Tietê fica com água preta em trecho de Salto (SP)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os moradores de Salto, no interior de São Paulo, se depararam com uma mudança na cor da água no trecho do rio Tietê que passa pela cidade. Nesta quarta-feira (28), após as fortes chuvas que atingiram o estado, a cor do rio ficou preta.
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Salto, esse fenômeno ocorreu devido à abertura das comportas do fundo da barragem de Pirapora do Bom Jesus. Isso é feito para evitar enchentes quando o volume do rio na região metropolitana do estado aumenta.
Com isso, toda a lama que fica no fundo da barragem desce rio abaixo, deixando a tonalidade do rio escura, segundo a secretaria. "Esse problema começou na terça-feira [27] a noite, e agora já está em melhor condição. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente espera que a situação se normalize nas próximas horas", informa a pasta, em nota.
A Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), que administra a barragem em Pirapora, relata que como concessionária de geração de energia elétrica não avalia as causas da coloração escura no rio Tietê. No entanto, para auxiliar no processo de limpeza, a empresa afirma que, em conjunto com o Governo do Estado, retiraram 402 toneladas de lixo das grades das usinas Rasgão, Porto Góes e Pirapora, localizadas no Tietê, em 2022.
"Na barragem de Pirapora, foi iniciado, neste ano, um contrato de retirada de detritos que, até o momento, já removeu mais de 16 mil toneladas", diz a Emae.
A empresa ressalta que a operação das barragens e usinas, sobre as quais ela possui concessão no rio Tietê, ocorre estritamente com base nas regras operacionais.
"Essas usinas são construídas no modelo 'fio d?água', não sendo necessário o armazenamento de água. As comportas são rotineiramente abertas para o trânsito das águas conforme o volume, bem como a demanda do sistema hidroenergético", finaliza a Emae.
Na última quinta (22), quando foi celebrado o Dia do Tietê, a Fundação SOS Mata Atlântica divulgou um estudo que mostrou que a mancha de poluição no rio Tietê cresceu cerca de 43% em um ano e agora atinge 122 km do corpo d?água no estado de São Paulo.
Na mesma data, o governo estadual anunciou, para 2023, um programa de recuperação do rio, com investimento de US$ 100 milhões, dos quais US$ 80 milhões provenientes do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
ESCURECIMENTO DA ÁGUA É FENÔMENO ANTIGO
Esta é pelo menos a quarta vez que esse evento acontece na cidade de Salto nos últimos oito anos. A ocorrência mais recente foi em agosto de 2021, quando a água do rio também ficou escura na cidade após forte chuva na grande São Paulo.
De acordo com Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, essa situação pode ser considerada um dano ambiental. "A gente não pode culpar a chuva pela omissão do governo do estado de São Paulo. É responsabilidade dele promover o desassoreamento desses reservatórios de forma preventiva antes da chuva", afirma a especialista.
A diretora lembra que o próprio governo reconhece esse problema e anunciou investimentos para realizar esse trabalho. "Só que isso é uma espécie de enxugar gelo. Eles estão lá, retirando e limpando, mas todo dia os sedimentos, resíduos e remanescentes de esgotos estão chegando e parando ali", aponta.
Ribeiro alerta para a toxicidade dessa água preta e recomenda que a população que vive em torno do rio não tenha contato com ela enquanto estiver escurecida ou barrenta devido a substâncias contaminantes, fruto de esgoto doméstico e industrial.
"Pode trazer várias doenças para a população, que vão desde problemas de pele a diarreias ou hepatites, doenças mais graves. Também não se deve deixar que animais domésticos ou gado bebam até que ela volte a apresentar uma condição normal", orienta a diretora.
A especialista aponta ainda outro problema relacionado a esse evento. Ao correr para as cidades seguintes, onde não há tantas corredeiras, a água suja acaba ficando parada, afetando também outros locais.
"A partir de Porto Feliz, Tietê, Laranjal, Botucatu, Conchas, Barra Bonita, ele se torna um rio manso, de águas mais lentas. Então essa cor e essa poluição vão ficando nesse trecho que já vinha tendo peixes, vida aquática, vários ranchos, sítios, áreas de lazer. Prejudica então, não só a saúde, mas a economia de toda essa região", finaliza.
A reportagem procurou a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado, mas não teve retorno até a atualização desta reportagem.