Promotoria acusa ex-chefe da Polícia Civil do RJ de planejar morte de bicheiro
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Na investigação que levou o ex-chefe de Polícia Civil fluminense Allan Turnowski à prisão, nesta sexta-feira (9), um dos crimes atribuídos a ele é a participação em um plano para executar o bicheiro Rogério de Andrade.
Na denúncia, porém, não há diálogos feitos pelo próprio Turnowski sobre a trama.
A acusação da Promotoria baseia-se em mensagens do delegado Maurício Demétrio, nas quais afirma que o ex-secretário da corporação sabia do plano, que não foi concretizado.
Procurado pela reportagem, o advogado de Turnowski, Fernando Drumond, disse que irá analisar o processo para se manifestar.
Demétrio está preso desde junho do ano passado, suspeito de comandar um esquema de cobrança de propinas de lojistas de Petrópolis, cidade fluminense da Região Serrana. No mesmo dia em que foi preso, 12 celulares que estavam com ele foram apreendidos. Dos aparelhos, foram extraídos diálogos com Turnowski.
Segundo a denúncia, o ex-chefe de Polícia "atuava de forma velada e dissimulada. Ele obtinha informações junto aos asseclas de Rogério Andrade, como Jorge Luiz Fernandes (Jorginho) e Ronnie Lessa, e repassava para Fernando Iggnácio, por meio de Maurício Demétrio e Marcelo e, com base nas informações obtidas, deliberavam estratégias para enfraquecer o grupo rival".
Lessa está preso, desde 2019, pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes. Iggnácio, apontado como bicheiro rival de Andrade, foi morto em novembro de 2020. Marcelo José Araújo de Oliveira seria elo entre Iggnácio e a Polícia Civil.
Em diálogos entre Demétrio e Oliveira, o delegado afirma que Jorginho estava com receio de ser executado por Andrade e, por isso, pagaria até R$ 3 milhões para o seu assassinato. "Três milhões? Um milhão para cada um tá bom. Acerta logo tudo, cara! Entendeu? Acho que um milhão para cada um tá bom, pô!", diz Demétrio.
Segundo os promotores, o valor seria dividido entre Demétrio, Oliveira e Turnowski.
"Os áudios trocados após aquele dia deixam claro que naquele momento Maurício Demétrio e Marcelo davam início a plano a ser executado em conjunto com Allan Turnowski. Diante do temor já manifestado, caberia ao Amigo de Israel convencer Jorginho a se aliar a Fernando Iggnácio, se voltando contra Rogério de Andrade", diz trecho da denúncia.
Amigo de Israel e Israel seriam apelidos do ex-chefe de Polícia Civil, que é judeu.
Em outra conversa, Demétrio diz que Turnowski estaria com receio de que Jorginho contasse a Andrade sobre o plano. "(...) Ele (Allan) não confia numa do cara...numa do Jorginho querer fazer média com o cara (Rogério), entendeu? É isso que ele não confia", diz para Oliveira.
Em uma terceira conversa, Demétrio afirma que Turnowski viajou, próximo à concretização do plano. "Vamos ver... só, mas só semana que vem. O Israel foi surfar em El Salvador! Putz grila, cara, o mundo desabando e o cara foi surfar em El Salvador".
O plano da execução de Andrade não foi concretizado.
A reportagem não localizou a defesa de Demétrio e a de Oliveira. Ao ser preso, ano passado, Demétrio afirmou que era inocente das acusações do esquema de propina em Petrópolis.
VÍDEO
Em vídeo gravado em agosto, após rumores de que uma operação ocorreria, Turnowski chama os promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado), responsáveis pela investigação contra ele, de "escória do Ministério Público", "arapongas" e "canalhas".
"Eu não posso investigar vocês, porque vocês são protegidos. Mas vocês não merecem a proteção que o Ministério Público tem. Vocês são a exceção, a escória do Ministério Público. Eu vou ser deputado federal e vou abrir investigação contra vocês. Vocês são canalhas, arapongas. Viveram fazendo falsos dossiês no Rio de Janeiro".
Ainda de acordo com o Ministério Público, Demétrio e Turnowski integravam uma organização criminosa em sintonia com o jogo do bicho. Demétrio teria se associado a Iggnácio para atuar como agenciador do bando dentro da Polícia Civil.
Turnowski foi secretário da Polícia Civil da gestão Cláudio Castro (PL), mas deixou o cargo para se candidatar a deputado federal pelo PL. Uma de suas bandeiras de campanha era a operação feita no Jacarezinho em maio de 2021, em que 27 pessoas foram mortas --o número de vítimas da favela integrava o número de urna do delegado.