Internações por Covid caem menos entre crianças de até cinco anos

Por CLÁUDIA COLLUCCI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As hospitalizações por Covid-19 caíram em todas as faixas etárias, porém a queda se mostrou mais lenta entre as crianças abaixo de cinco anos.

De acordo com informações do do Observa Infância, projeto da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), entre as pessoas com 60 anos ou mais, a média diária de internações passou de 540, entre janeiro e julho, para 315, entre julho e setembro, uma redução de 41,6%.

Na faixa etária entre 20 e 59 anos, a média passou de 216 para 103 (-52,1%). Entre 6 e 19 anos, de 22 para 13 (-38,5%). Entre 1 e 5 anos, de 24 para 18 (-22,6%). E entre os bebês com menos de um ano, de 23 para 22 (-5,47).

A reportagem publicada pela Folha de S.Paulo na quarta-feira (28) errou ao dizer que as internações de crianças pequenas por Covid no Brasil passaram a ser o dobro das de pessoas com mais de 60 anos. Essa afirmação se baseava em levantamento do pesquisador Cristiano Boccolini, coordenador do Observa Infância, projeto da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Após a publicação da reportagem, o observatório declarou ter verificado inconsistência nos dados de pessoas com 60 anos ou mais internadas. Em vez de 1.175 no período de 17 de julho a 10 setembro, como havia sido dito inicialmente, o correto é 17.331. No mesmo intervalo, foram registradas 2.205 hospitalizações de menores de cinco anos, indicando o decrescimento mais devagar de internações nessa faixa etária.

Com essa redução mais lenta, as crianças passaram a ocupar uma proporção maior no total de internados. Os idosos mantêm uma estabilidade, passando de 65% para 67%. Entre os adultos, há uma queda, de 26% para 22%. Entre as crianças abaixo de cinco anos, aumenta 50% (entre os bebês até um ano, de 2,8% para 4,6%; e de 1 a 5 anos, de 3% para 4%).

Neste ano, até 10 de setembro, foram 12,1 mil internações e 439 mortes de crianças abaixo de cinco anos por Covid. Até o momento, apenas 2,5% do público entre 3 a 5 anos tomaram as duas doses da vacina Coronavac (Butantan), aprovada em julho pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A imunização vinha ocorrendo apenas em municípios que tinham a vacina em estoque. No último dia 19, o Butantan entregou 1 milhão de novas doses ao Ministério da Saúde, que deverão ser destinadas ao público infantil.

A vacina da Pfizer, indicada para as crianças a partir de seis meses, teve aval da Anvisa neste mês. Procurado, o ministério não disse quando o imunizante estará disponível na rede pública de saúde.

"A cada dia que a gente passa sem vacina nessa faixa etária, a gente está condenando uma criança à morte por Covid, o que hoje já poderia ser evitável", afirma Boccolini, autor da análise.

O esquema de vacinação para esse público seria discutido em reunião da câmara técnica de assessoramento em imunização da Covid do PNI (Plano Nacional de Imunizações) na sexta (30), mas o assunto foi retirado da pauta porque ainda não há um posicionamento oficial do ministério sobre a quantidade de doses que estará disponível e nem o prazo para isso acontecer.

Segundo o pediatra Renato Kfouri, membro do comitê técnico do PNI e presidente do departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), esse indicativo é necessário para o grupo definir, por exemplo, quais os grupos prioritários para receber a vacina.

"É urgente essa tomada de decisão. A cada mês são mais de mil hospitalizações de crianças abaixo de cinco anos. Já tivemos mais de 12 mil hospitalizações e mais de 400 mortes neste ano. Isso não é residual. É mais do que todas as doenças do calendário infantil, mais do que pneumonia, meningite, hepatite, sarampo, que todas juntas", diz ele.

No contrato que o ministério tem com a Pfizer, há uma cláusula que permite ajustar qual o tipo de vacina a ser recebida. Estima-se que hoje o país tenha um saldo de cerca de 35 milhões de doses. Mas nem o governo e nem a farmacêutica informam como estão essas negociações.

O Brasil possui cerca de 13 milhões de crianças entre 6 meses e 4 anos e, de acordo com o esquema vacinal previsto para esse público, serão necessárias três doses (um total de 39 milhões de doses).

Porém, como as crianças entre 3 e 5 anos também podem ser vacinadas com a Coronavac, o número de doses necessárias da vacina da Pfizer cairia para 21 milhões, segundo estimativas de técnicos do ministério.

Não é a primeira vez que o governo federal cria entraves e atrasa a vacinação de crianças contra a Covid. Em dezembro de 2021, quando a Anvisa deu sinal verde para o uso da vacina da Pfizer em crianças a partir de cinco anos, Bolsonaro criticou a decisão, e atacou a agência, o que desencadeou uma onda de ameaças a seus técnicos e diretores. À época, o presidente também minimizou o número de mortes infantis pela doença.

Em 2020 e 2021, foram 1.439 óbitos de crianças até cinco anos, sendo que 48% eram de bebês entre 29 dias e um ano incompleto (pós-neonatal), uma média de 1,9 por dia.

O Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR), maior instituição pediátrica que atende o SUS no país, registrou no mês passado 50 internações e atendimentos ambulatoriais por Covid-19 de crianças entre 1 mês de vida e 4 anos. Em julho, foram outras 79.

Desde o início do ano até 10 de setembro, foram 940 atendimentos nessa faixa etária, quase metade da soma de todas as faixas etárias (1.890). No total, 21,5% das crianças estavam com a vacinação contra a Covid completa. Entre as suas mães, a cobertura está em 67% e, entre os pais, 63%.

Segundo o pediatra Victor Horácio de Souza Costa Junior, vice-diretor técnico do Pequeno Príncipe, a quantidade de internações infantis por Covid caiu bastante nos últimos meses, e os casos se concentram agora na faixa etária abaixo dos cinco anos ainda não vacinada.

Sintomas respiratórios, como tosse, febre, tosse e chiado no peito, muitas vezes associados à pneumonia, são os mais frequentes. "Em geral, as crianças não têm comorbidades, ficam internadas de cinco a seis dias e todas estão evoluindo bem", explica o médico.

Costa Júnior diz que entre as crianças menores de um ano, a maioria dos pais relata estar vacinada, mas, ao serem infectados pelo Sars-Cov-2 e apresentarem sintomas leves, acabam transmitindo o vírus aos bebês.

Enquanto não a vacina para os bebês acima de seis meses não chega à rede pública, Costa Júnior orienta que os pais que apresentarem sintomas respiratórios, como coriza e tosse, usem máscaras em casa e intensifiquem a higienização das mãos com o álcool em gel.

"Isso evita a transmissibilidade aos bebês. A gente vê que a situação melhorou bastante, mas a pandemia ainda não acabou."