??o de Pablo Neruda que, ao chegar ao Brasil, "queria
conhecer quem era o autor daquele poema, considerado por ele como o maior da
l?ngua portuguesa".
"Olho os objetos familiares - as reprodu?es de Rudendas, o quadro com
menino empinando papagaio que pintei - roubando as cores e as maneiras de
Portinari (...)".
Estudiosa da vida e obra do autor, a professora explica que o desenho foi a
primeira express?o art?stica de Nava. Ele come?ou a desenhar antes de
escrever e de pintar. "Desenhos em que registrava acontecimentos de sua
vida, que mais tarde, seriam relatados em seus livros", destaca.
"O meu jeito de escrita ? indecente, horr?vel, lamacento, mal escrito,
mal constru?do. Tenho que escrever melhorando o quanto posso, c? dentro de
minha franqueza".
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