Suspeitos de roubar idosa dona de quadros de Tarsila depõem no Rio

Por MARIANA MOREIRA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Quatro suspeitos de aplicar um golpe milionário e manter uma idosa em cárcere privado no Rio de Janeiro prestaram depoimento à polícia nesta quinta-feira (11), um dia após serem presos em operação que resgatou obras de arte desviadas pelo grupo, incluindo pinturas de Tarsila do Amaral.

O rombo causado pelo grupo é estimado em R$ 725 milhões, valor obtido com quadros, joias e pagamentos.

Sabine Boghici, filha da vítima, Geneviève Rose Coll Boghici, 82, e as falsas videntes Rosa Stanesco Nicolau e Jacqueline Stanescos deixaram a Deapti (Delegacia Especial de Atendimento a Pessoa da Terceira Idade) no início da tarde, após passarem a madrugada prestando depoimento.

As três foram levadas em duas viaturas para o IML (Instituto Médico Legal) para fazer exames de corpo de delito. Outro suspeito de participar dos golpes, Gabriel Nicolau, também prestou depoimento e aguardava transferência.

A polícia, até o momento, não informou detalhes sobre o conteúdo dos relatos. O grupo será indiciado por suspeita de associação, cárcere privado, estelionato e roubo e extorsão.

Sabine foi presa na casa de Rosa Nicolau, sua companheira, onde foram encontradas diversas telas embaixo de uma cama.

Os quadros faziam parte do acervo de Geneviève, que os herdou há sete anos após a morte do marido romeno Eugéne Boghici, conhecido como o marchand Jean Boghici. Sabine é filha do casal.

Sua defesa ainda não se pronunciou sobre as acusações. A reportagem tentou localizar quatro advogados que constam em outros processos em seu nome, sem sucesso.

De acordo com a Polícia Civil, a idosa foi abordada por uma mulher que se passou por Diana Vuletic, que disse ser vidente e ter visto que sua filha estava doente e morreria em breve.

"Por ter um lado místico e uma filha que enfrenta problemas psicológicos desde a adolescência, a idosa foi convencida, inclusive pela filha, a realizar os pagamentos solicitados para o tratamento espiritual proposto", divulgou a polícia.

A quadrilha de falsos videntes agia havia cerca de 20 anos e convenceu a idosa de que as obras estavam amaldiçoadas. "Quando os quadros foram retirados da casa, a cartomante Rosa convenceu a idosa de que as obras estavam amaldiçoadas", diz o delegado Gilberto Ribeiro, que foi procurado pela idosa no começo de 2021 para denunciar a situação de isolamento.

Entre janeiro e fevereiro de 2020, foram realizadas pelo menos oito transferências no valor de R$ 5 milhões. O valor total das joias roubadas é estimado em R$ 6 milhões.

Depois desses pagamentos, feitos nas contas do pai e do sogro de Diana Vuletic, a filha começou a isolar a mãe da convivência com outras pessoas e dispensou os funcionários da casa, o que fez a francesa desconfiar e parar de fazer os depósitos.

De acordo com as investigações, Sabine começou então a agredir e ameaçar Geneviève, além de negar-lhe comida, para forçá-la a fazer as transferências. Sob a desculpa da pandemia, ela não podia ver nem ligar para ninguém, a não ser as pessoas que faziam o tratamento espiritual.

A filha chegou a colocar uma faca no pescoço da mãe diversas vezes, segundo o depoimento da idosa, enquanto, ao telefone no viva voz, a companheira Rosa a mandava matar. A partir de setembro de 2020, sob essa suposta coação, foram feitos mais 38 pagamentos somando R$ 4 milhões ao filho de Rosa.

Nesse período, a mulher passou a frequentar a casa, ameaçando amaldiçoar e agredir Geneviève se ela não obedecesse. Foi aí também que a companheira da filha começou a levar objetos de valor do apartamento, incluindo os 16 quadros, dizendo que eles estavam amaldiçoados e precisavam ser rezados.

De acordo com Gilberto Ribeiro, o cárcere privado se encerrou em abril de 2021. A vítima demorou um ano até fazer a denúncia.