Filho de pastor tomará posse na vaga de Gabriel Monteiro na Câmara do Rio
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Matheus Gabriel Silva, conhecido como Matheus Floriano (PSD), 37, tomará posse nesta terça-feira (23) como vereador do Rio de Janeiro na vaga de Gabriel Monteiro (PL), que teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar na última quinta-feira (18).
Funcionário comissionado no governo estadual, Floriano usa o sobrenome do pai, Francisco Floriano, ex-deputado federal e candidato ao mesmo cargo pela União Brasil. O pai do novo vereador é pastor da igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago.
A cassação do mandato Monteiro, ex-policial militar e youtuber eleito em 2020, ocorreu após ele ser investigado sob suspeita de praticar sexo com uma adolescente e de forjar vídeos para seu canal no YouTube. Em junho, foi denunciado por suspeita de assédio e importunação sexual contra uma ex-assessora de seu gabinete.
Antes de assumir a cadeira de Monteiro, Matheus Floriano estava empregado na Secretaria Estadual de Trabalho e Renda. A convocação do novo vereador foi oficializada na edição desta segunda (22) do Diário Oficial da Câmara.
Com 7.086 votos nas eleições de 2020, Floriano era o segundo suplente do PSD, partido pelo qual Monteiro se elegeu antes de migrar para o PL.
Esta é a segunda passagem de Floriano pela Câmara. Ele já havia assumido como vereador entre 2019 e 2020.
Monteiro teve o mandato cassado por 48 votos a 2, um do próprio ex-vereador e outro de Chagas Bola (União). Carlos Bolsonaro (Republicanos) não votou porque está de licença.
O Conselho de Ética da Câmara destacou três pontes no relatório de cassação: o vazamento de cenas de sexo com uma adolescente de 15 anos; a ameaça contra um homem em situação de rua; e a manipulação de vídeos para expor uma criança em situação de vulnerabilidade.
Trechos não editados de vídeos do canal de Monteiro mostravam manipulações feitas pela equipe do ex-vereador.
Em um deles, funcionários oferecem dinheiro a um homem para que ele aceite furtar a bolsa de uma mulher e o ameaçam durante a cena.
Em outro, o agora ex-vereador orienta uma criança para ela dizer que passaria fome, caso o ex-vereador não oferecesse refeição.
O caso do vazamento de um vídeo em que Monteiro mantém relações sexuais com uma menor de 15 anos foi alvo do processo de cassação e de investigação na 42ª DP (Recreio).
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil não respondeu sobre o andamento do inquérito. Sobre o vazamento do vídeo, a defesa do ex-vereador, em nota, afirmou que a adolescente disse que tinha 18 anos.
O ex-vereador também é réu na Justiça por importunar e assediar sexualmente a ex-assessora Luiza Caroline Bezerra Batista, em denúncia feita pelo Ministério Público do Rio.
Em depoimento ao Conselho de Ética, a ex-funcionária afirmou que era alvo de assédios de Monteiro, que a obrigava a manter contatos íntimos. A defesa de Monteiro diz que as afirmações de Luiza são fantasiosas.
Monteiro continua candidato a deputado federal. Isso acontece porque o registro de candidatura foi feito no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) antes da perda do mandato.
"A cassação não gera efeito automático. A inelegibilidade tem que ser reconhecida pela Justiça Eleitoral. Ele havia pedido o registro de candidato antes de ser cassado. A Justiça Eleitoral vai continuar examinando o registro", diz Silvana Batini, professora de Direito Eleitoral da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Batini afirma que há risco de que os votos de Monteiro sejam anulados. "Se o TSE julgá-lo inelegível, os votos dele são jogados fora e não irão nem para ele nem para o partido", diz a professora, que avalia como "clara e evidente" a inelegibilidade do ex-vereador.
A reportagem procurou o diretório do PL no Rio e o presidente estadual do partido, o deputado federal Altineu Côrtes, mas eles não se manifestaram.