Explosões atingem base aérea usada pelos russos na Belarus

Por IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dia depois de uma base aérea russa na Crimeia ocupada ser alvo de um ataque devastador, explosões misteriosas atingiram um aeródromo militar usado por Moscou para ações na Ucrânia na vizinha Belarus.

A ditadura comandada por Aleksandr Lukachenko, que depois de ter seu regime questionado por protestos maciços em 2020 entrou de vez na órbita política do Kremlin, permite o uso de seu território pelas forças de Vladimir Putin desde o começo da invasão, em fevereiro.

Em nenhum momento, até aqui, forças ou equipamento belarusso foram vistas em ação na sua vizinha ao sul. Mesmo a atividade militar de Moscou refluiu consideravelmente nos últimos meses, naquilo que é visto como uma sinalização ao Ocidente: Belarus tem disputas graves com a Polônia e com a Lituânia, integrantes da Otan (aliança militar ocidental), e não estar na guerra indica algum comedimento aos vizinhos.

As explosões foram ouvidas às 23h (17h em Brasília) de quarta (10) em Ziabrovka, no sudeste belarusso. O local fica a apenas 15 km da fronteira ucraniana. Segundo a agência estatal Belta, o Ministério da Defesa disse que houve um acidente sem feridos durante o teste de um motor.

Pode ser, mas a declaração segue o protocolo de Moscou para negar a gravidade de ações contra o seu território. Na terça (9), a base aérea de Saki foi objeto de grandes explosões que a Rússia atribuiu a um acidente com munição.

Só que imagens de satélite comparativas, divulgadas no dia seguinte, mostraram que talvez metade da frota estimada de caças Su-30 e bombardeiros Su-24 no local foi destruída de forma bastante cirúrgica. Isso só se explica com o uso de armas ocidentais que Kiev não admite ter ou a ação de sabotadores.

Assim, o incidente na Belarus sugere que o governo de Volodimir Zelenski está mesmo disposto a fazer provocações públicas sobre as capacidades russas no momento em que anuncia preparativos para uma ofensiva tentando retomar áreas perdidas para Moscou no sul do país.

É uma armadilha para Putin, que não pode admitir vulnerabilidade em solo russo, ainda que anexado desde 2014 de forma não reconhecida internacionalmente, ou de seu principal aliado na Europa. Kiev, que não admite oficialmente as ações, fez piada no Twitter.

"A epidemia de acidentes técnicos em aeroportos militares na Crimeia e em Belarus deve ser considerada pelas forças russas um alerta: esqueçam a Ucrânia, tirem seus uniforme e vão embora. O carma encontra vocês em qualquer lugar", escreveu o assessor presidencial Mikhailo Podoliak.

Ziabrovka, segundo informações de inteligência de Kiev, é base de mísseis balísticos Iskander-M e seria protegida por sistemas avançados antiaéreos S-400.

A contraofensiva ucraniana se desenha contra a região de Kherson e também em Zaporíjia, província que abriga a usina nuclear homônima, a maior em operação em território europeu. Novas explosões envolvendo complexo, ocupado pelos russos desde março, geraram grande preocupação nesta quinta (11).

Os dois lados se acusaram: russos dizem que ucranianos atiraram contra a usina e vice-versa. Por óbvio, as preocupações são de um acidente nuclear no país que passou pela tragédia na usina de Tchernóbil, em 1986, quando a Ucrânia ainda era parte da União Soviética.

O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, pediu que as forças rivais parem de se enfrentar na região: uma explosão em depósito de material nuclear ou, pior, de um reator, seria catastrófica e ultrapassaria fronteiras nacionais.

Os EUA foram no mesmo sentido, pedindo a criação de uma zona desmilitarizada em torno do local. A Rússia não vai topar: trabalhos em rede elétrica sugerem que o país quer ligar a usina a uma linha de transmissão até a Crimeia, garantindo independência energética à península.