Campanha de Ciro defende uso de tecnologia para acompanhar paciente no SUS

Por LUANY GALDEANO

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A campanha de Ciro Gomes (PDT), candidato à Presidência, defende a digitalização da saúde para facilitar o acompanhamento da jornada do paciente.

Segundo Denizar Vianna, representante do presidenciável, o custo de instalar cabos conectando as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) do país seria entre R$ 240 milhões e R$ 250 milhões, valor que corresponde a cerca de 2% do total de R$ 189 bilhões destinados à área neste ano pela União.

Vianna participou nesta quinta (25) de sabatina promovida pela Folha. Médico, ele é professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj. Foi secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde de 2019 a 2020, na gestão de Luiz Henrique Mandetta.

A medida ajudaria o profissional de saúde de áreas mais remotas, ainda não conectadas, a ter acesso ao histórico do paciente.

Essas informações auxiliariam no encaminhamento à atenção primária e ao atendimento especialistas, de média e alta complexidade. A ideia é integrar dados do paciente em uma mesma plataforma, no chamado prontuário digital.

Vianna diz que o sistema de dados integrados também permite acompanhar o que acontece com o paciente depois do atendimento em si. Ou seja, se ele volta a buscar um médico e quais medicamentos foram prescritos, por exemplo.

A tabela do SUS, que estipula o valor de procedimentos médicos, também pode ser alterada com os sistemas de informação, segundo o médico. Vianna defende que, ao acompanhar os dados do paciente, é possível criar uma logica de remuneração baseada em resultados.

Outra proposta da campanha de Ciro Gomes é a alteração do modelo de governança do complexo industrial da saúde, hoje vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos, dentro do Ministério da Saúde.

Vianna sugere levar essa secretaria à Casa Civil, para que haja integração com outros ministérios (como da Economia e da Justiça e Segurança Pública). O médico também considera que o complexo não pode ser voltado apenas para a produção, mas também para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação.

"Temos massa crítica para fazer pesquisa e temos que fomentar isso para tornar política de Estado", diz.

Para reduzir desigualdades, a campanha também defende a centralização da compra de insumos de alto custo no Ministério da Saúde. Estados seriam responsáveis pela remuneração de cirurgias e procedimentos de valor mais baixo.

Segundo Vianna, a prioridade de Ciro é revogar teto de gastos e criar modelo alternativo de controle de despesas da união, com o objetivo de atingir 6% do PIB direcionado à saúde.

Para isso, uma das possibilidades seria vincular os gastos da União com a saúde, como acontece com estados e municípios, onde parte da arrecadação é direcionada à área. A campanha propõe encaminhar 15% da receita corrente líquida à saúde.

Impostos sobre alimentos que podem ser danosos, como os ultraprocessados, e as bebidas alcoólicas, entrariam na reforma tributaria prevista no plano de governo do candidato do PDT, de acordo com Vianna.

Ele apoia ainda uma ação coordenada de saúde, que inclui colaboração entre os ministérios para formular políticas com o objetivo de reduzir o consumo desses produtos.

Já para facilitar o acesso ao atendimento especializado, um gargalo do SUS, a campanha propõe ainda transformar hospitais de pequeno porte em policlínicas.

Vianna foi o segundo convidado de uma série de sabatinas sobre saúde promovida pelo jornal, com patrocínio da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa). Os eventos são mediados pela repórter especial Cláudia Collucci.

Na sexta-feira (26), às 15h, a entrevista é com o senador por Pernambuco Humberto Costa (PT), representante de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A equipe do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), foi convidada, mas optou por não enviar um representante.

A saúde é o tema que mais preocupa os brasileiros. Pesquisa do Datafolha feita em julho deste ano apontou que 20% consideram a gestão da saúde o maior problema do Brasil. Economia (13%), desemprego (10%), fome/miséria (10%) e inflação (9%) aparecem em seguida.