Luiz Ruffato
Jornalista que já foi pipoqueiro, mecânico, vendedor de livros...
agora se dedica à arte de escrever literatura
Sílvia Zoche
Repórter
11/04/2005
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Em 1998, seu primeiro livro estava pronto: Histórias de remorsos e rancores.
A vida do trabalhador urbano foi e continua sendo o destaque dos temas dos livros de Ruffato. "As pessoas não escrevem sobre o trabalhador urbano. É muito raro", comenta.
Mas, até publicá-lo, foram diversas tentativas. "Eu não iria bancar. Só lançaria se tivesse uma editora", diz. E, enviou o pedido para vinte. "Quinze nem sequer me deram resposta e as outras cinco disseram não", conta. Como é persistente, antes de viajar para Europa, decidiu enviar a proposta para mais vinte editoras. Três delas se interessaram e Ruffato pôde escolher.
O livro foi bem vendido e a editora teve interesse em publicar o segundo, intitulado como (os sobreviventes). "Quando escrevi o primeiro, não tinha em mente que escreveria um segundo. Foi uma conseqüência", explica.
O objetivo de Ruffato é contar histórias que viu e viveu. "Não quero agradar ninguém. Somente mostrar a vida do trabalhador urbano". Ter contato com o leitor e saber o que ele achou também é importante. "A ligação com o leitor é essencial. É o desdobramento do ponto final de um livro", diz.
Seus últimos lançamentos foram os livros Mamma, Son Tanto Felice
e O Mundo Inimigo. São dois dos cinco volumes da série Inferno Provisório, que ele, inicialmente, denomina como romance. "Sei que não é saga, não é conto, nem mesmo romance. Minha preocupação é desconceituar". Ao ser perguntado se transformou seus dois primeiros livros de contos nestes dois livros de romance, ele afirma que não. "Não é uma mera apropriação. À medida que são construídos, é importante que sejam desconstruídos", explica.
O que Ruffato espera, atualmente, é continuar a ser escritor e não mais jornalista, porque sua vida, antes de 1996, foi bem diferente.
Antes de ser escritor
Parece incrível - e é - Ruffato ter passado por tantas profissões diferentes antes de realizar sua vontade de ser escritor. Como ele diz, a decisão pela literatura foi intuitivamente anterior e racionalmente posterior. Intuitivamente, por ter escrito um livro de poemas, em 1979, O Homem que tece.
Nascido em Cataguases, em fevereiro de 1961, Ruffato decidiu vir para Juiz de Fora estudar, em janeiro de 1978, influenciado por dois amigos. Fez o 3º ano do segundo grau e trabalhou em uma oficina mecânica. "Esse ano eu vivi para estudar e trabalhar". A escolha por Comunicação Social foi traçada pelo destino (pra quem acredita) ou pelo acaso. "Quando fui me matricular no cursinho, tinha um rapaz na minha frente. Perguntaram pra ele que curso faria no vestibular. Ele disse Comunicação. Quando me perguntaram, disse Comunicação também. Se o menino tivesse dito Medicina, eu também teria falado", lembra.
Ruffato conta que não passou por boas escolas em Cataguases e, por isso, teve muita dificuldade durante o cursinho. Mas sua determinação o fez passar em 1º lugar. "Eu não queria ser nem mecânico, nem operário têxtil novamente".
Assim que entrou para faculdade, começou a trabalhar no jornal Diário Mercantil, onde ele diz ter realmente aprendido a ser jornalista. "Aquele ano (1979), o jornal estava fechando e eu fui desde repórter iniciante a chefe de redação".
Para Ruffato, Juiz de Fora foi fundamental para sua formação intelectual. "Foi aqui que descobri que a ditadura estava instalada no Brasil". Mas, de 1984 a 1996, não escreveu nada literário. Em 1985, trabalhou no jornal Tribuna de Minas, em 1986 foi para São Paulo. Em 1887, voltou para JF e tentou montar uma assessoria de imprensa, que não deu certo. Foi ser, então, vendedor de lanchonete. Em sua "peregrinação", Ruffato voltou para São Paulo e trabalhou no Jornal da Tarde. "Por seis anos, fui secretário de redação. Ganhava muito bem, mas, em 2003, decidi largar o jornalismo". E, assim, ele espera que seja definitivamente.