Ensino superior privado respondeu melhor à pandemia do que o público, dizem alunos

Por ESTÊVÃO GAMBA E SABINE RIGHETTI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As instituições privadas de ensino superior podem ter sido mais rápidas e certeiras ao oferecer aulas remotas durante a pandemia de Covid do que as universidades públicas do país. Pelo menos é isso que diz uma parte significativa de quem concluiu um curso de graduação no ano passado.

De acordo com dados do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) de 2021, divulgados nesta segunda (12) pelo Inep-MEC, 70% dos concluintes no ensino superior privado presencial afirmam que sua instituição passou rapidamente a ofertar aulas remotas com a chegada da Covid. Já nas instituições públicas, a taxa dos alunos com o mesmo tipo de resposta cai para 37,8%.

Além disso, uma quantidade maior de alunos das instituições privadas, em comparação com as públicas, sinaliza que as referências bibliográficas necessárias às aulas (como livros, artigos e textos) estiveram disponíveis durante a pandemia --e que os docentes estavam preparados para adequar o ensino às novas tecnologias.

As informações fazem parte do questionário de percepção dos estudantes sobre seu processo formativo na pandemia. É uma pesquisa de opinião antiga que integra o Enade. Não afeta a nota atribuída aos cursos.

Essa foi a primeira vez, no entanto, que o questionário abordou também aspectos ligados à pandemia em 11 questões extras --afirmações com as quais os alunos teriam de concordar ou discordar (em 2020 não houve Enade; os dados do exame de 2021 são os primeiros pós-Covid).

Em todas as novas perguntas, as respostas dos alunos de cursos particulares presenciais são mais positivas do que aquelas de quem está se formando em modalidade presencial nas instituições públicas do país.

De acordo com especialistas em avaliação, dados de opinião precisam ser analisados com cautela. Isso porque instituições com alunos mais críticos podem receber avaliações piores nesse tipo de instrumento. As informações, no entanto, trazem alertas importantes.

Para se ter uma ideia, nas escolas pagas, 47,9% dos estudantes afirmam que "concordam totalmente" que sua instituição deu suporte para as dificuldades tecnológicas de acesso às atividades não presenciais. A taxa cai para 34,6% nas públicas.

No mesmo sentido, mais da metade dos concluintes nas instituições privadas (52,37%) afirma que a didática dos professores foi adequada para aulas não presenciais. Já nas públicas, apenas um terço dos alunos concorda com essa afirmação (32,7%).

Para fazer essa análise dos dados, as instituições foram agrupadas em públicas (municipal, estadual e federal) e privadas (com e sem fins lucrativos, e as "especiais" --criadas por decretos estaduais ou municipais com cobrança de mensalidade). É a mesma metodologia do RUF (Ranking Universitário Folha).

Em seguida, foi feita uma média das respostas "concordo totalmente" nas afirmações do questionário de percepção do Enade nos cursos presenciais de instituições agrupadas como públicas e privadas.

O Enade de 2021 avaliou 17 áreas de licenciaturas, dez bacharelados e três áreas de cursos tecnológicos. Ao todo, 74% dos inscritos no exame estão concluindo licenciaturas. Desses, mais da metade estão se formando em pedagogia.

O exame olha, portanto, especialmente para os cursos que formam professores. Também foram avaliados concluintes de carreiras como ciência da computação e sistemas de informação.

A maioria diz que a formação deixou a desejar na pandemia -nas escolas públicas ou privadas. E vale destacar: os indicadores abarcam apenas os alunos que estavam concluindo a graduação em 2021. Quem largou o curso na pandemia não foi ouvido.

De quem permaneceu até se formar na graduação -presencial ou a distância-, 20,7% afirmam que pensaram em trancar ou desistir por causa da pandemia nas instituições privadas. A taxa sobe para 24,3% nos concluintes das instituições públicas.

As notas do Enade 2021 divulgadas pelo governo federal mostram que o percentual de cursos a distância avaliados com a nota máxima é inferior ao de cursos presenciais. Apesar disso, é na modalidade EAD que mais tem crescido o número de matrículas no ensino superior.

As matrículas nos cursos a distância pularam de 2,5 milhões (em 2019) para 3,1 milhões (em 2020), um aumento de 27% no período. Já a quantidade de estudantes em cursos de graduação presenciais caiu 10% na pandemia.

Cerca de meio milhão de estudantes se inscreveram no Enade de 2021 (492,5 mil alunos). Desses, quase metade (235,7 mil) estava matriculado em cursos presenciais, mas passou a ter aulas remotas a partir de 2020 por causa da Covid. A maioria (67%) estudou em instituições particulares.